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Nº 5759
Cidades

A magia do Natal nas brincadeiras do parque de divers�o

| CARLA SERQUEIRA Repórter Durante todo o mês de dezembro eles cruzam o Estado em caminhões coloridos. São mambembes que levam a diversão, ora para lugares longíquos da zona rural, ora para bairros periféricos das grandes cidades. Nas praças públicas, c

Por | Edição do dia 18/12/2005 - Matéria atualizada em 18/12/2005 às 00h00

| CARLA SERQUEIRA Repórter Durante todo o mês de dezembro eles cruzam o Estado em caminhões coloridos. São mambembes que levam a diversão, ora para lugares longíquos da zona rural, ora para bairros periféricos das grandes cidades. Nas praças públicas, como num abrir de cortinas para o início de um espetáculo teatral, a carroceria é escancarada e, aos olhos curiosos de adultos, crianças e idosos, ganham espaço os fabulosos brinquedos gigantes. Especialmente nas antigas festas de Natal foram escritos os melhores capítulos da história de muitos alagoanos. E o cenário não poderia ter sido mais romântico: o parque de diversões. Há pelo menos meio século, quando não havia televisão, muito menos aparelhos de DVD nas cidades interioranas, a chegada dos carrosséis, dos barquinhos e das rodas-gigantes - movidos ainda pela força do homem, era o melhor acontecimento do ano. Foi numa destas comemorações natalinas que Valéria Cristina dos Santos, 44 anos, nunca mais quis se afastar do parque. Ela morava em Messias e tinha apenas 16 anos. Os brinquedos foram instalados na praça central da cidade. Durante a estadia do parque “Os Paqueras”, seu coração foi fisgado pelo olhar do dono da brincadeira, Graudiney Moreira Mendonça. No dia 4 de novembro de 1978, o parque foi desarmado e seguiu viagem para Murici. Na boléia, Valéria foi junto. Fugiu de Messias e até hoje administra, em parceria com o esposo, o parque da família. Neste Natal, o parque “Os Paqueras” está instalado na Praça Afrânio Jorge, popularmente chamada de Praça da Faculdade, no Prado. “Não saberia morar longe disso aqui”, diz ela, mostrando os brinquedos ainda na montagem. “Conheço os quatro cantos de Alagoas. Por onde passo deixo amigos”, diz das freqüentes andanças a bordo de sua casa móvel. “Costumo dizer que moro no mundo e passeio em casa”, brinca, ao revelar que sua residência fixa é em Atalaia. Ao todo, são vinte brinquedos e 20 funcionários no parque de Valéria. “Antes os brinquedos eram mais simples. O parque para ser valorizado tinha que ter uma roda-gigante. Hoje, isso é o mínimo. Os brinquedos estão mais velozes e quanto maior ele for, mais interesse desperta na criançada”, conta a empresária, que aguarda chegar de Minas Gerais a mais nova atração de seu parque: é a Happy Mountain, uma centopéia com manobras de montanha-russa. Ela explica que teve uma severa criação religiosa e não brincou tanto na infância. “Minha satisfação hoje é ver que estou proporcionando o que não tive para muitas crianças de vários lugares. Me sinto feliz e útil levando alegria para as pessoas”. ### Na nova era, o parque ganha velocidade Na Praça Lucena Maranhão, no bairro de Bebedouro, berço das festas natalinas em Maceió, o parque que comanda a brincadeira pertence a José Josué da Silva, 45 anos. A bilheteria é de responsabilidade de sua esposa e a montagem fica a cargo de seu filho mais novo, Gadualar Rainielly Silva, 21 anos. Josué tinha somente 14 anos quando começou a trabalhar num parque na cidade de São Caetano, interior de Pernambuco. “Foi a necessidade que me levou ao parque. Eu fazia um pouco de tudo”. Na época, os populares barquinhos eram puxados por uma corda, o carrossel dependia de empurrões para rodar e a famosa “onda”, de balanços provocados por um funcionário. “Não havia sofisticação. Era tudo manual. Hoje é diferente. Quem não investir, não tem espaço. Criança nenhuma quer mais ir a um parque que não tenha, pelo menos, auto-pista ou space loop”. Ele diz que as despesas são grandes e é o mês de dezembro que traz lucro. “O ano inteiro é para manter o parque. Um dinheirinho a gente só consegue mesmo nas festas de fim de ano”, avalia Josué, que atribui as poucas contratações à proliferação de outras religiões, além da católica. “Há alguns anos não faltava lugar para armar o parque. Existia muita festa religiosa. Creio que a busca do povo por outras igrejas tenha colaborado com a decaída”, explica. Mas Josué e sua família não reclamam. “Gosto deste ofício porque adoro crianças. A gente trabalha muito, mas quando está tudo montado, é maravilhoso. Espero que meus filhos, depois de minha morte, continuem a brincadeira”. O filho Gadualar Rainielly não vacila ao responder: “Também gosto muito do parque