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Nº 5759
Cidades

Gigante vive drama no sert�o alagoano

| Maikel Marques Repórter Minador do Negrão - Quando era adolescente, José Cristóvão da Silva chamava a atenção da população de Minador do Negrão porque já tinha tamanho de gente grande. Aos 13 anos, media 1 metro e 78 centímetros. E deixava “bem para b

Por | Edição do dia 12/03/2006 - Matéria atualizada em 12/03/2006 às 00h00

| Maikel Marques Repórter Minador do Negrão - Quando era adolescente, José Cristóvão da Silva chamava a atenção da população de Minador do Negrão porque já tinha tamanho de gente grande. Aos 13 anos, media 1 metro e 78 centímetros. E deixava “bem para baixo” os colegas da escola que freqüentava no centro da cidade. Sua estatura acima do normal não era sinônimo de supernutrição, mas sim reflexo de um distúrbio considerado raro e cuja identificação depende da análise de exames clínicos. Quando completou 14 anos e as fortes dores de cabeça eram um martírio em sua vida, Cristóvão conheceu a auxiliar de enfermagem Maria José da Silva Melo, 51. Ela o levou a um médico de Palmeira dos Índios que diagnosticou e concordou em retirar da cabeça dele um tumor que significava sofrimento diário na humilde casa de taipa onde ele vive com a mãe, no povoado Salgadinho, próximo à divisa com Pernambuco. “Só Deus sabia a intensidade das dores de cabeça que sentia. O sofrimento era incontrolável”, diz o bem-humorado José Cristóvão, que na manhã da última sexta-feira recebeu a reportagem da Gazeta acompanhado de seu “anjo da guarda”, Maria José, no posto de saúde do município. “Só me livrei do sofrimento depois da cirurgia”, diz Cristóvão. No entanto, ele não conseguiu parar de crescer porque, segundo Maria José, com base no diagnóstico da época, ele não teve acesso aos medicamentos indicados pelo médico logo após a cirurgia. “Ele precisava de remédio para retardar o crescimento”, explicou Maria José. Aos 21 anos - completados no início deste ano - ele tem agora altura surpreendente. “São 2 metros e 16 centímetros. Sou tão alto quanto um poste e já peso 102 quilos”, brinca o sorridente Cristóvão. ### Abandonado pelos pais, jovem foi adotado em PE O sorriso discreto do rapaz de olhos esverdeados escondia certa tristeza num passado recente. Incompreendido por alguns dos amigos, Cristóvão costumava se isolar na solidão da rudimentar casa de taipa, construída há 15 anos num paupérrimo povoado onde sua mãe adotiva reside. Chegou a abandonar a escola, para onde retornou e hoje cursa a quinta série. “Preferia ficar em casa sozinho, mas aos poucos fui percebendo que preciso sair do isolamento e buscar ajuda médica”, diz Cristóvão. Na manhã da última quinta-feira, ele pegou carona numa ambulância da Prefeitura de Minador e foi ao consultório de uma endocrinologista no Hospital José Carneiro, em Maceió. Por telefone, a endocrinologista explicou à Gazeta que, em virtude do código de ética médica, não poderia falar sobre o caso específico de seu paciente, mas confirmou ter solicitado exames que vão apontar as causas do crescimento anormal de Cristóvão. Adoção Abandonado pelos pais biológicos em Iati (interior de Pernambuco), José Cristóvão da Silva foi “encontrado” por sua mãe adotiva, Genilza Arestides da Silva, ainda bebê, no hospital daquela cidade. Depois de adotado, foi levado para o sertão de Alagoas. Deu os primeiros passos, então, na zona rural de Minador do Negrão, onde é considerado “figura” extremamente popular. Segundo constatou a reportagem da Gazeta, não há no município quem não conheça o “Gigante Cristóvão”. “Minha altura chama a atenção de todo mundo. Antigamente, isso era um incômodo. Hoje, encaro numa boa e até explico porque