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Nº 5759
Cidades

Abastecimento est� perto do colapso

| REGINA CARVALHO Repórter Se não forem adotadas medidas em curto prazo para impedir degradações ao Rio Pratagy, nos próximos anos o abastecimento de água em Maceió estará seriamente comprometido. O alerta, segundo especialistas, veio no início da últim

Por | Edição do dia 12/02/2006 - Matéria atualizada em 12/02/2006 às 00h00

| REGINA CARVALHO Repórter Se não forem adotadas medidas em curto prazo para impedir degradações ao Rio Pratagy, nos próximos anos o abastecimento de água em Maceió estará seriamente comprometido. O alerta, segundo especialistas, veio no início da última semana, quando houve derramamento de vinhaça em um dos afluentes do rio. O desastre ambiental foi causado pela Usina Santa Clotilde e deixou 700 mil pessoas da capital sem água. A avaliação de que a situação deve ser encarada em regime de urgência parte de profissionais que alertam para o fato de que a poluição na bacia do Pratagy, por enquanto ainda considerada preservada, pode não suportar sucessivas agressões e ganha força à medida que o Pratagy é considerado o rio mais importante de Maceió. Dados da Companhia de Saneamento e Abastecimento d’Água de Alagoas (Casal) apontam que por volta de 40% das residências da capital são abastecidas por água vinda do rio; cerca de 50% de água subterrânea, no caso poços artesianos, e o restante do Rio Catolé e Riacho Aviação. Pratagy Esses números devem mudar nos próximos anos. Isso porque com o Projeto Pratagy a tendência é de que a maioria das residências de Maceió seja abastecida pelo Pratagy. “Cada vez mais Maceió precisa do Pratagy. Já que o rio terá uso prioritário para o abastecimento humano, temos que cuidar dele. Cada vez mais Maceió vai ficar dependente dele”, ressalta o presidente da Casal, engenheiro Jorge Briseno. Inicialmente, o abastecimento de água da capital era atendido pelo Rio Catolé, implantado na década de 40 e ampliado nos anos 90 pelo Riacho Aviação. Agora, nos dois últimos anos, o reforço veio por meio do Rio Pratagy. De acordo com o engenheiro civil Gustavo Carvalho, atualmente cerca de 330 litros de água por segundo são captados do Pratagy. Em termos de qualidade, o engenheiro conta que o líquido tem se mantido estável nos últimos anos. Mas que a situação é ainda preocupante. “A degradação na bacia, nos últimos 15 a 20 anos, deveu-se à pecuária, ao cultivo de cana e à expansão urbana. Os órgãos ambientais têm de fazer o controle do Rio Pratagy”, destacou o engenheiro, lembrando que a qualidade da água é preocupante, mas que a distribuída pelo Pratagy em Maceió é compatível com os padrões de potabilidade do Ministério de Saúde. Gustavo Carvalho salienta que, por ser considerado “pequeno” em relação a outros rios, o Pratagy deveria ser monitorado com mais freqüência pelos órgãos ambientais e pela própria sociedade. ### Tido como redenção, Pratagy se arrasta há duas décadas A redenção para o abastecimento de água em Maceió chama-se Projeto Pratagy, pensado há décadas e retomado há aproximadamente dois anos. Até agora apenas um terço da primeira etapa, no total são quatro, foi executado. Atualmente, o complexo Benedito Bentes, que envolve 22 conjuntos, os bairros da Pajuçara, Cruz das Almas, Mangabeiras, Jacintinho, Feitosa e Ponta Verde são abastecidos pelo Rio Pratagy com a contribuição de poços. O engenheiro civil Luís Emanoel da França Costa, que trabalha na Casal, conta que há 21 anos fez concurso público para a empresa, justamente para terminar o Projeto Pratagy. A previsão é de que no final do projeto seis conjuntos de motobombas estejam operando em paralelo. Atualmente apenas uma está em pleno funcionamento, captando 1.400 metros cúbicos de água por hora, que vai para a Estação de Tratamento, no Benedito Bentes. “No que se refere à construção civil, 90% do Projeto Pratagy está pronto, mas faltam interligações das adutoras, ligando ao reservatório de tratamento de água”, revela o presidente da Casal, Jorge Briseno. Segundo ele, “a concepção é de coletar água do rio, ainda preservado e com vazão para abastecer”. Faltam recursos Entretanto, tudo vai depender de recursos federais. Parte deles, cerca de R$ 70 milhões, está empenhado. “Se os recursos forem liberados, a gente consegue fazer a barragem”, diz Briseno. A barragem é item fundamental