e quero que meus filhos dêem continuidade a este empreendimento, que já virou tradição familiar”, diz ele, que é pai há quatro meses. Brinquedos importados Em pleno novo milênio, considerado a era digital, ficaram para trás os brinquedos manuais. Agora, quanto mais adrenalina, melhor. Vieram os altos tobogãs infláveis, as camas elásticas, os loops, o tapete mágico, as gigantes barcas, as montanhas-russas. Outrora construídos artesanalmente, hoje são importados, fabricados em oficinas distantes. Boa parte vem de São Paulo e Minas Gerais e chega a custar mais de R$ 100 mil, cada. “Os brinquedos são agora movidos à energia elétrica”, explica José Josué. “É um ramo trabalhoso, a gente fica pouco tempo em casa, mas dá para sobreviver. Minha família é toda sustentada pelo parque”, conta ele, que tem casa e carro próprios. No mesmo barco seguiram dois irmãos de Josué e também o filho mais velho. “São mais de vinte parques em Alagoas. Cada um deles se divide em três. Enquanto estamos aqui, montando em Bebedouro, tem alguns brinquedos na festa de Santa Luzia do Norte e outra parte em São José da Tapera”, revela Gadualar. Quem cruza com um parque montado na cidade, muitas vezes não sabe da quantidade de pessoas envolvidas. Entre outros, são pintores, mecânicos, encarregados da montagem, marceneiros. Em cada cidade, são oferecidos empregos para a bilheteria, além de abrir espaço para ambulantes.|CS ### Apesar da violência, o povo comparece Na Praça da Faculdade, na noite da última sexta-feira, José de Assis Silva, 54 anos, morador do Prado há 10, passeava em lembranças de um passado não muito distante. Ele estava diante da barraca de tiro ao alvo quando conversou com a Gazeta. “Já tive uma barraca dessas há mais de 15 anos. Aqui mesmo nesta praça”, dizia ele. “Mas hoje tudo está diferente. No meu tempo, às 17h a praça já estava tomada de gente. Agora, conta-se nos dedos os visitantes”, comenta. De fato, na praça, dona de Natais memoráveis, apesar do brilho e das cores do parque de diversão, poucas pessoas passeavam. A aposentada Renilda de Melo, 60 anos era uma delas. Na companhia da neta Vanesa Marcele, de 7, Renilda relembrou dos tempos em que as filas era longas para fazer parte da próxima brincadeira. “Acho que o movimento fraco de hoje se deve à violência. Não é todo mundo que se arrisca a sair com crianças do jeito que as coisas estão. Talvez a crise financeira seja outro fator determinante”, argumenta. Residente na Rua 21 de maio, por trás da Praça da Faculdade, Renilda contou que nos Natais de sua infância não faltavam folguedos para animar o pessoal. “Era pastoril, guerreiro, chegança. O forró também aparecia e a festa varava o dia”. Mas, mesmo com a violência, tem gente que não deixa de se render aos prazeres da diversão. Geni Lopes, 26 anos, é uma prova disso. Com 12 crianças, sendo um filho e onze sobrinhos, ela e a cunhada saíram da Ilha de Santa Rita, povoado da cidade de Marechal Deodoro, na última sexta-feira, para brincar no parque “Os Paqueras”, o mesmo da Praça da Faculdade. “Sei que é importante para eles. Lá onde moramos é difícil aparecer um parquinho para eles brincarem, então quando posso, trago todos”, disse ela, que é auxiliar de serviços diversos no posto de saúde do povoado onde reside. As crianças, eufóricas, não perdem tempo. “A gente quer experimentar todos”, adiantou o pequeno Ranilson Marques, 12 anos. “Quando a minha tia disse que a gente vinha para o parque, todo mundo foi logo se arrumar. É bom demais, principalmente o bate-bate”, contou Audriele dos Santos Silva, 10 anos. Na Praça Lucena Maranhão havia muitos jovens. Enquanto as crianças brincavam nas camas elásticas e nos carrosséis, eles se divertiam nos famosos churrasquinhos. “Um problema é o preço. Ano passado estava mais barato e o povo fazia fila, principalmente para andar na barca”, disse a estudante Vanesa Ferreira da Silva, 13 anos. Acompanhada dos amigos Ricardo Gomes, Adréia Rodrigues e Joseane Ferreira, ela ressaltou os benefícios que o parque de diversão traz para a comunidade. “É uma forma de a gente passar o tempo se divertindo, passeando. O povo daqui gosta muito e todos os anos comparece, mas o preço bem que poderia ser mais barato”, insistia ela, ao dizer que cada passeio nos brinquedos custava R$ 1,50 e no ano passado, R$ 1. Certa de que quando os filhos - dois garotos, um de 2 e outro de 6 anos, estiverem grandes vão guardar lembranças boas dos parques, a dona-de-casa Joselma Emanuelle de Lima, 23 anos, não perde a oportunidade de levá-los à Praça Lucena Maranhão. “Quando eu era criança brinquei muito e quero que o mesmo ocorra com eles”. |CS

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