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Nº 5759
Cidades

Rio Para�ba vira um esgoto a c�u aberto

| FÁBIA ASSUMPÇÃO Repórter As crianças que tomam banho todos os dias nas águas do Rio Paraíba, no município de Capela, a 59 quilômetros de Maceió, são vítimas em potencial da poluição que atinge o manancial. Com altos índices de poluição e tomado pelo

Por | Edição do dia 11/12/2005 - Matéria atualizada em 11/12/2005 às 00h00

| FÁBIA ASSUMPÇÃO Repórter As crianças que tomam banho todos os dias nas águas do Rio Paraíba, no município de Capela, a 59 quilômetros de Maceió, são vítimas em potencial da poluição que atinge o manancial. Com altos índices de poluição e tomado pelo assoreamento em vários trechos, o rio está morrendo. A falta de investimentos no saneamento básico nas 13 cidades alagoanas banhadas pelo Paraíba o transformaram em um esgoto a céu aberto. Só que a degradação do rio não é de agora. Povoada desde o século 17, a Bacia do Vale da Paraíba teve a maior parte de suas matas ciliares destruída, para dar lugar ao plantio de cana-de-açúcar e a pastagens para o gado. Esse processo provocou uma redução paulatina na vazão do rio. Hoje, em alguns trechos, é possível fazer a travessia do rio a pé. Durante o verão, quando a vazão do rio diminui ainda mais, as mulheres lavam roupas bem no meio do seu leito, enquanto as crianças brincam de “nadar”. As margens assoreadas do rio, tomadas também pelo lixo, servem como varal roupas. Os moradores mais antigos de Capela lembram com saudade o tempo do rio de águas caudalosas, onde a pesca era abundante. “Hoje, só é possível pegar algumas piabas e outras espécies de peixes que não pesam mais de um quilo”, diz Antônio Aparecido da Silva. Hospedado na casa da sogra, que fica num dos vilarejos da Usina João Deus, ele passa o dia às margens do rio pescando piabas. Esse também é o passatempo de muitos trabalhadores da usina nos momentos de folga. Carás, traíras são alguns dos peixes ainda encontrados.Com tarrafas nas mãos, eles passam o dia pescando, mas a quantidade de peixes que caem na rede nem sempre é muito animadora. ### Nível de oxigênio é abaixo do mínimo previsto pelo IMA No início da semana passada, técnicos do Instituto do Meio Ambiente (IMA) foram ao município de Capela para analisar as condições do rio. E havia um bom motivo para isso. No início do ano, a Usina João de Deus foi fechada pelo instituto, por ter feito despejo de dejetos industriais no rio, que provocaram uma grande mortandade de peixes. A usina só foi reaberta depois que assinou um termo de compromisso com o órgão, se comprometendo a dar uma destinação mais adequada aos dejetos da lavagem da cana. O gerente do laboratório, Manuel Messias dos Santos, explica que há cerca de quatro meses as análises das condições da água do Paraíba em Capela apresentaram dados preocupantes. De acordo com Messias, visualmente, o aspecto do rio se mostrava melhor do que quando foi feita a última análise. Um dos motivos para isso foram as medidas adotadas pela usina para não jogar mais os dejetos diretamento no rio. A medição do nível de oxigênio da água feita dessa vez comprovou a melhora nas condições da água do rio. O nível estava em 5.9, quando por uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), o nível de oxigênio deve ser no mínimo de 5.0. Já na área urbana da cidade, onde os esgotos vão parar dentro do rio, o resultado foi preocupante. O nível de oxigênio estava em apenas 1.7, mesmo assim alguns peixes ainda resistiam. “Pela quantidade de lixo e esgotos despejados no rio é possível também que as águas já estivessem contaminadas por metais pesados. Isso acaba contaminando os peixes e, como conseqüência, as pessoas que consomem o pescado do rio”, alertou Messias. FAS ### Falta de esgoto faz agravar situação de morador ribeirinho O gerente do Laboratório de Estudos Ambientais do IMA, Manuel Messias dos Santos, salienta que além das atividades industrias à margem do rio, principalmente de usina de cana-de-açúcar, entre os principais fatores para a degradação do rio estão a ocupação urbana, sem que haja investimentos em saneamento básico, e o fato de muitos matadouros dos municípios estarem situados à beira do rio. A maioria desses matadouros não obedece às normas de higiene recomendadas pelo Serviço de Inspeção Sanitária Animal. Em muitos deles, como em Atalaia, os animais são mortos no chão e a céu aberto. As vísceras e o sangue acabam indo parar nas águas do rio, sem qualquer tratamento. Em Capela, as condições do matadouro, se não são ideais, são melhores do que em Atalaia. O secretário municipal de Obras, Adelmo Moreira Calheiros, disse que o munícipio tem um projeto na Caixa Econômica Federal para implantação de um um sistema de tratamento dos dejetos do matadouro, mas que só terá capacidade para matança de 10 animais. Mas no matadouro da cidade são mortos, em média,40 animais somente em um dia da semana. Ele disse que também está para ser concluído o sistema de tratamento de esgotos na margem direita do rio, que vai garantir a despoluição de 95%. A obra deve ser concluída em 60 dias. Mas na margem esquerda do rio o problema não será resolvido, pois as casas vão continuar jogando seus esgotos dentro dele. POR ONDE CORRE Terceira maior bacia hidrográfica de Alagoas, o Rio Paraíba nasce no Estado de Pernambuco, ocupa a parte central sul do meio da microrregião homogênea de Maceió e parte meridional da microrregião da Mata Alagoana, ocupando a Zona da Mata e o Litoral. Com 2.300 quilômetros de extensão, banha 13 municípios alagoanos, atingindo uma população de aproximadamente 48.938 habitantes no campo e quando se soma à população urbana esse número chega a 103.830 pessoas. Entre os municípios banhados pelo Paraíba estão também Cajueiro, Capela, Chã Preta, Marechal Deodoro, Maribondo, Mar Vermelho, Palmeira dos Índios, Paulo Jacinto, Pilar (190 Km), Pindoba, Quebrangulo e Viçosa. FAS

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