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Nº 5759
Cidades

S�mbolos de uma �poca s�o esquecidos

| FÁTIMA ALMEIDA Repórter O relógio da Praça Multieventos, marco dos 500 anos de descobrimento do Brasil, foi demolido esta semana. A Prefeitura de Maceió entendeu que o monumento não cabia dentro do projeto de reurbanização da orla marítima, em andamen

Por | Edição do dia 19/02/2006 - Matéria atualizada em 19/02/2006 às 00h00

| FÁTIMA ALMEIDA Repórter O relógio da Praça Multieventos, marco dos 500 anos de descobrimento do Brasil, foi demolido esta semana. A Prefeitura de Maceió entendeu que o monumento não cabia dentro do projeto de reurbanização da orla marítima, em andamento na Pajuçara, e conquistou, na Justiça, o direito de derrubar. Executou imediatamente. O monumento no chão pegou de surpresa até mesmo os moradores locais, que já o tinham incorporado à paisagem e aos próprios hábitos. “Nem acreditei quando vi aquilo. Era o relógio no chão. Eu achava bonito e costumava olhar a hora de voltar para casa, depois de meu passeio pela praia”, diz o aposentado Armando José de Lima, “seu Capu”, que mora na Rua Santa Sofia, a poucas quadras da Praia de Pajuçara. “Ninguém por aqui aprovou. Esse relógio foi um presente que o Estado ganhou, e era o marco de um acontecimento. Outros monumentos ocupam muito mais espaço e têm manutenção muito mais cara. Deveriam ter ouvido a comunidade”, argumenta Verônica Barros, dona de uma banca de revistas na Praça Multieventos. O relógio, para ela, era um vizinho importante, que servia, inclusive, de ponto de localização da banca. “As pessoas perguntavam: onde fica? E eu indicava o relógio como referência”, lamenta ela. Além de ser o marco dos 500 anos, o relógio, projetado pelo design Hans Donner, marcou também a entrada do novo milênio. Após as comemorações, o relógio foi passado à prefeitura do município, mas a falta de manutenção acabou deixando ele parado por mais de um ano, até ser reativado pelo empresário Márcio Rapôso, que o “adotou”. “O relógio era um obstáculo visual enorme; e foi uma construção temporária, para marcar as comemorações dos 500 anos do Brasil. Desde o início sabia-se que era temporário. Já deveria ter sido demolido, como aconteceu nas outras capitais”, justifica a arquiteta Rosa Helena Tenório, da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano. Na avaliação do secretário municipal de Infra-estrutura, Roberto Fernandes, que executou a demolição, o relógio até poderia ter ficado como marco dos 500 anos, mas foi condenado por destoar do projeto de reurbanização que está sendo implantado na orla. Ponto de referência O relógio da Multieventos teve vida bem mais curta (seis anos), mas o seu destino é o mesmo de muitos outros que não resistiram às mudanças dos tempos, a exemplo do Relógio Central, que durante décadas do século passado foi o ponto de referência dos encontros no centro de Maceió. Referências de tempo e de estilos; peças que por muito tempo reinaram na arquitetura urbana, os relógios públicos de Maceió são instrumentos cada vez mais raros no cenário. Os que resistem nas torres da Catedral; no Mercado da Produção; na calçada da antiga Reitoria (Praça Sinimbu), são apenas símbolos do passado; relógios parados no tempo, e sem manutenção. ### Sem manutenção, ponteiros não funcionam há anos Exceção para o relógio inglês (como a maioria dos antigos relógios de Maceió), incrustado no alto da fachada do prédio da Estação Ferroviária, que permanece em boa forma, pelo menos na aparência. Segundo relato do historiador Félix Lima Junior, em texto publicado há 30 anos na Gazeta, o relógio é o mesmo da Great Western of Brazil Railway, um dos primeiros a funcionar em Maceió. O mesmo texto já falava da falta de manutenção dos relógios públicos, referindo-se, entre outros, ao do antigo Mercado Municipal, construído em 1937, na Levada, que há muito perdeu a memória e cujos ponteiros estão parados há anos. FA ### Catedral guarda relógio oficial de AL O historiador Félix Lima Junior também faz referência ao relógio da Catedral, adquirido em 1854. O relógio continua no alto das torres da igreja, mas os ponteiros não mexem. Durante muitos anos, por decreto do governo, o relógio da Catedral funcionou como o relógio oficial do Estado, dando as horas em sonoras badaladas, até que em 1922 o governador Fernandes Lima mandou montar, numa coluna de cimento armado, no cruzamento da Rua do Comércio com a do Livramento, novo relógio oficial, o mais famoso de todos eles, que ficava em frente ao Café Ponto Central, no coração da antiga Maceió. Desse símbolo, de uma época em que os boêmios e intelectuais deixavam as horas passar em longos bate-papos, restam apenas fotografias, e uma réplica que o historiador Douglas Apratto Tenório mandou fazer para instalar num espaço literário criado em Ponta Verde, em homenagem ao antigo Ponto Central. Memória das horas Os relatos de Félix Lima Junior lembram também os relógios da Igreja do Livramento e da Companhia Alagoana de Trens Urbanos (Catu), que foi colocado numa torre de cimento armado, na calçada do Restaurante Universitário, desde a década de 60, do século passado, onde está até hoje, parado no tempo. Mas já falava, também, dos desencontros dos ponteiros dos relógios do Centro: “...cada um marcando as horas com diferenças (...), dando margem a prejuízos e reclamações de negociantes do interior, fazendeiros e senhores de engenho que perdiam o trem, sendo forçados a pernoitar em hotéis ou em casa de amigos”. Os maceioenses do início do século passado também conheceram o relógio da Praça dos Palmares, no antigo Mercado de Flores, depois conhecido como Bar do Relógio. Mas ninguém olha mais para o alto do antigo prédio do Produban, onde um enorme relógio, colocado em meados do século passado dava as horas à população, vistas de vários ângulos e a longas distâncias. Modernidade Hoje os relógios de outrora, que funcionavam com sonoras badaladas, foram substituídos por modernos e luminosos relógios digitais, que funcionam em vários pontos de Maceió, marcando as horas, a temperatura e transmitindo mensagens eletrônicas de seus mantenedores. |FA

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