sou muito alto”, diz Cristóvão. Ele também confirmou que vive em absoluta pobreza, conforme constatou a Gazeta. Em sua casa de taipa não há sequer fogão a gás. A miséria absoluta - diz a auxiliar Maria José - é terreno fértil para o desenvolvimento do distúrbio do qual Cristóvão é vítima. “Preciso de ajuda” Embora ainda não haja comprovação científica, ele seria vítima de uma acromegalia, uma doença crônica que se caracteriza pelo crescimento anormal das extremidades do corpo: mãos, pés e rosto. Seus pés, por exemplo, já fogem aos padrões de crescimento. “Minha xô boi [alpercata sertaneja] é tamanho 53. Agora, se não tiver ajuda para me tratar, pés e mãos podem continuar crescendo. Então, preciso mesmo é de muita ajuda”, disse José Cristóvão, sem perder o bom humor. A auxiliar de enfermagem Maria José tem feito o possível para ajudá-lo desde os 13 anos. A via-crúcis dela não é pequena. Além de solicitar exames médicos ao Sistema Único de Saúde (SUS) - “o que geralmente não é fácil” - ela também pede ajuda da população de municípios da região para conseguir alimentação necessária ao fortalecimento do organismo de Cristóvão. “Infelizmente, a família dele não tem renda alguma. É miséria absoluta”, diz Maria José. |MM ### Estudante precisa de ajuda para exames O jovem Cristóvão busca agora ajuda para fazer dois exames clínicos solicitados pela endocrinologista do Hospital José Carneiro, em Maceió. O primeiro deles é uma tomografia computadorizada, que está agendada pelo SUS para o final do mês. “Eu gostaria de fazer o exame o quanto antes”, diz Cristóvão. O segundo exame [IGF-I] é feito a partir da coleta de sangue com objetivo de detectar e medir os níveis de crescimento do paciente. Neste caso, o exame não seria feito pela rede pública. Caso seja comprovado cientificamente o distúrbio que afeta Cristóvão, ele travará nova luta para conseguir tomar os medicamentos indispensáveis à manutenção do tamanho de seus pés, mãos e cabeça. “Eu posso ficar deformado caso não consiga ajuda”, diz José Cristóvão. “Ele é uma pessoa especial e precisa da ajuda de todos os alagoanos”, diz a auxiliar de enfermagem Maria José, que o tem como um de seus filhos. Vítimas da seca Cristóvão, a mãe, os avós maternos e demais parentes são também vítimas da seca que castiga o Sertão. “A vida aqui é cruel, meu amigo”, disse Genilza Arestides, a mãe adotiva de José Cristóvão. Como não pode contar com ajuda do filho [que sofre de fortes dores na coluna] para cuidar de atividades “domésticas”, dona Genilza trabalha pesado. Pés descalços [porque não dispõe de calçados], ele tem a árdua tarefa de pegar água para o uso da casa num fétido barreiro. “Fico encolhido” “Aqui não há sequer banheiro. A vida só não é pior porque temos luz elétrica”, resume José Cristóvão, que ajuda a mãe a cuidar dos poucos animais ainda de pé no pequeno terreno da família. Sem forças para manusear a enxada e ajudar sua mãe na lavoura, ele sofre com o desconforto de seu casebre. A cama onde dorme é pequena para seu tamanho. “Fico sempre encolhido”, diz. Quando pode, Cristóvão também ajuda a mãe a coletar gravetos e capim para alimentar os animais mantidos com sacrifício pela família. “É rezar para que eles não despenquem de vez”, diz a mãe de Cristóvão. É de um barreiro imundo que a família retira a água para berber e para o uso diário. “Não lembro quando bebi água limpa [potável]”, diz o avô de Cristóvão, um senhor de 91 anos. Sem renda, a alimentação da família é a pior possível. Geralmente, o cardápio se resume a arroz, feijão e farinha doados por moradores da região. Quem quiser ajudar Cristóvão pode ligar para Maria José no telefone 9965-5368. MM

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