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Nº 5905
Cidades

Novas constru��es sobrecarregam canal

| Fátima Almeida Repórter A chegada de novos empreendimentos ao bairro de Mangabeiras aumentou, também, a preocupação dos moradores e do poder público quanto a um problema que há anos afeta a região na temporada chuvosa: o transbordamento provocado pela

Por | Edição do dia 19/03/2006 - Matéria atualizada em 19/03/2006 às 00h00

| Fátima Almeida Repórter A chegada de novos empreendimentos ao bairro de Mangabeiras aumentou, também, a preocupação dos moradores e do poder público quanto a um problema que há anos afeta a região na temporada chuvosa: o transbordamento provocado pela grande vazão de água que sobrecarrega o Canal de Mangabeiras, que represa, naquela área, o Riacho do Sapo. O inverno que se aproxima será o primeiro depois de instalados o hipermercado Extra e um templo da Igreja Universal, aumentando a grande área de solo impermeabilizado na região, onde está localizado, também, o Shopping Iguatemi, e deve ser inaugurado, em breve, mais um grande supermercado da rede Hiperbompreço. Cálculos do professor de Hidráulica da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Vladimir Caramori, doutor em drenagem urbana, levam a uma área de aproximadamente 70 hectares de solo impermeabilizado, contribuindo com o volume de água do Canal de Mangabeiras. Com a impermeabilização do solo por meio da pavimentação, a água que fica na superfície não tem por onde escoar, a não ser o caminho do riacho. O resultado é o aumento de riscos de inundação, que já é fato, mesmo com o processo de limpeza que vem sendo efetuado nas últimas semanas pela Prefeitura de Maceió. Segundo o superintendente municipal de Obras e Urbanização, Mozart Amaral, já foram retirados mais de 5 mil metros cúbicos de entulho do Canal de Mangabeiras nos últimos dois meses, o que dá mais de 800 caçambas de lixo. Mesmo assim, ele reconhece: o canal ainda não está preparado para enfrentar o inverno sem transtornos para a comunidade localizada no seu entorno. “A limpeza melhora, mas não evita o transbordamento, se o volume de contribuição para a vazão do canal aumenta a cada ano, como vem acontecendo naquela área”, alerta o professor Caramori. Vazão multiplicada Segundo ele, com a chuva, a vazão do canal, que chega a registrar níveis próximos a zero na estiagem, passa a receber um volume de aproximadamente seis mil litros de água por segundo, extrapolando a sua capacidade de contenção. A curva entre as avenidas Dona Constança e a Álvaro Calheiros é um dos pontos mais críticos de alagamento, devido ao volume de água que desce pela Ladeira do Óleo, trecho da Avenida Governador Afrânio Lages, entre o Jacintinho e o cruzamento com a Gustavo Paiva, outro ponto crítico. É nessa área que o fluxo das águas que descem para o Canal de Mangabeiras tende a se avolumar mais ainda, com a contribuição da enorme área impermeabilizada por grandes empreendimentos. O agravamento da situação é reconhecido pelos especilistas. São pouquíssimas as áreas de solo descoberto deixadas por essas novas construções. Basta olhar a área de estacionamento do shopping, por exemplo: não há uma única árvore ou trecho sem pavimentação. “Não posso dizer que vão acontecer grandes inundações. Mas, sem dúvida, o fator de risco aumentou”, diz o professor Caramori. Os moradores e pequenos comerciantes concordam, sobretudo os que estão localizados mais próximos ao canal. O técnico em informática Ivan dos Santos, funcionario de uma loja de informática, em frente ao condomínio São Francisco, na Avenida Dona Constança, já está cansado de trocar as ferramentas de trabalho por rodos, vassouras e carros de mão. Invasão da água “Já chegamos a tirar mais de 10 carros de mão de bagulhos acumulados na porta e dentro da loja, quando o canal transborda”, diz ele, informando que já chegaram a perder até computadores, por causa da invasão da