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Nº 5759
Cidades

Angiquinho agora � patrim�nio de Alagoas

NIVIANE RODRIGUES Repórter Delmiro Gouveia - Um imenso paredão de pedras, que parecem ter sido esculpidas à mão, guarda parte de uma época que marcou a história econômica e política de Alagoas. Encravado no alto sertão do Estado, no município

Por | Edição do dia 05/02/2006 - Matéria atualizada em 05/02/2006 às 00h00

NIVIANE RODRIGUES Repórter Delmiro Gouveia - Um imenso paredão de pedras, que parecem ter sido esculpidas à mão, guarda parte de uma época que marcou a história econômica e política de Alagoas. Encravado no alto sertão do Estado, no município de Delmiro Gouveia, o sítio arqueológico de Angiquinho viu surgir a primeira hidrelétrica do Nordeste, uma pequena usina geradora de eletricidade que aproveitava o potencial da cachoeira de Paulo Afonso. O ousado projeto, que continua de pé no meio da caatinga, levou o desenvolvimento para a região que até então só conhecia a luz de candeeiro. Noventa e três anos após a façanha de um homem chamado Delmiro Gouveia, Angiquinho vai se transformar numa área de preservação cultural e pólo turístico. O projeto de tombamento está em fase de conclusão, mas as obras de restauração do sítio arqueológico já começaram. Ações emergenciais buscam salvar da destruição a usina e todo o acervo ali existente. Uma placa na entrada do sítio, localizado na BR-423, na divisa de Alagoas com Paulo Afonso, anuncia o início dos trabalhos, executados com recursos da ordem de R$ 360,2 mil do Ministério das Minas e Energia, repassados à Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Um verdadeiro canteiro de obras se instalou no lugar. Quase 40 homens trabalham contra o tempo para concluir dentro de 90 dias os serviços, que começaram no final de 2005. Os trabalhos emergenciais incluem as vias de acesso ao sítio; construção de uma ponte no lugar chamado de passagem molhada; recuperação do anfiteatro, construído no ponto mais alto e de onde se avista a usina; instalação e pintura de grades de proteção; restauração do conjunto de casas dos operários que trabalharam na obra e da residência onde Delmiro se instalava nas visitas a Angiquinho. A ação inclui ainda pintura e recuperação da subestação, da escada de ferro que leva àa usina e do guincho que fazia descer os equipamentos. A Chesf também recuperou a casa de força encravada nas rochas do cânion do São Francisco, que estava com a estrutura comprometida e ameaçava desabar e a escada de pedras, que desce até a Furna dos Morcegos. ### Chesf anuncia mais R$ 1,1 milhão para recuperar acervo A última grande intervenção na usina de Angiquinho data de 1964. De lá até hoje, foram realizadas apenas algumas pequenas ações. O sítio arqueológico estava praticamente abandonado. Em 1970, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) construiu um anfiteatro, uma espécie de arena de onde os visitantes poderiam contemplar a beleza do lugar e a cachoeira, que tem suas comportas abertas a cada ano, num espetáculo de rara beleza. No anfiteatro deveriam funcionar banheiros, lanchonete e estacionamento para veículos, mas o projeto não foi adiante. Nem mesmo as grades de proteção foram colocadas. Em 2005, o governo federal destinou à Chesf recursos para a revitalização do São Francisco. Do montante da verba, a companhia reservou em seu orçamento R$ 1,1 milhão que serão aplicados em obras mais amplas logo após o tombamento e definição do processo de gestão do sítio. Recursos orçados “Os recursos estão orçados, aguardando apenas a conclusão dos estudos para o tombamento e destinação do lugar como ponto turístico”, revela Reinaldo Leão, do grupo de Responsabilidade de Geração e assessor da presidência da Chesf no Recife. A verba deve contemplar a restauração de 500 metros de linha férrea, por onde passava um trole (trenzinho) único meio de acesso à usina na época e implementação de toda a infra-estrutura necessária para garantir o desenvolvimento turístico do lugar. Ideais de Delmiro A proposta é resgatar a história e os ideais deixados