na segunda etapa. Mas o problema não acaba aí. Na etapa final, a produção de água (captação e tratamento) fica solucionada, mas ainda tem a questão da rede de distribuição. Para a primeira etapa, o projeto prevê a captação de 1,08 metro cúbico por segundo de água e na conclusão por volta de 4,32 metros cúbicos por segundo, demanda captada em pico, segundo o engenheiro Gustavo Carvalho. |RC ### Casal alerta para construção de aterro sanitário na área O engenheiro civil Gustavo Carvalho alerta que a vazão do Rio Pratagy tem caído. “Nos últimos 20 anos, a vazão diminuiu em cerca de 20%, por causa do aumento do consumo”, informa. Ele completa que a vazão atual do rio é de 2 a 2,5 metros cúbicos de água por segundo. Sobre a poluição provocada pela Usina Santa Clotilde, o presidente da Casal, Jorge Briseno, destaca que foi uma situação pontual e não atrapalha o projeto. Mas a exemplo dos especialistas, ele reforça a preocupação com novas degradações ambientais. “É preciso construir os diques de forma adequada para não haver problemas como esse. Não posso ver diques de contenção mal construídos despejando vinhoto”, acrescenta Briseno. O presidente da Casal diz que existe outra preocupação com situações que possam desencadear contaminação do lençol freático. Uma delas é o aterro sanitário. “Não quero criar polêmica sobre a instalação de um aterro sanitário no Benedito Bentes. Um aterro bem operado não tem problemas. Mas se não for bem operado, pode se transformar em lixão numa semana”, declara. Ele reforça que daqui a 20 dias, aproximadamente, a segunda bomba do Projeto Pratagy para captação de água estará funcionando e, ao longo do ano, a previsão é de que mais quatro possam está operando. Antes da viabilização do Projeto Pratagy, cerca de 80% da população de Maceió era abastecida por poços artesianos, mas segundo especialistas, esse recurso de captação subterrânea quando não monitorado devidamente traz sérios problemas. |RC ### Casal cobra responsabilidade de usinas Sem prazo para conclusão, o Projeto Pratagy, que vai captar água ainda preservada do “pequeno rio” aparece como redenção para o abastecimento na capital. A grande expectativa é quanto à chegada de recursos federais para continuidade das obras. Segundo o presidente da Casal, Jorge Briseno, Maceió vai ficar cada vez mais dependente do Pratagy e isso deve ser encarado pela população como um grande desafio. “Temos de preservar o rio e o mais importante é lembrar que com isso estamos nos afastando do racionamento de água como já está acontecendo em algumas capitais. Aqui em Maceió já foi preciso racionar. Lembro-me disso”, declarou Briseno. Apesar de acreditar que a degradação ambiental provocada pela usina foi um caso isolado, Jorge Briseno reconhece que isso pode acontecer outras vezes e propõe maior atenção na construção dos diques de contenção pelas usinas. O Instituto do Meio Ambiente (IMA) também considera que deve existir maior atenção em relação ao despejo de vinhaça. “Foi um acidente. Mas antes disso um alerta para todos. Deve-se colocar barreiras”, destacou Paulo Costa, da Gerência de Controle do IMA. Experiência Na Estação de Tratamento de Água (ETA) da Casal, no bairro do Benedito Bentes, a água é captada diretamente do Rio Pratagy. “Primeiro passa por floculadores (que limpam o líquido), em seguida por decantadores e logo após a água é filtrada. Logo em seguida, após ser clorada, vai para a população”, revela o operador da Estação de Tratamento, José de Barros, que trabalha há 20 anos na Casal. RC ### Poço põe em risco saúde da população Um dos problemas detectados pela Casal com a perfuração de poços artesianos sem monitoramento é o aparecimento de elevado teor de cloreto (sal) e de ferro na água. Três desses poços, localizados no Parque Gonçalves Lêdo, no bairro do Farol, apresentaram alta concentração de sal. Situação semelhante foi identificada no complexo Brasil Novo, em Rio Largo. No local, três poços secaram, porque não receberam o monitoramento devido. Segundo levantamento da Casal, 220 poços artesianos são operados pela empresa em Maceió e mais de dois mil são clandestinos. “Esses problemas, como o elevado teor de cloreto, são causados pela falta de controle na perfuração e na qualidade da água”, diz o presidente da Casal, Jorge Briseno. Na década de 70, pesquisas apontaram que em Maceió existia um grande potencial de