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Come�am obras em rodovias de Alagoas

NIVIANE RODRIGUES Repórter A BR-101, entre o município de Novo Lino, na divisa de Alagoas com Pernambuco, e Porto Real do Colégio, no baixo São Francisco, será a primeira em Alagoas a ter iniciadas as obras do Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas, lançado no final de 2005 pelo governo federal. O programa vai destinar R$ 440 milhões para melhoria de 26,4 mil quilômetros de rodovias federais. Nesta segunda-feira, 9, a operação de tapa-buracos, recuperação de pavimento, de pontes e restauração de sinalizações será deflagrada. Os trabalhos vão se concentrar em três trechos: de Novo Lino a Messias numa extensão de 78 quilômetros; do trevo do Flecha até a Usina Terra Nova, perfazendo 25 quilômetros e entre São Sebastião e Porto Real do Colégio, no Baixo São Francisco, num total de 50 quilômetros. Nos três trechos serão executados serviços de tapa-buracos. Em duas semanas, segundo o coordenador do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte (DNIT) em Alagoas, Helder Falcão Rebêlo, a operação começa na BR-316, no trecho que vai do quilômetro 49, no povoado de Carié, em Canapi, no Sertão, ao Km 154, no município de Palmeira dos Índios. Nesse trecho, o coordenador diz que a rodovia será reconstruída. A BR-316 é a maior rodovia federal de Alagoas e a primeira asfaltada no Estado. Verba de emergência Do montante de recursos destinados ao estados brasileiros, o Ministério dos Transportes liberou para Alagoas R$ 5 milhões 465 mil. Além da BR-101, o dinheiro será empregado na recuperação de mais três rodovias consideradas em situação de emergência: BR-316; BR-110 e BR-424, num total de 450 quilômetros dos 800 que compõem a malha viária federal no Estado. A previsão é de que até junho os trabalhos sejam concluídos. O maior montante de recursos, R$ 3 milhões 40 mil, será destinado à BR-101; para a BR-316 foram liberados R$ 2 milhões 80 mil, para a BR-424, R$ 260 mil e para a BR-110, R$ 85 mil. A princípio, as obras iriam atingir nove trechos de seis rodovias federais no Estado, mas duas delas, as BRs-104 e 423, foram excluídas por não serem consideradas em situação de emergência. Além disso, nessas rodovias, segundo o coordenador do DNIT, Helder Rebêlo, são executadas operações permanentes de manutenção. Além da expectativa de recuperação das rodovias que o anúncio do governo federal causou, há também muita polêmica em torno do plano, já que a emergência dispensa a obrigatoriedade de licitação para contratação de empreiteiras para executar as obras. Tanto é que esta semana o Ministério dos Transportes informou que pedirá ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Controladoria Geral da União (CGU), órgãos de controle do governo, que acompanhem os contratos. Esta semana, a Gazeta percorreu as rodovias do Estado contempladas pelo programa e traz nesta reportagem a situação das estradas, os riscos de quem precisa circular por elas e o que pensam motoristas e moradores dessas regiões sobre a operação federal. ### Falta de sinalização facilita acidentes Os moradores do Povoado Minador do Lúcio, em Cacimbinhas, no alto sertão de Alagoas, perderam as contas do número de acidentes e mortes na estrada que corta o município, a BR-316. Quase todos no lugar têm uma história envolvendo familiares ou amigos vítimas de acidentes durante a travessia. Os casos são parecidos: o motorista perde o controle do veículo, atingindo o pedestre. Isso porque as constantes operações tapa-buracos provocam oscilações na pista. Mas este não é o único problema da rodovia. Sem sinalização nem acostamento, a estrada se torna um perigo constante. Incluída no plano emergencial do governo, a maior e mais antiga rodovia federal de Alagoas vai passar por obras de recuperação. A rodovia, que já havia sido contemplada com recursos federais e está sendo reconstruída desde o município de Pilar até Tanque dArca, será recuperada também de Palmeira dos Índios, no Km 154, até o povoado do Carié, no Km 49, entrada da BR-423. O trecho é considerado pelo DNIT o mais crítico da BR-316. Mas enquanto os serviços não começam, motoristas e moradores dos povoados às margens da pista reclamam das condições da estrada. Já morreu muita gente aqui, diz o boiadeiro Roberto Ivo de Deus, o mais falante de uma roda de amigos que conversam na pracinha do Povoado Minador do Lúcio. Somente no ano