Cidades
Ufal sai na frente no controle da dengue

FÁBIA ASSUMPÇÃO Repórter Sai de Alagoas a melhor notícia quando o assunto é combate ao vetor da dengue, mais precisamente ao estudo científico de controle da doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Exatamente no Estado que apresenta índices preocupantes de transmissão da doença. De acordo com o Ministério da Saúde, Arapiraca é a quarta cidade do Nordeste em concentração de focos do mosquito e Maceió também está entre as capitais de maior incidência do mosquito na região. Porém, uma pesquisa desenvolvida há cinco anos pela professora-doutora Maria Cristina Caño de Andrade e alunos do Departamento de Química da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) pode ajudar no controle da dengue. Eles tentam identificar as substâncias estimuladoras do comportamento de oviposição (colocação das larvas) do mosquito transmissor da dengue. O objetivo é tentar fazer o controle da população do mosquito vetor da dengue e da febre amarela. Segundo a professora Maria Cristina, em todo o mundo, pesquisadores se desdobram para identificar o feronômio (substâncias que são liberadas por insetos com diversas finalidades, como atrair indivíduos da mesma espécie, ato sexual ou marcação de território). Maria Cristina explica que diferentes espécies de mosquito hematófogos, que são vetores de doenças tropicais, são influenciados por fatores químicos, físicos e biológicos na seleção de um local ideal para a oviposição. O objetivo, segundo ela, é descobrir qual a substância que provoca essa atração e, a partir daí, fazer a síntese dessa substância a fim de fazer o controle dessa população do mosquito. ### Substâncias obtidas permitem combate ecológico aos focos A pesquisa é desenvolvida no Laboratório de Síntese e Isolamento de Feronômios do Departamento de Química da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). ?Já conseguimos alguns resultados favoráveis. No mundo todo, pesquisadores procuram isolar o feromônio de oviposição do Aedes?, afirma a professora-doutora Maria Cristina Caño. Segundo ela, a síntese dessa substância propiciaria um combate mais ecológico do mosquito, que poderia ser feito em condômios e casas. ?O Aedes gosta de água com grande quantidade de matéria orgânica?, explica Maria Cristina. Hoje, para o combate as larvas são usados larvicidas ou inseticidas para combater o mosquito adulto. As pesquisas no Laboratório de Síntese e Isoalmento de Feronômios também se voltam para o culex, mosquito transmissor da filariose linfática (popularmente conhecida como elefantíase). O comportamento do mosquito culex, transmissor da filariose é diferente. Enquanto o Aedes prefere águas mais limpas, as larvas do culex são encontradas em águas mais sujas. ?O comportamento do culex também é diferente em relação à oviposição. O culex deposita mais de cem ovos em um só local. Já o Aedes vai depositando poucas quantidades em locais diferentes. De acordo com Maria Cristina, o feromônio do culex já foi identificado desde a década de 80. E os estudos desenvolvidos no laboratório da Ufal estão voltados para identificar se essas substâncias que atraem os mosquitos para oviposição em determinados locais está presente nas águas onde as larvas são mais encontradas em Maceió. Para fazer o estudo, são coletadas as larvas do mosquito (que não estejam contaminadas) para que eles se desenvolvam em viveiros dentro do laboratório. A partir daí, é observado o comportamento de oviposição, por meio do uso de diferentes tipos de água. FAS ### Combate natural às pragas tem avanço No Departamento de Química da Ufal vêm sendo desenvolvidas há mais de 20 anos pesquisas para identificação de feromônios de vários insetos e plantas que podem ajudar no combate natural - sem usos de inseticidas, de algumas pragas. Uma das mais bem-sucedidas experiências com essa finalidade foi desenvolvida pelo professor-doutor Euzébio Goulart. Ele conseguiu fazer a síntese do feromônio do inseto causador da broca-do-olho-do-coqueiro (Rhynchophorus palmarum), uma das mais danosas pragas da cultura do coco. O besouro é o principal agente transmissor do nematóide causador da doença do ?anel vermelho?, que mata o coqueiro e se espalha por toda a plantação. A doença ataca as plantas principalmente no