água subterrânea. Segundo o presidente da Casal, com o Projeto Pratagy em funcionamento, Maceió se afasta do racionamento de água. Temendo possíveis degradações, a companhia gasta R$ 20 mil por mês para manter preservada a mata do Catolé, responsável pelo abastecimento de cerca de 10% da população de Maceió. Na opinião do gerente de Controle do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Paulo Costa, a degradação provocada pela Usina Santa Clotilde serviu de alerta para a sociedade e órgãos ambientais. Por isso, segundo ele, é preciso pensar “no amanh㔠e preservar a bacia hoje. “O que aconteceu foi um acidente. Essas lagoas de vinhaça devem ser relocadas para outras áreas, porque amanhã pode ser pior. Tem de haver o replantio da mata ciliar, pois muita mata ao redor já foi destruída”, ressaltou. Banho na foz Com aproximadamente 35 quilômetros de extensão, o Rio Pratagy nasce no município de Messias, passa por Rio Largo, na capital, e tem a foz no Mirante, próximo à Praia da Sereia. Em diversos pontos, em especial no Litoral Norte (no mirante da Sereia) e em Cachoeira do Meirim, no Benedito Bentes, o rio se tornou diversão certa, principalmente para a comunidades de baixa renda, e motivo de preocupação para especialistas. “Considero preocupante o fato de pessoas tomarem banho na foz. Essa água pode trazer prejuízo para a população, já que algumas pessoas acabam ingerindo”, relata o engenheiro civil Gustavo Carvalho, que já desenvolveu projetos no Rio Pratagy. De acordo com ele, é preciso monitorar a qualidade da água. Peixe morto Aloísio Manuel dos Santos, caseiro do sítio Santo Antônio, localizado nas imediações da foz do Pratagy, mora há 18 anos próximo ao rio. Ele conta que a água era transparente, mas que ultimamente peixes mortos têm aparecido com freqüência. “Essa semana a água estava podre. Tinha peixe morto. A gente costumava lavar roupa no rio, mas agora nem para isso está prestando mais, porque a água está muito escura”, relata o caseiro. Ele conta que vez ou outra o rio fica poluído, mas que a situação tem se agravado nos últimos anos. “A água era bem clarinha. Eu até tomava banho. Hoje não serve nem para os animais do sítio beberem e nem mesmo para dar banho neles”, destaca Aloísio Manuel. RC ### Banhos na foz aumentam contaminação O caseiro Aloísio Emanuel tem um poço artesiano em casa e lembra que muita gente precisa da água do rio para beber e cozinhar. “Existem muitos moradores que só têm essa água para beber. Eu mesmo tenho muito medo de beber”, lamenta. A poucos metros do sítio Santo Antônio, famílias se divertem na foz do Pratagy sem medo de contaminação. A movimentação é grande, principalmente nos fins de semana. “De quinze em quinze dias venho para o rio. Gosto mais daqui do que da praia. Desde criança tomo banho no Pratagy e nunca tive problemas de saúde”, confessa a doméstica Deise Tavares de Souza. No local podem ser vistos copos e pratos descartáveis, papéis, enfim, lixo que se acumula durante as “farras” e fica exposto às margens do rio. Os banhistas dizem que acompanharam atentos a degradação provocada pela Usina Santa Clotilde, divulgada amplamente nos meios de comunicação. Lamentam, mas muitos acreditam que não pode causar problemas de saúde. O estudante José Cláudio Calheiros estava com um grupo de amigos na última sexta-feira no Rio Pratagy. Há quatro anos ele não ia ao local e já sentiu diferença. Lembrou que da última vez em que esteve na foz era mais limpo e não tinha tanto lixo nas margens. “Antes, a água era mais limpa. Senti isso quando entrei”, lamenta. O segurança Edvaldo Batista estava pela primeira vez na foz e demonstrou preocupação. Disse que saiu do Benedito Bentes para aproveitar as águas do Pratagy, mas não sabe se voltará ao local. “Quando chegar em casa vou prestar atenção se vai aparecer algum problema no meu corpo”, diz. Cachoeira Em Cachoeira do Meirim, no Benedito Bentes, outras famílias se divertem no Pratagy. Muitas, além de tomar banho, levam veículos para serem lavados à margem do rio. “Quase todas as semanas venho para cá com a minha família. Nunca tive problema algum. Não tenho medo de me contaminar. Foi uma pena o que aconteceu com o rio depois do acidente provocado pela usina”, disse o motorista Edno da Silva Novaes, que aproveitava o dia para se divertir no local. |RC

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