pelo empreendedor Delmiro Gouveia. “O projeto faz parte do Programa dos Lagos do São Francisco, antigo Programa Xingó, da Chesf, e se propõe a dar uma finalidade turística a Angiquinho”, ressalta Reinaldo Leão. NR ### Fundação quer transformar lugar em pólo turístico Criada em 1997, com o objetivo de resgatar e divulgar a história do povo nordestino a partir do homem que levou energia e água ao Sertão, a Fundação Delmiro Gouveia (Fundeg) busca junto à Chesf, proprietária do patrimônio, a gestão transitória de Angiquinho. Composta por um grupo de profissionais liberais, funcionários públicos e pesquisadores, a fundação, uma entidade sem fins lucrativos, elaborou um projeto de gestão para desenvolver em Angiquinho o turismo ecológico e sustentável. A idéia é explorar de forma ordenada e controlada a riqueza da região, gerando renda e garantindo a preservação da história de Delmiro Gouveia. “Tudo aqui é atrativo, a começar da vegetação de caatinga, do cânion do São Francisco, a Furna dos Morcegos e do acervo deixado por Delmiro”, diz o professor de História e integrante da fundação, Edvaldo Francisco do Nascimento. O projeto prevê a contratação de guias para acompanhar os visitantes; trilhas ecológicas; turismo de aventura; construção de estacionamento no anfiteatro e apresentação de grupos artístico-culturais; estudos para tentar recuperar o elevador que descia até a usina; instalação de um auditório nas casas que abrigavam os operários, onde os visitantes poderão assistir a vídeos sobre a história de Angiquinho e do empreendedor Delmiro Gouveia. A proposta da fundação inclui ainda ações de educação ambiental com enfoque na conservação da flora e da fauna da caatinga; instalação de lojas de artesanato regional; escritório da fundação, além de vigilância e manutenção do patrimônio. Falta estrutura Atualmente, uma média de 200 pessoas, a maioria estudantes, visita Angiquinho nos fins de semana. São turistas de Alagoas e de outros estados, atraídos pela beleza da região e a história imortalizada entre as rochas e o cânion do Velho Chico. “Muitos deixam de vir por falta de infra-estrutura. Mas com a recuperação desse patrimônio, a tendência é que esse número aumente”, diz Edvaldo Nascimento, que prevê para junho a conclusão das obras completas de recuperação. “Até junho deveremos estar com toda a estrutura pronta para receber o turista de forma profissional”, acredita. Tombamento Em 2001, a Prefeitura de Delmiro Gouveia solicitou ao Conselho Estadual de Cultura o tombamento do patrimônio histórico de Angiquinho. Somente em agosto de 2005 o pedido foi aprovado e publicado no Diário Oficial. Durante esse período, no entanto, a comissão de entidades responsáveis pelo projeto não ficou parada. Audiências púbicas foram realizadas com as comunidades envolvidas para conscientizá-las sobre a importância do projeto e mostrar que elas terão papel fundamental na preservação dos bens culturais do sítio arqueológico. O processo está em fase final de conclusão. A comissão de tombamento, composta por representantes da Prefeitura de Delmiro, secretarias estaduais de Cultura e de Turismo, Conselho de Cultura, Instituto do Meio Ambiente, Chesf, Ibama, Instituto Xingó, Fundação Joaquim Nabuco (PE), Fundação Delmiro Gouveia, Ufal e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, está aguardando a conclusão da justificativa para iniciar o plano de gestão. ### Plano de gestão vai apontar prioridades A justificativa de tombamento de Angiquinho está a cargo do pesquisador e historiador Frederico Pernambucano de Mello, que deverá concluí-la até o próximo dia 15. Na justificativa, o historiador vai mostrar a importância do tombamento para preservar a área. De posse da justificativa, a comissão de tombamento começará a trabalhar no plano de gestão. Juntos, os documentos serão enviados à análise do Conselho Estadual de Cultura, que emite resolução de tombamento e encaminha ao governo do Estado. Ao governador, caberá analisar o projeto e emitir decreto, homologando a resolução do Conselho. “O tombamento não visa inviabilizar as