passado, foram de quatro a cinco mortes; sem contar os atropelamentos. O pai daquele ali, diz o boaideiro, apontando para José Cícero Oliveira Silva, 17, quase ficou sem andar depois que um carro bateu nele. Meu pai ia atravessar. O carro desviou de um buraco e atingiu ele. Passou três dias em coma e só depois de muito tempo voltou a trabalhar, relembra José Cícero. NR ### Sem acostamento, vegetação de caatinga invade a pista Uma operação tapa-buracos melhorou as condições da pista, mas os moradores afirmam que não resolveu o problema. Fizeram só uma gambiarra, mas não passaram o asfalto em toda a pista, aí não adianta. Além do mais tem esse quebra-molas sem nenhuma sinalização. Os motoristas que conhecem diminuem a velocidade, mas quem não sabe passa com tudo. É cada freio que dá medo, conta Roberto Ivo. Eles lembram que há anos a rodovia não passa por uma recuperação total. Só fazem esse tapa-buracos, mas com o tempo a pista volta a estragar. Esquecem que aqui tem escola e muita criança atravessando o dia todo, reclama Roberto Ivo. colcha de retalhos No trecho da BR-316 incluído no programa de emergência, a vegetação da caatinga ocupa o que deveria ser o acostamento. Em diversos pontos, cruzes de madeira e pequenas capelas simbolizam que naquele lugar mais uma pessoa perdeu a vida, vítima de acidente. As marcas do tapa-buracos estão por todo o asfalto, que mais parece uma colcha de retalhos. Eles vêm, tapam os buracos e três, quatro meses depois a pista está toda destruída, reclama o agricultor Amaro Genuíno, 58, do povoado Areia, em Santana do Ipanema. Enquanto descansa numa cadeira de balanço e troca conversa com os amigos, o pai do agricultor, o aposentado José Genuíno, 88, cobra sinalização na pista. Se tivesse alguma placa mostrando esse quebra-molas aqui não acontecia tanto acidente. No município de Maravilha, a falta de sinalização da pista também é motivo de reclamação. O ano passado fizeram tapa-buracos três vezes. Se não fosse isso, a pista já tinha desaparecido. Mas isso só não resolve, diz o professor aposentado Oséas Silva, 65, que mora no Povoado Cedro. Mas o trecho mais perigoso, segundo ele, é a área próxima do acesso ao município. Como não tem sinalização nem quebra-molas, os acidentes são freqüentes. O pior é essa porta de escola. Outro dia, uma criança foi atropelada por uma moto e ficou um bocado de tempo sem andar nem falar, revela. |NR ### Moradores do Carié esperam há anos construção de pista Em Carié, no Km 49, a estrada de asfalto da maior rodovia federal de Alagoas acaba. De lá até o Rio Moxotó, no Km zero da BR-316, a pista é de barro e a viagem arriscada. Acidentes e, principalmente, assaltos são freqüentes. Os moradores do povoado sonham com o dia em que o asfalto chegará ao local. Existe projeto para construir a pista, mas até agora nunca saiu do papel, reclama a universitária Daiane Timóteo, que mora em Maceió e tem família no Carié. Ônibus no lugar, não passa. Somente veículo pequeno ou carro-lotação. Para os comerciantes, os prejuízos são ainda maiores. O desgate do carro é muito grande. Gasto muito para fazer a manutenção do meu veí- culo, do contrário não consigo trabalhar, afirma o comerciante Aldo André Dias de Souza, que mora no município de Delmiro Gouveia Minha sorte é nunca ter sido assaltado, ressalta. Não é à-toa que ele se diz uma pessoa de sorte. Circular na estrada de Carié até Moxotó é considerado um risco iminente. Ontem mesmo o vice-prefeito de Canapi teve o carro roubado. Os caras pararam o veículo e obrigaram ele e o motorista a descer. Eram 5 horas da manhã, conta Erisvaldo Carvalho, guarda municipal em Carié. Assaltos Segundo ele, a falta de policiais em Canapi, a 14 Km de Carié, onde está localizada a delegacia mais próxima, facilita os assaltos. Só tem três policiais por turno lá e não há viatura. Aqui em Carié não tem nenhum policial. Quase toda semana tem assalto, principalmente contra motoqueiros, afirma o guarda municipal. NR ### Projeto não inclui construção de estrada O projeto do governo federal para a recuperação das rodovias brasileiras não contempla a construção de estradas. Por isso, a pista ligando Carié até o Moxotó ficará para uma segunda etapa, prevista em outro projeto, cuja licitação foi concluída e enviada a Brasília para aprovação. O coordenador do DNIT em Alagoas, Helder Rebêlo, garante que ainda este ano a obra, que está orçada em R$ 30 milhões, será iniciada. A rodovia vai