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Nº 5759
Cidades

Posseiros vendem �rea de mata atl�ntica

| FERNANDO VINÍCIUS Repórter São Luiz do Quitunde - Posseiros instalados em terras da Fazenda Fomento, localizada em São Luiz do Quitunde, negociam lotes mesmo reconhecendo que não são os legítimos proprietários. “Aqui ninguém tem documentação”, afirmou

Por | Edição do dia 10/03/2006 - Matéria atualizada em 10/03/2006 às 00h00

| FERNANDO VINÍCIUS Repórter São Luiz do Quitunde - Posseiros instalados em terras da Fazenda Fomento, localizada em São Luiz do Quitunde, negociam lotes mesmo reconhecendo que não são os legítimos proprietários. “Aqui ninguém tem documentação”, afirmou José Maria de Barros, 70, o “seu Zeca”, que comandava uma queimada numa parte da reserva de mata atlântica. Integrantes do Movimento de Libertação do Sem Terra (MLST) acampados na fazenda denunciaram o crime contra o meio ambiente no local onde até uma casa está sendo construída. Vestígios de desmatamento e fogo ainda são visíveis no entorno da pequena construção em alvenaria que começa a ser levantada para servir de abrigo ao novo “dono” do pedaço. Tijolos amontoados indicam que as paredes devem ficar prontas em breve. Alegando não saber quem era o comprador de cerca de duas tarefas vendidas por sua filha, Silvânia Maria de Barros, negócio estimado em R$ 3 mil, “seu Zeca” disse que estava preparando o terreno para o cultivo de banana, com ajuda de dois trabalhadores. O fogo que começava a se espalhar foi apagado com água jogada de um balde por um deles no momento em que a reportagem da Gazeta chegou ao local. De acordo com integrantes do MLST, os posseiros pretendem queimar três hectares de mata para transformar a área em plantação de banana. “Seu Zeca” disse desconhecer essa intenção, apesar de estar adotando as primeiras medidas para o início do plantio. Derrubada de árvores Os sem-terra denunciam ainda a retirada de madeira. “Até caminhão carregado já saiu daqui”, garantiu um morador que não quis se identificar. A derrubada ilegal de árvores envolveria pessoas que não moram em terras da Fazenda Fomento, que possui uma área de 107 hectares. Enquanto não se define quem tem direito à propriedade, cerca de 40 posseiros continuam comercializando lotes, enquanto famílias de trabalhadores rurais aguardam a conclusão do processo de reintegração de posse das terras acampadas próximas à Rodovia AL-101 Norte, em São Luiz do Quitunde. De acordo com uma das lideranças do acampamento, Terezinha Vital, “os posseiros que já moram na área da Fomento terão o perfil analisado pelo Incra para ver se também serão beneficiados”. ### Ibama nega ter liberado exploração de terras Uma equipe de fiscais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) deverá visitar a propriedade na próxima semana para rever a demarcação dos limites da fazenda. A assessoria de Comunicação do órgão em Alagoas informou que existe “uma certa confusão” entre os movimentos sociais que atuam junto aos trabalhadores rurais, inclusive com ocupação de áreas próximas à fazenda que não pertencem à União. Os funcionários do Incra responsáveis pelo acompanhamento do caso estão em Brasília e não foi possível falar com eles. Autorização José Maria de Barros, o “seu Zeca” disse ter autorização da fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para explorar o terreno cercado pela natureza. “Aqui só tinha bambu, não teve destruição de mata não”, assegurou. A permissão seria estendida inclusive para a construção do imóvel. O fiscal indicado como responsável pela suposta autorização, Clízio Tenório, disse que esteve no local em novembro de 2005 e negou ter autorizado qualquer intervenção. Por telefone, ele apresentou outros dados sobre a área que “seu Zeca” diz ter sido a filha quem negociou. De acordo com Tenório, a transação irregular teria sido feita pelo próprio posseiro e um primo. Mas, para “seu Zeca”, o problema é que ninguém sabe de quem são essas terras. “Tem hora que vem o Incra, depois chega o pessoal do meio ambiente, o Ibama diz que manda e aí determina os lugares onde a gente pode plantar”, justifica ele, que já foi vereador por três vezes em São Luiz do Quitunde.

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