seu período produtivo, dos 3 aos 10 anos de idade, chegando a causar uma perda média de 5% a 6% da plantação. ?Essa é uma praga muito comum nas palmáceas?, explica Euzébio. Eclosão de larvas Os besouros voam durante o dia e as fêmeas fazem as posturas nas axilas das folhas mais jovens, ou nas regiões do ferimento da planta. As larvas eclodem e, ao passo em que vão se alimentando, fazem galerias nas plantas. As larvas são de coloração branca e, quando completam seu desenvolvimento, tecem um casulo protetor com fibras e se transformam em pupa, permanecendo imóveis até emergir o besouro. O rincoforol, o feronômio de agregação, obtido sinteticamente é produzido pela Interacta Química Litda., um empreendimento da Incubadora de Empresas de Alagoas (Incubal). Sem inSeticidas A principal vantagem do rincoforol é a eliminação do uso de inseticidas, trazendo para o agricultor considerável economia. A captura da broca-do-olho-do-coqueiro é feita por meio de armadilha, que pode ser um balde ou qualquer outro recipiente, com um furo na tampa. O modo de ação é conhecido como captura massal, que consiste em concentrar armadilhas em uma área com a finalidade de capturar um grande número de insetos para limitar seus danos. Armadilha A cápsula com o Rincoforol recebe um furo na parte central da tampa, que pode ser feito pelo próprio agricultor com uma agulha, antes de ser introduzida na armadilha. Captura Deve-se instalar uma armadilha por hectare quadrado da plantação. Dessa forma, aumenta-se o grau de proteção e a eficiência do tratamento realizado com o Rincoforol. Esse método tem por finalidade capturar um grande número de insetos. Para aumentar ainda mais a eficiência das armadilhas deve-se introduzir pedaços de cana-de-açúcar ou de abacaxi no seu interior, que devem ser trocados regularmente, a cada 15 dias. Os técnicos recomendam que a cápsula contendo o rincoforol deve permanecer na armadilha montada até que se evapore por completo, o que vai garantir a economia do processo. FAS ### Armadilha atrai insetos, mas nem todos são pragas O professor Euzébio Goulart ressalta que nem todos os insetos são pragas. Por isso, a vantagem do uso do rincoforol é que ele atrai apenas a broca-do-olho do-coqueiro para a armadilha. E depois o produtor define como eliminá-los. ?Uma desvantagem do uso de inseticidas é que ele mata todos os insetos e nem todos são pragas?, observa. O controle pelo comportamento é feito pelo uso da armadilha confeccionada com um balde de plástico com tampa reta ou levemente côncava e capacidade para de 50 a 100 litros. Na tampa do balde devem ser abertos 3 ou 4 furos de aproximadamente 6 cm de diâmetro equidistantes entre si. Em cada furo coloca-se um funil: a extremidade mais aberta é presa nas bordas do furo. No interior do balde devem ser colocados 30 a 40 toletes de cana-de-açucar amassados, visando maior rapidez no processo de fermentação da cana. Benefícios ao ambiente O uso do feromônio traz benefícios também para o meio ambiente e não expõe os aplicadores aos riscos de intoxicação causada pelos inseticidas. Além disso, não afeta os insetos benéficos nem a população de inimigos naturais da praga. Nos laboratórios do Departamento de Química estão sendo desenvolvidas pesquisas também para a síntese do feromônio do ?moleque da bananeira?, uma praga que atinge os bananais?. Existem linhas também voltadas para a identificação do feromônio de outras pragas como da mariposa da cana-de-açúcar e até para o controle do caramujo transmissor da esquistossomose. Uma das dificuldades no caso da esquitossome é que os pesquisadores querem identificar uma substância que colocada na água atinja apenas o caramujo e deixe imune outras espécies aquáticas, como os peixes. Segundo o professor, o tempo para fazer uma síntese do feronômio depende da complexidade da molécula. Hoje, o trabalho dos pesquisadores é facilitado pelo uso de aparelhos de alta tecnologia, como o cromotógrafo gasoso acoplado ao espectômetro de massa. Investimentos Graças ao apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) os laboratórios têm conseguido adquirir novos equipamentos. Na semana passada foi assinado um convênio entre a Fapeal, Ufal e Minsitério da Ciência e Tecnologia para aquisição de novos equipamentos no total de R$ 1, 3 milhão.