ser construída a partir do quilômetro 49, em Carié, até o quilômetro zero, nas margens do Rio Moxotó, divisa de Alagoas com Pernambuco. Pesadelo No Carié encontramos um grupo de 15 pessoas da mesma família, entre as quais crianças e mulheres, que viajava de Campinas (SP) para passar férias com familiares no Sertão de Alagoas e de Pernambuco. Parados próximos ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no entrocamento entre as BRs 316 e 423, eles tentavam se recuperar dos problemas enfrentados durante a viagem enquanto se despediam. Ao contrário da maioria dos alagoanos que viaja pela BR-316, os paulistas se davam por aliviados ao pisarem no território de Alagoas. Viajamos em comboio para diminuir os riscos de acidentes e de assaltos. Mas enfrentamos um verdadeiro pesadelo na estrada (Rio-Bahia). Tem tanto buraco que não conseguíamos passar da segunda (marcha do carro). Aqui em Alagoas, as estradas estão nota dez, diz o comerciante Cícero Vitorino da Silva, para quem voltar a viajar agora só mesmo quando consertarem essas rodovias. A bordo dos carros (uma Blazer ano 97 e um Santana 93), além da bagagem, eles levavam o cano de escape de um dos veículos. O escape caiu quando o carro passava por um buraco. O motorista do Santana, o também comerciante Jacildo da Silva, perdeu um dos pneus do carro, destruído pelo asfalto. Em vez dos dois dias previstos para chegar em Alagoas, o grupo levou três dias. Com muito cuidado e a ajuda do santo, conseguimos chegar. Se toda estrada tivesse igual a essas de Alagoas, certamente não teríamos tantos problemas, acredita Jacildo da Silva, que há cinco anos não visitava a família em Pernambuco. Do Carié, seguimos para a BR-110, na divisa de Alagoas com Paulo Afonso (BA). A rodovia é uma das quatro contempladas no Estado com a verba do programa de emergência. Na pista, é intenso o movimento de veículos, sobretudo de caminhões, o que acelera o processo de destruição do asfalto. Na viagem de volta a Maceió, num total de 700 quilômetros percorridos, a parada é na BR-424, no Pólo Cloroquímico, em Marechal Deodoro. A pista também ganhará novo asfalto, acostamento e sinalização. NR ### Mais antiga rodovia será reconstruída A BR-316 foi construída no início da década de 50, no governo de Arnon de Mello. A rodovia, que entrou para a história por ser a primeira estrada pavimentada no Estado, possui 292.80 quilômetros e é a maior de Alagoas. Ela começa nas margens do Rio Moxotó, na divisa com Pernambuco, no alto sertão alagoano, e vai até a Via Expressa, no bairro da Serraria, em Maceió. Até hoje, no entanto, nunca havia passado por um processo de reconstrução. Foram realizadas apenas pequenas obras de tapa-buracos. Em 2005, o governo federal destinou R$ 20 milhões para a reconstrução de parte da rodovia. Do montante, R$ 9 milhões foram utilizados na recuperação de 38 quilômetros, entre os municípios Palmeira dos Índios e Tanque dArca, hoje 100% trafegável, com acostamento, drenagem e sinalizações horizontal e vertical. O restante da verba foi libe-rado pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que esteve em Alagoas em outubro para a inauguração do primeiro trecho recuperado. Com o dinheiro, estão sendo reconstruídos 64 quilômetros, que vão de Tanque dArca a Pilar. Os trabalhos, a cargo da construtora Delta, do Rio de Janeiro, foram retomados essa semana, após uma paralisação no fim do ano. Com a inclusão da rodovia no programa emergencial do governo federal, mais R$ 2 milhões 80 mil serão destinados à reconstrução da estrada, desta vez no trecho de Palmeira dos Índios a Carié, em Canapi. Em alguns pontos faremos a adequação da pista, como é o caso de Atalaia, onde será construída a terceira faixa para facilitar o tráfego, revela Hélder Rebelo, coordenador do DNIT em Alagoas. |NR ### Pista causa danos a veículos e revolta motorista na BR-101 FERNANDO VINÍCIUS Repórter A falta de manutenção na BR-101 no trecho entre a cidade de Messias e a divisa entre Alagoas e Pernambuco - percurso que totaliza 75 km - provoca estragos nos acostamentos da rodovia federal. A falta de conservação proporciona o crescimento de matagal nas margens da pista, dificultando a visualização das placas, principalmente à noite. Já o estado de conservação do asfalto é bom, considerado um tapete por motoristas que usam a rodovia com freqüência, fazendo a comparação com trechos da BR em outros estados. Mesmo com poucos buracos, os estragos