visitações ao lugar. Ao contrário, seu objetivo é garantir a preservação do patrimônio, dotá-lo de infra-estrutura para possibilitar o desenvolvimento do turismo de forma cuidadosa, agregando os valores históricos, culturais e ambientais”, revela Adriana Guimarães, coordenadora do Pró-Memória, da Secretaria de Cultura de Alagoas. Depois de tombado, segundo ela, qualquer intervenção só poderá ser feita mediante autorização do Pró-Memória, a coordenadoria responsável pela preservação do patrimônio histórico e cultural. “Nossa intenção, logo após o tombamento, é transformar Angiquinho em patrimônio nacional”, ressalta. Antes mesmo de ser concluído, o plano de gestão já aponta algumas prioridades para Angiquinho, como por exemplo, o reflorestamento da vegetação de caatinga; implantação das instalações elétricas; restauração da linha férrea, estudos arqueológicos, geológicos, ambientais e paisagísticos. Penalidades A Lei Federal nº 25, de 30 de novembro de 1937 prevê multas e até prisão para quem destruir um patrimônio tombado. Em Alagoas, duas leis estaduais reafirmam a política do tombamento. São elas: a Lei 4.448, de 28 de junho de 1983 e a lei 4.741, de 17 de dezembro de 1985. Apesar de tantas leis, nem sempre o patrimônio tombado consegue se manter preservado. “Por isso, nosso objetivo não é a punição, mas antes a conscientização da população, para que ela se envolva no processo. Estamos lutando, inclusive, para incluirmos no currículo das escolas públicas essa temática”, afirma Adriana Guimarães, que com a secretária executiva do Conselho Estadual de Cultura e assessora do Pró-Memória, Sônia Lucena, além da arquiteta Joelma Farias comandam todos os processos e pedidos de tombamento no Estado. Entre os pedidos em análise estão o do sítio histórico de Água Branca, no Sertão, o do Forte de Porto de Pedras e o da casa de Joaquim Gomes, no município de mesmo nome. |NR ### Uma aventura a 80 metros de altura Angiquinho ocupa uma área de 176,072 hectares. Nele, paredes rochosas dão início ao cânion do São Francisco, cujas águas correm rio abaixo cortando o Sertão. Do alto, um espetáculo de rara beleza. São 130 metros em alguns pontos e 80 em outros. Esta semana a Gazeta esteve no lugar para acompanhar de perto os trabalhos que prometem resgatar esse santuário. Descer até a usina construída por Delmiro Gouveia no início do século passado é uma aventura; uma emoção que só mesmo quem se arrisca em desafiar a formação rochosa pode sentir. Os degraus de uma escada de pedras restaurada pela Chesf parecem intermináveis. Em alguns momentos o fôlego acaba e só mesmo com muita determinação é possível continuar a descida. Oitenta metros nos separam da obra de engenharia do visionário Delmiro. Lá embaixo, nos deparamos com uma paisagem que remonta à Grécia antiga. Um paredão com imensos arcos construídos em pedras forma aquela que seria a segunda usina construída por Delmiro para aumentar o potencial energético da região. Com a morte dele, o projeto parou. Ficaram apenas as paredes. Do lado, uma caverna, chamada Furna dos Morcegos, desafia o visitante a continuar o percurso. O medo, no entanto, não nos permite entrar no lugar. Depois de apreciarmos a paisagem e o legado deixado por Delmiro, é hora de enfrentar a subida. O cansaço só não é maior do que o desejo de voltar “a terra firme”. São quase 15 minutos para chegar ao topo, o que nos dá a certeza de que aquele patrimônio não pode acabar. |NR ### Empreendedorismo marca trajetória Delmiro Augusto da Cruz Gouveia nasceu no dia 5 de junho de 1863, na cidade de Ipu, no Ceará. Filho de Delmiro Porfírio de Farias e Leonilda Flora da Cruz Gouveia, ele viria a se transformar num dos maiores empreendedores que o País já conheceu. Sua trajetória de luta e glória é contada em verso e prosa; descrita em livros e tida como exemplo de um homem que se sobrepôs a uma época. Um dos estudiosos da vida de Delmiro é o professor e pesquisador Frederico Pernambucano de Mello, cujos escritos têm sido fonte de pesquisa. No site da Fundação Joaquim Nabuco, onde o pesquisador exerce suas