Fam�lias viram flanelinhas e assustam os motoristas
CARLA SERQUEIRA Repórter Agredida por flanelinhas no sinal situado entre as avenidas Leste-Oeste e Gustavo Paiva, em Mangabeiras, a secretária Silvana Maria Lopes, 37 anos, agora dirige com medo pelas ruas de Maceió. O desconforto de motoristas é
Por | Edição do dia 06/01/2006 - Matéria atualizada em 06/01/2006 às 00h00
CARLA SERQUEIRA Repórter Agredida por flanelinhas no sinal situado entre as avenidas Leste-Oeste e Gustavo Paiva, em Mangabeiras, a secretária Silvana Maria Lopes, 37 anos, agora dirige com medo pelas ruas de Maceió. O desconforto de motoristas é grande com a presença de homens, crianças e mulheres nos semáforos, pedindo esmolas. Disse que não queria que limpasse meu vidro. A mulher jogou água no carro e cuspiu. Não pegou no meu rosto porque fechei os vidros e travei as portas rapidamente, contou Silvana, se dizendo assustada. No sinal onde a secretária foi agredida trabalha toda a família de Agda Maria dos Santos, 33 anos. Ela teve 9 filhos, deu quatro e mora com cinco. Dois estão catando lixo, outros dois estão ali, no sinal, e o menor está com a minha mãe, disse ela, sentada na sombra das plantas de um canteiro da Avenida Leste-Oeste. Acham que somos vagabundas, mas o que falta é emprego. Quando digo que moro no Jacintinho, ninguém emprega, com medo, afirma a ex-doméstica. Foi no mesmo sinal da Mangabeiras que Agda conheceu Adriana Aparecida da Silva, 17 anos, mãe de um menino de um ano e 2 meses. Meu esposo trabalha os três horários catando latinha e garrafa para vender. Eu trago minha sobrinha [5 anos] para pedir enquanto cuido de meu filho, disse a adolescente, moradora do Vale do Reginaldo. Nem Agda, nem Adriana são beneficiadas com programas sociais. Nenhuma das crianças está na escola. A gente fica aqui o dia inteiro. Chego às 7h e só vou embora às 22h. Junto R$ 8, R$ 10 num dia e compro comida, diz Agda. Mas é perigoso. Anteontem um filho meu [2 anos] foi atropelado. Aqui é direto criança embaixo de carro. Sem falar nos homens que vêm limpar vidros só para comprar drogas ou roubar objetos dos carros, revela. O comandante de Policiamento da Capital, coronel Marcos Brito, afirma que são poucas as ocorrências envolvendo limpadores de vidros. Não somam nem 1%, diz ele, culpando os governos estadual e municipal pela demanda de jovens e crianças nos semáforos de Maceió. O que a gente vê é falta de governo. É mais louvável que eles estejam limpando vidros de carro do que apontando armas para roubar, defende ele, enquanto, coincidentemente, passava pelo citado sinal da Mangabeiras. ### Disputa para limpar vidro de carro é grande entre jovens No semáforo entre as avenidas Buarque de Macedo e Comendador Leão, trabalham Eduardo da Silva, 20 anos, Josival da Silva, 22, e André de Souza, 16. Eles dividem a demanda de pára-brisas com mais 10 jovens. Todos eles moram na periferia e se dizem tranqüilos por não estarem envolvidos com traficantes. Muita gente que pára aqui é ignorante, mas há pessoas que têm o coração bom, dizem, ao revelar que até arma já puxaram para eles. A vontade de trabalhar e ter no futuro uma aposentadoria garantida é também de José Marques, 25 anos. Ele tem duas filhas, uma de 4 e outra de 5 anos. Parou de estudar na 5ª série do ensino fundamental e sustenta a família com as esmolas que consegue em um sinal, próximo à Praça do Pirulito, no Prado. Já coloquei currículo em vários supermercados, mas tá difícil, diz ele, que desde os 15 é limpador de pára-brisas. Ele conta que chega ao semáforo às 6h e sai às 18h, todos os dias, de segunda a sábado. Diariamente ele junta, em média, R$ 15. É incômodo. Alguns sabem pedir, outros avançam e, de alguma forma, obrigam a gente a dar dinheiro, relata Valteles Bezerra. Às vezes assusta, conta a estudante Carla Juliana. É um aborrecimento. O trânsito desta cidade é caótico e agora até parar num sinal está ficando perigoso. Isso não acontecia 2 anos atrás, diz o taxista João Bezerra, 62 anos. Enquanto a população de Maceió esmola e se assusta nos semáforos, os governos estadual e municipal firmam parceria para tentar tirar das ruas jovens e crianças. Ontem, no palácio Floriano Peixoto, foi lançado o projeto Guardião da Cidadania que terá suas ações planejadas com a sociedade civil organizada. Paralelamente será lançada uma campanha contra a doação de esmolas para meninos e meninas de rua. |CS