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Nº 5901
Cidades

Revolta popular aumenta linchamentos

| GILVAN FERREIRA Repórter O crescimento da violência em Alagoas começa a provocar na população um sentimento de intolerância e de descrença nos setores da área de segurança pública e outras instituições do Estado. Esses fatores podem responder aos c

Por | Edição do dia 12/03/2006 - Matéria atualizada em 12/03/2006 às 00h00

| GILVAN FERREIRA Repórter O crescimento da violência em Alagoas começa a provocar na população um sentimento de intolerância e de descrença nos setores da área de segurança pública e outras instituições do Estado. Esses fatores podem responder aos casos mais recentes de linchamento e tentativas de linchamento em Alagoas. Dados da Polícia Civil mostram que em menos de 15 dias foram registrados quatro casos de linchamento nos municípios de Atalaia, Junqueiro, Coqueiro Seco e Maceió, que resultaram em duas mortes. Os quatro casos apresentaram em comum a descrença da população com os aparelhos policiais e com a própria Justiça. Origem Segundo sociólogos, os primeiros casos de linchamento foram registrados nos Estados Unidos durante a guerra pela independência do país, que teve início em 1782. Depois desse período, o desencadeamento do ódio racial dos americanos contra os índios e negros, a partir de 1837, provocou o ressurgimento dessa prática, que também passou a ser bastante utilizada pelos integrantes da Ku Klux Klan, que provocou uma das maiores ondas de violência nos Estados Unidos. A prática de assassinatos por linchamento também era muito comum no período da idade média, nos países da Europa e durante o século XIX, na Rússia e Irlanda. No Brasil, os casos de linchamento estão mais ligados a pessoas que praticam ou se envolvem em crimes hediondos ou de grande repercussão social. Nos casos mais comuns, a população substitui o direito do Estado de manter a ordem e a lei pelo direito de se fazer a chamada “justiça pelas próprias mãos” Morte de taxista Na relação mais recente de casos de linchamento estãos relacionados os municípios de Atalaia, Maceió, Coqueiro Seco e Junqueiro. O primeiro caso foi registrado em Atalaia, na zona da mata, no último dia 21 de fevereiro. Revoltados com a descoberta do envolvimento do kombista José Aparecido dos Santos, 32, no assassinato do taxista Jaelson da Costa Barros, 40, para roubar um kit gás, parentes e moradores do município tentaram invadir a delegacia para linchar o líder da quadrilha envolvida na morte do taxista. Jaelson Costa era casado e tinha quatro filhos. O kombista José Aparecido escapou da revolta da turba, que tentou retirá-lo das mãos dos policiais responsáveis pela sua transferência da Delegacia de Atalaia para Maceió. Ele ainda chegou a ser atingido com socos e tapas por alguns integrantes e amigos de Jaelson Costa. José Aparecido saiu ferido, sem gravidade, da tentativa de linchamento. Nenhuma das pessoas que se envolveu na ação foi presa ou autuada em flagrante pela polícia. Segundo o delegado de Atalaia, Gilson Rego, José Aparecido teria contratado três assaltantes, em troca de R$ 500, para roubar o kit gás do veículo do taxista, que foi assassinado pelo grupo com dois tiros de revólver na cabeça. O corpo de Jaelson foi encontrado pela família no município de Pilar. ### Pescador tenta afogar filho e é agredido Segundo um dos parentes de Jaelson da Costa, o sentimento de revolta pela forma como o taxista foi assassinado e a “certeza” de que os autores não seriam punidos pela Justiça provocaram a reação dos parentes e amigos. “Ele foi morto por um companheiro de profissão por causa de um kit gás e a promessa de quinhentos reais. Quando vimos o Aparecido saindo da delegacia como se nada tivesse acontecido bateu uma revolta, que provocou aquela reação contra o assassino. Se a polícia não tira ele dali eu tenho certeza de que acertaríamos as contas com ele. Temos certeza de que apesar da prisão deles, logo essas pessoas estarão nas ruas, prontas para cometer mais crimes”, disse o taxista José Nascimento de Oliveira, que participou da tentativa de linchamento em Atalaia. O kombista José Aparecido teve a prisão decretada e aguarda decisão da Justiça sobre o seu pedido de habeas-corpus. Afogamento No último dia 3 de outubro, um grupo de pescadores tentou linchar o desempregado Adilson Araújo da Silva, 28. Ele foi flagrado