funções, ele conta que em 1883 Delmiro mudou-se com sua mãe para a cidade de Goiana e depois para o Recife. De família pobre, Delmiro teve de trabalhar logo cedo para se manter e ajudar no sustento da casa. Foi bilheteiro de estação de trem e despachante de barcaças. Em 1883, já interessado na compra e venda de couro e pele de cabras e ovelhas, vai para o interior de Pernambuco, onde se casa com Anunciada Cândida de Melo Falcão, a Iaiá, na cidade de Pesqueira. Dedicou-se ao comércio e exportação de couro e peles, inicialmente como empregado da família Lundregen e depois por conta própria, mantendo um grande número de compradores por toda a Região Nordeste. Fundou, em 1896, a Casa Delmiro Gouveia & Cia, passando a destruir a concorrência no setor e ficando conhecido como o Rei das Peles. Com recursos financeiros, ele se engajou politicamente e partiu para outros empreendimentos. Foi o responsável pela urbanização do bairro do Derby, no Recife, onde só havia manguezais: abriu estradas, ruas, construiu casas e um grande mercado modelo sem similar no Brasil, o Coelho Cintra. Os baixos preços praticados no mercado incomodaram a concorrência e geraram desentendimentos políticos, o que culminou com o incêndio do empreendimento, no início de 1900. O site da Fundação Joaquim Nabuco descreve um Delmiro autoritário e de temperamento difícil e que à medida que enriquecia criava mais inimigos. Em 1901, perseguido e com problemas no casamento, refugiou-se durante um ano na Europa. Separado da esposa, em 1902, aos 39 anos, raptou a adolescente Carmela Eulina do Amaral Gusmão, fugindo para Alagoas e fixando-se na Vila da Pedra, um povoado de apenas seis casas. Passou a comprar e exportar couro e peles, utilizando o Porto de Jaraguá, em Maceió. Em 1909, inicia os estudos para aproveitamento econômico da cachoeira de Paulo Afonso. Em 1913, construiu no lado alagoano uma pequena usina geradora de eletricidade, puxando a rede elétrica até a sua fazenda, a 23km dali. Luz e água Em 1913, ele provava que o Nordeste tinha potencial industrial. Com a hidrelétrica em funcionamento, a luz e a água chegaram às fábricas, a 400 Km de centros como Recife e Salvador. No comércio, passou a exportar 1,5 milhão de toneladas de peles. Em 1914 fundou a Companhia Agro Fabril Mercantil, que logo nos primeiros meses já produzia 216 mil carretéis de linha de algodão - ramo dominado pelos ingleses da Machine Cottons. NR ### Netos vão visitar município de Delmiro Logo a fábrica de Delmiro Gouveia dominou o mercado nacional, impondo-se também nos mercados da Argentina, Chile, Peru, depois Bolívia, Barbados e até nas Antilhas e Terra Nova. A fábrica era um modelo de organização, com diversos pavilhões onde ficavam os teares, uma vila operária, ambulatório médico, cinema e ringue de patinação. Sem querer ficar isolado e para impulsionar o desenvolvimento de suas atividades industriais, construiu cerca de 520km de estradas carroçáveis e introduziu o automóvel no Sertão. Embarcava sua produção por intermédio do porto de Piranhas, utilizando a ferrovia que ligava Jatobá (atual Itaparica) a Piranhas para transportá-la. Levou a energia elétrica para a povoação onde ficava a fábrica e depois até a Vila da Pedra. Passou a idealizar e desenvolver projetos para implantação de uma hidrelétrica que abastecesse o Recife de energia, o que causou desentendimentos com o então governador de Pernambuco, Dantas Barreto. Tiros certeiros Seu temperamento difícil, a tensão em que vivia, além da falta de apoio governamental, descreve o site da Fundação Joaquim Nabuco, lhe trouxeram uma série de atritos, que culminaram com o seu assassinato à bala, no dia 10 de outubro de 1917, aos 54 anos, no terraço da sua casa na Vila da Pedra. Em 1952, o povoado emancipou-se de Água Branca, tornando-se o município de Delmiro Gouveia. Apesar das suspeitas recaírem sobre a Machine Cottons, o crime jamais foi solucionado. No processo judicial - em que ninguém nunca acreditou - os acusados de disparar os tiros foram condenados a 30 anos de prisão em julgamento realizado em 1919 e 1922, em