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Nº 5759
Cidades

Polui��o deixa 700 mil pessoas sem �gua

MARCOS RODRIGUES Repórter Setecentas mil pessoas estão sem água em 14 bairros de Maceió pelo menos até sábado, por causa da poluição provocada pelo derramamento de vinhaça no Riacho das Pedras, afluente do Rio Pratagy. O desastre ambiental foi cau

Por | Edição do dia 09/02/2006 - Matéria atualizada em 09/02/2006 às 00h00

MARCOS RODRIGUES Repórter Setecentas mil pessoas estão sem água em 14 bairros de Maceió pelo menos até sábado, por causa da poluição provocada pelo derramamento de vinhaça no Riacho das Pedras, afluente do Rio Pratagy. O desastre ambiental foi causado pela Usina Santa Clotilde. O produto vazou de um tanque escavado a 13 km da pista de acesso à Cachoeira do Meirim, entre os municípios de Rio Largo e Messias. A suspensão no fornecimento de água foi definida pela Companhia de Saneamento e Abastecimento d’Água de Alagoas (Casal) que identificou mudanças na coloração e odor da água. O presidente da empresa, engenheiro Jorge Briseno, não descarta a possibilidade de pedir a interdição da usina. “A água que chegou até a estação não foi aprovada nas análises feitas a cada 30 minutos pelos técnicos. A vinhaça retira o oxigênio da água e a deixa sem condições de consumo. Ela fica com a cor alterada e cheiro forte”, disse Briseno, que não soube explicar quem é o responsável pelo controle de qualidade dos diques de contenção de vinhaça da usina. A água analisada vem da estação de coleta no Rio Pratagy. Se consumida nas atuais condições, ela poderia causar diarréias ou processos infecciosos, além de danos à pele dos usuários do sistema. A natureza também sofre. A mata siliar que ajuda a preservar os mananciais também foi contaminada. O trecho percorrido pela vinhaça, entre a plantação de cana da usina, passa pela mata atlântica. Por esta razão mamíferos e aves que se refugiam na floresta também podem ter sido contaminados, já que o produto foi lançado na natureza com alta concentração. O Instituto do Meio Ambiente (IMA) providenciou a coleta de amostras, mas as primeiras impressões já apontam para danos ao meio ambiente. “Fizemos um auto de constatação e colhemos amostras que serão analisadas. Os resultados devem ser divulgados na próxima semana, por meio de um laudo que mostrará as dimensões da contaminação”, disse o técnico do IMA, Ricardo Oliveira. Ele revelou que uma das medidas adotadas contra a usina pode ser a aplicação de multa, que até ontem não havia sido arbitrada. Desde domingo, o mau cheiro decorrente das altas concentrações de vinhaça vinha sendo detectado pelos moradores do complexo Benedito Bentes, um dos bairros atingidos pela falta de água. ### Casal acusa usina de descaso; indústria nega negligência O Ministério Público Estadual tomou conhecimento do dano ambiental ontem mesmo, mas aguarda que a denúncia seja formalizada pela Casal para se pronunciar oficialmente. O presidente da Casal, por sua vez, diz que aguarda o laudo do IMA para poder formular a denúncia. Ele acrescenta que a usina já se envolveu em acidentes semelhantes, no passado. Segundo Briseno, o dique que provocou o acidente não atende aos padrões de segurança exigidos. Em sua avaliação, o perigo continua já que não estão descartados outros vazamentos. Outro lado A Gazeta tentou contato com a direção da Usina Santa Clotilde, com sede em Rio Largo, administrada pala família Oiticica que também explora o comércio de água mineral. Quem se pronunciou pela indústria foi o engenheiro químico Miraldo Souza, da empresa de Consultoria e Projetos Ambientais (CPA). Segundo ele, que até ontem não havia ido até o local do despejo, o vazamento não foi intencional. “Foi um acidente que poderia acontecer com qualquer empresa. A usina sabe que terá de arcar com as conseqüências”, afirmou. O consultor não contestou os prejuízos causados pela contaminação, mas disse que os diques mantidos pela empresa são antigos. “A empresa explora isso há 20 anos”. Enquanto Casal e usina tentam se entender sobre acidente, a população sofre os primeiros reflexos. No bairro do Benedito Bentes, o mais populoso da capital, a falta de água já provoca transtornos. A cabeleireira Rosania Lima não tem água no salão para atender a sua clientela. “Eu já havia notado uma alteração na água desde domingo. Ela ficou com uma cor escurecida”, disse. Em Cruz das Almas, a dona-de-casa Genilza dos Santos também alterou a rotina. O preparo da comida agora está sendo feito com água mineral. Em Jatiúca, o problema só não é maior porque poços artesianos de outras localidades já começam a suprir o corte no fornecimento de água, amenizando os transtornos. |MR ### Vazamentos levaram usinas a adotar medidas de segurança A vinhaça é o resultado de produtos químicos usados na lavagem da cana-de-açúcar utilizada na produção do álcool. Ao final do processo, a água contendo matéria orgânica em decomposição e os reagentes é descartada, geralmente para barragens construídas pelas próprias usinas para evitar danos ambientais. Devido à presença de matéria orgânica apodrecida, ela produz um odor forte resultado da emissão de gases. O aspecto do resíduo lembra o acumulado em fossas residenciais. Quando diluída, a vinhaça ou tiborna é aproveitada na adubação das próprias plantações de cana. Isso só ocorre quando o material retido nos diques é diluído em água. Sem isso, ao invés de favorecer o plantio pode até destruí-lo. Em contato com a água, ela altera o potencial hidrogênico do líquido. Na reação química que ocorre o oxigênio desaparece durante a fermentação da matéria orgânica. O vazamento do produto já prejudicou a população alagoana várias vezes, levando as usinas a adotar medidas preventivas e assinar termo de ajuste de conduta com o Instituto do Meio Ambiente e Ministério Público Estadual. |MR

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