Elas debulham feij�o enquanto a popula��o de Macei� dorme
ROBERTO VILANOVA Enquanto a cidade dorme, elas debulham feijão verde para ganhar a vida. São mulheres debulhadeiras que todas as noites e madrugadas, de segunda-feira ao sábado, podem ser vistas sentadas nas calçadas laterais da Central de Abasteciment
Por | Edição do dia 12/05/2002 - Matéria atualizada em 12/05/2002 às 00h00
ROBERTO VILANOVA Enquanto a cidade dorme, elas debulham feijão verde para ganhar a vida. São mulheres debulhadeiras que todas as noites e madrugadas, de segunda-feira ao sábado, podem ser vistas sentadas nas calçadas laterais da Central de Abastecimento Ceasa - trabalhando até dez horas no relento; elas abastecem o mercado de Maceió com cinco mil quilos de feijão verde por dia. Mulheres iguais a dona Gerusa, 54, natural de Palmeira dos Índios, a 140 Km de Maceió, e desde 1971 debulhando feijão verde. Antes, Gerusa debulhava feijão ao lado do antigo prédio da Sucam, na Levada; ainda não havia a Ceasa. O mercado se expandiu, trazendo a concorrência, mas dona Gerusa não se abala tem clientela cativa, como os supermercados Via Box e Sacolão. O sol é para todos, ensina, demonstrando não temer a competição. Sobrevivência São mais de 20 mulheres que sobrevivem de debulhar feijão verde; elas compram o quilo a 45 centavos preço praticado quinta-feira, 9 na bage e depois de debulhá-lo revende o produto a um real o quilo. Na prateleira dos supermercados, o valor é acrescido, podendo chegar a 2 reais. Graças ao feijão verde, dona Gerusa, que ficou viúva com dois filhos e decidiu vir para Maceió, em 1971, sustenta a família. Depois de viúva arranjei outro casamento e outro filho, que hoje está com 20 anos de idade e foi sustentado com o feijão verde. Se não fosse isso, como eu iria sobreviver em Maceió?, reconheceu. Dona Gerusa é a mais antiga debulhadeira de feijão verde em atividade e também a mais produtiva. A jornada de trabalho dela começa às 8 horas da noite e vai às 6 h da manhã do dia seguinte, de segunda-feira a sábado. Não tem feriado, não tem chuva, não tem nada que impeça o trabalho. Folga mesmo, só no domingo, diz. Dona Gerusa debulha por dia oitenta quilos de feijão; são quase quinhentos quilos por semana. Embora trabalhe há 31 anos, não demonstra cansaço. É melhor do que trabalhar na roça, compara. Eu gosto do serviço, levo tudo na brincadeira. Aqui a gente trabalha e também se diverte, contou. Ao lado, a amiga Maria, natural de União dos Palmares, com menos tempo na atividade, mas igualmente satisfeita porque pior é cortar cana. Todo mundo tem de sobreviver de um jeito ou de outro; o meu jeito é debulhando feijão, ressaltou, admitindo que dá para sobreviver com a renda do feijão.