tentando afogar o filho de dois anos A.A.S nas águas da Lagoa Mundaú. Adilson foi salvo por PMs que passavam pelo local. Ele foi preso e atuado em flagrante pela delegada de Crimes Contra a Criança e o Adolescente, Ana Luiza Nogueira. Segundo os moradores da favela Sururu de Capote - essa seria a segunda vez que Adilson tentou matar o filho. Ele teria incendiado o barraco onde mora na favela com o filho de dois anos dentro. A criança foi salva pelos vizinhos. A polícia não prendeu nenhum dos pescadores envolvidos na tentativa de linchamento contra o desempregado Adilson da Silva, que negou à delegada Ana Luiz que tivesse tentando afogar o filho. A versão de Adilson foi negada por testemunhas do caso, que garantiram que ele levou a criança para dentro da lagoa e passou a empurrar a cabeça do garoto contra a água, na tentativa de matá-lo. Os pescadores disseram que a criança chorava muito. Mas, apesar do flagrante, Adilsonque tentou explicar à delegada que apenas “estava” brincando com o filho. O menino foi levado para a Unidade de Emergência, onde após cuidados médicos recebeu alta. |GF ### Tio mata sobrinha a golpes de faca e é linchado até morrer Na noite do último dia 24, a população do bucólico povoado de Atoleiro, a 18km de Junqueiro, presenciou o crime mais bárbaro que se tem registro nos últimos 30 anos. Era por volta das 18h30, quando a adolescente Maria Luciene da Silva, 15, foi esfaqueada pelo próprio tio, Nivaldo José de Lima, 42. O crime aconteceu no momento em que Maria tomava banho, em um banheiro improvisado pela família, no terreiro do pequeno casebre, a 10 metros da porta da cozinha. Sem perceber, ela era espreitada pelo tio, que aproveitava a pouca iluminação do ambiente para executar as ameaças que fazia diaramente a sua sobrinha e suposta amante. Antes de tirar todas as peças de roupa, Maria Luciene foi supreendida pela ação do tio, Nivaldo de Lima, que a golpeia com uma faca de 12 polegadas. A adolescente recebeu dois profundos golpes no seio direito, que foi dilacerado, e no abdome. Maria Luciene não teve como reagir ao ataque do tio, que fugiu logo após o crime. A cena brutal foi assistida pelo sobrinho de 8 anos da adolescente. Numa tentativa de receber socorro, Maria Luciene ainda teve forças para pedir ajuda ao irmão e a cunhada. A família da adolescente ainda conseguiu socorrê-la até a Unidade de Emergência do Agreste, em Arapiraca, onde chegou com vida. Apesar de todo esforço dos médicos, Maria Luciene não conseguiu sobreviver à cirurgia a que foi submetida. A adolescente morreu no centro cirúrgico. Ela era orfã de pai e mãe e morava com o irmão Erisvaldo Gomes dos Santos, 22, mas já tinha passado um longo período residindo com o assassino no Estado da Paraíba. Revolta O assassinato da adolescente revoltou os cerca de 400 moradores do povoado de Atoleiro, uma pequena vila agrícola, do município de Junqueiro. “A Luciene era uma menina sem maldade, apesar de ter 15 anos, parecia uma criança. Todo mundo gostava dela aqui. O tio não deixava ela em paz e todo mundo suspeitava que ele tinha um caso com ela. Ele tinha muito ciúme e chegou a agredi-la várias vezes, inclusive ameaçando-a de morte. Ele não queria que a Luciene namorasse ou brincasse com ninguém aqui do Atoleiro”, revelou Lindalva da Silva, 30, cunhada de Maria. Depois de assassinar a sobrinha, Nivaldo de Lima fugiu para uma mata próxima ao povoado de Atoleiro. Ele reapareceu na casa de parentes dois dias depois do crime para saber notícias da sobrinha. Fuga e morte Segundo parentes de Nivaldo, ele não teria dado importância à revolta dos moradores do povoado. O assassino voltou para a mata, onde permaneceu mais dois dias até um caçador descobrir o seu esconderijo, que logo foi informado aos moradores da comunidade. Revoltado com a violência praticada contra a adolescente, um grupo de homens do povoado de Atoleiro, liderado pelos parentes da adolescente, decidiu “caçar” o assassino para tentar fazer justiça. Linchado por mais de 40 homens, Nivaldo de Lima faleceu dois dias depois na Unidade de Emergência de Arapiraca. Segundo laudo médico, ele teve afundamento de crânio e malar, teve as pernas e braços fraturados, lesões nos testículos, além de graves escoriações em outras partes do corpo. Até mesmo a família de Nivaldo acha que ele mereceu sofrer a violência. GF

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