Água Branca. Os acusados foram José Inácio Pio (o Jacaré), Róseo Moares e Antônio Félix do Nascimento. Como mandantes apareceram no processo os nomes dos coronéis José Rodrigues e José Gomes. Em 1983, o Tribunal de Justiça de Alagoas, julgando “ação revisional” do processo Delmiro, reconheceu a inocência de Róseo e José Inácio, à época já falecidos. Treze anos após sua morte, em 1930, na Vila da Pedra, as máquinas, cuja fábrica já não era mais dos herdeiros de Delmiro, foram destruídas por ingleses, que levaram os destroços e lançaram no penhasco do São Francisco, pondo fim à idéia do pioneiro de desenvolver o Nordeste. Netos vêm a Alagoas Delmiro Gouveia teve três filhos: Noêmia, Noé e Maria Augusta. Os filhos lhe deram quatro netos: Paulo Afonso Gouveia Cabral, Mariza, Sônia e Maria Helena. Os quatro vivem hoje no Rio de Janeiro e em junho devem vir a Alagoas para participar de uma série de homenagens ao avô. Durante o encontro, coordenado pela Fundação Delmiro Gouveia, que mantém contatos com os netos do empreendedor, documentos e peças pertencentes a Delmiro devem ser entregues pela família para ampliar o acervo histórico do Museu Delmiro Gouveia, inaugurado em 1989. “Nos contatos mantidos com os netos, eles demonstram interesse de conhecer a cidade que o avô ajudou a fundar e confirmam para os dias 1 a 5 de junho a vinda a Alagoas”, revela No museu, que funciona na antiga estação ferroviária inaugurada por Dom Pedro II na segunda metade do século XIX, um rico acervo guarda parte da história de Delmiro. São fotos, cartas manuscritas por ele, o projetor do cinema que Delmiro instalou na fábrica para garantir a diversão dos operários e até a cadeira e escrivaninha onde ele costumava trabalhar. No pátio da estação, o visitante pode ainda contemplar máquinas como a primeira descaroçadeira de algodão da região, cedida ao museu por um proprietário de engenho. Mas é a locomotiva que fazia o percurso Piranhas/Jatobá que mais chama a atenção do visitante. A locomotiva funcionava a vapor e fazia o transporte de pessoas e cargas, garantindo o escoamento da produção da Fábrica da Pedra para o centro-sul do País. Em 1989 a máquina foi restaurada e hoje é possível vê-la funcionar num curto percurso dentro da própria estação.|NR ### Tecelagem, uma tradição que se mantém e garante renda Uma tradição que começou com a fábrica de linhas Estrela, deixada pelo precursor Delmiro Gouveia, se mantém até hoje: a tecelagem. A arte constitui-se no principal meio de sustento de dezenas de mulheres, principalmente nas comunidades rurais. É da Fábrica da Pedra que sai a linha para a produção. No povoado Salgado, a dez quilômetros da cidade, quase todas as mulheres trabalham na tecelagem. No período da seca, quando a lavoura é dizimada pela estiagem e os maridos perdem o único trabalho, são elas que mantêm a casa. Colchas, mantas, jogos americanos, redes, tapetes, toalhas de mesa e até abajour saem das mãos habilidosas das mulheres, que manuseiam o tear com a experiência de quem nasceu e se criou lidando com a máquina. No povoado, que praticamente nasceu com as tecelãs, funciona a Associação São João Batista, que reúne um grupo de 11 mulheres e tem sede própria. Todos os dias elas se encontram para trabalhar e garantir a produção, vendida para Maceió, São Paulo e até para o exterior. Recentemente, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) realizou um curso de design com as artesãs e agora o maior problema é garantir as vendas. “Aprendi com minha mãe e ensinei a minhas filhas. Nosso problema é vender, já que não temos comprador certo”, diz Maria Aparecida dos Anjos, 48, mãe de 13 filhos. Com o marido desempregado, ela conta que “a salvação é a tecelagem. A gente vende lá pra Maceió, no Armazém do Sebrae, e até pra São Paulo. Mas não é fácil. Precisamos de divulgação”. Maria Ducarmo Honorário, 51, também lamenta porque o marido está parado. “Na época de estiagem é assim; não tem emprego. Daí a gente tem que trabalhar muito no artesanato para sustentar a família”. |NR

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