água. “Agora, quando a chuva ameaça, fechamos a loja e fazemos uma barricada com tijolos, plástico e placas, para diminuir os problemas com a entrada da água. Enaquanto não baixa o nível e não fazemos a limpeza, não há a menor condição de atendimento”, diz ele. O pior, segundo Ivan, é a sujeira. “É muito lixo e forma uma lama fedorenta. Quando baixa, fica rato, barata e tapuru...”, relata ele. ### Entulhos formam camada de 2 metros O trecho do canal nas imediações da loja onde Ivan trabalha é um dos que acumulam maior volume de entulho. Segundo técnicos da Superintendência Municipal de Obras e Urbanização (Sumurb), o leito do Riacho do Sapo na passagem pelo canal de Mangabeiras está tão comprometido que a quantidade de entulho acumulado no fundo forma uma camada de quase dois metros de altura. Não estão exagerando. Há poucos dias, um garoto de 10 anos quase morre sufocado pela lama, segundo relato do proprietário da loja de informática. “Ele vinha andando pelo muro de contenção do canal e a sandália caiu. Como ele viu tudo seco, achou que era chão e pulou. Quando vi, ele estava enterrado quase até o pescoço”, relata. Com funcionários, o proprietário colocou um cano para o garoto segurar e providenciou uma escada, possibilitando a sua saída. O canal corre aberto em vários trechos, inclusive em frente ao shopping, oferecendo riscos para a população, mas, segundo a Sumurb, o fechamento dificultaria ainda mais a limpeza. “Na parte que fica coberta já é muito difícil limpar, porque não podem entrar máquinas e o serviço é feito de forma artesanal”, diz o superintendente Mozart Amaral. |FAL ### Limpeza de canal tenta evitar inundação O superintendente municipal de Obras e Urbanização, Mozart Amaral, diz que o canal está sendo limpo há pelo menos dois meses, mas a manutenção é difícil. “Há várias redes de contribuição ao longo do Riacho do Sapo, e não é só água. As pessoas jogam muito lixo ao longo do caminho. Tem locais que tiramos muitos caminhões de lixo até chegar no fundo do canal. Não tinha manutenção há anos”, diz ele. Além do canal da Mangabeiras, segundo Mozart Amaral, a Prefeitura de Maceió está promovendo a limpeza de vários outros canais e galerias, preparando para o inverno que se aproxima. Segundo ele, cerca de 250 homens estão atuando nesse trabalho, há mais de 15 dias, incluindo os canais da região sul de Maceió, que abrange os bairros do Trapiche da Barra e Vergel do Lago, nas áreas do Dique Estrada, Joaquim Leão e Virgem dos Pobres. No total, segundo a Somurb, serão 21 canais desobstruídos. A expectativa é de que as equipes permaneçam nos locais até junho. Ação compartilhada A saída para a grande vazão de água e os conseqüentes transbordamentos do canal da Mangabeiras e outros canais de Maceió, por causa da impermeabilização do solo, na opinião do professor de Hidráulica da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Vladimir Caramori, poderia estar na legislação. Ele cita os municípios de Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba entre os que conseguiram criar dispositivos legais que obrigam os empreendimentos a controlar o volume de vazão de água. E isso é possível, segundo ele, por meio de várias medidas técnicas. Poderia, por exemplo, cada empreendimento de grande porte criar uma espécie de reservatório de retenção de água da chuva (a exemplo dos piscinões de São Paulo, mas em dimensões menores); adotar pavimentos permeáveis ou de maior retenção, como os paralelepípedos; e deixar áreas verdes, gramados ou com árvores, que permitam a absorção de parte da água pelo solo, são algumas delas, diz o professor. O que o professor de Hidráulica da Ufal, Vladimir Caramori, acha absurdo é que a vazão desses empreendimentos corra para os canais, e acabem se tornando um problema para o poder público resolver, quando a responsabilidade deveria ser, pelo menos, compartilhada. FAL

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