nos veículos ainda acontecem. O comerciante Edivaldo Félix, 35, mora no Recife e circula pela BR-101 de duas a três vezes por semana transportando produtos de uma empresa multinacional de cosméticos numa Kombi. Quinta-feira, dia 5, a reportagem da Gazeta encontrou Félix trocando o pneu do carro logo após uma lombada próxima à cidade de Novo Lino, região norte de Alagoas. Chateado, ele mostrou o corte no pneu comprado há cerca de duas semanas por R$ 180, prejuízo que vai diminuir seu orçamento. Com o que a gente ganha já não é suficiente, imagine então com um estrago desses?, questionou. Percorrendo cidades do agreste e do sertão alagoanos, Félix reconhece que a situação da BR-101 já foi bem pior, tinha buraco de todo tamanho, opinião confirmada pelo companheiro de viagem, que faz a entrega dos produtos há mais tempo. Mato no acostamento Dirigindo há pouco mais de uma ano para novos destinos que incluem municípios do litoral ao norte do Estado, Félix reclama que nem sempre dá pra desviar dos obstáculos, senão a gente bate de frente com quem está na outra mão. Ele reclama que em determinados pontos ou o acostamento não existe ou então está coberto pelo mato. Ainda bem que esse pneu baixou num local que dava pra estacionar, comentou. ### Tapa-buraco reduz, mas não evita riscos Agentes de plantão no posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) instalado próximo à divisa com Pernambuco informaram que o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) já foi comunicado sobre os problemas verificados nos acostamentos. Os policiais reconhecem as deficiências encontradas na rodovia e lamentam que o projeto de duplicação da estrada não deve beneficiar Alagoas, já que sua conclusão está prevista para ocorrer na cidade de Palmares (PE). Acidentes Se por aqui tivesse acostamento em bom estado e terceira faixa nas subidas, nosso trabalho diminuiria bastante, argumentou o policial rodoviário Fábio de Vasconcelos. Ele disse que a média de acidentes no trecho entre a divisa de Alagoas com Pernambuco e Messias, área de cobertura do posto, é alta, inclusive com ocorrências consideradas graves. O patrulheiro ressalta que 80% dos acidentes têm como causa falta de atenção ou imprudência do condutor do veículo. O efetivo também é reduzido: apenas três agentes por plantão, sendo que dois se deslocam para atender aos chamados, enquanto o terceiro precisa ficar no posto. Quanto ao transporte, não dá pra reclamar. Viatura não é problema, tem sempre pelo menos uma, garantiu Vasconcelos. TAPA-BURACOS O caminhão carregado com material e equipe de trabalho pára no acostamento. Com as botas e as barras das calças sujas de preto, os trabalhadores descem para mais uma etapa da chamada operação tapa-buracos. O encarregado da turma é José de Araújo Filho, seu Jota como é conhecido, um senhor prestes a se aposentar, com mais de 30 anos de serviços prestados a empresas responsáveis pela manutenção da BR-101 em Alagoas. Seu Jota está tão familiarizado com o trabalho que coordena que conhece bem os materiais aplicados nas fissuras abertas no asfalto, já bem desgastado. Aquele que carrega uma lata joga primeiro a emulsão nas rachaduras e pequenos buracos, onde em seguida é colocado o PMF, preparado de material frio, explica o encarregado da turma. A emulsão é chamada de ligante pelos operários, na verdade um preparado feito a partir de um subproduto do petróleo, a borra, de acordo com seu Jota. Paliativo Quanto ao material frio, ele sabe que se trata de apenas um paliativo com capacidade de aderir ao asfalto bem reduzida em relação ao chamado material quente, empregado na construção das rodovias pavimentadas. Como sua utilização é limitada a determinados pontos, os locais que não recebem nenhum tipo de manutenção tornam-se buracos devido ao desgaste provocado pelo trânsito intenso de veículos, principalmente caminhões de carga. Trabalhando desde 1975 nesse tipo de serviço, seu Jota diz que viu a BR-101 em situação quase intransitável há alguns anos e destaca o recapeamento feito há cerca de quatro meses no percurso entre Messias e o trevo de acesso aos municípios de União dos Palmares e Murici. Tapando buracos da divisa até a parte já completamente recuperada, seu Jota e sua equipe tentam minimizar estragos nos pontos mais críticos e garante que 90% dos trabalhos já foram concluídos. A operação de emergência na BR-101 se estenderá de Novo Lino a Porto Real do Colégio. FV