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Nº 5759
Cidades

Ind�stria t�xtil renasce em Fern�o Velho

| Regina Carvalho Repórter A vida dos moradores do bairro de Fernão Velho e comunidades vizinhas confunde-se com a história da indústria têxtil em Alagoas. Uma sempre dependeu da outra e assim foi por vários anos. Depois da decadência da fábrica Carmen

Por | Edição do dia 02/04/2006 - Matéria atualizada em 02/04/2006 às 00h00

| Regina Carvalho Repórter A vida dos moradores do bairro de Fernão Velho e comunidades vizinhas confunde-se com a história da indústria têxtil em Alagoas. Uma sempre dependeu da outra e assim foi por vários anos. Depois da decadência da fábrica Carmen na década de 70, que chegou a empregar cinco mil trabalhadores e hoje resiste com uma média de 400, famílias ficaram “órfãs” daquela que sempre foi a maior referência. Hoje, renasce o sonho de retomar sua vocação de indústria têxtil. Inaugurada na semana passada, a Cooperativa de Produção de Confecções de Fernão Velho (Cooferve) vai gerar inicialmente 26 empregos. Desse grupo, a maioria é de donas-de- casa que estavam desempregadas ou não tinham renda fixa e quatro homens que, por vocação, resolveram aderir à cooperativa. “Costuro há mais de 10 anos. Antes costurava em casa. Estou muito otimista com essa cooperativa. Nosso objetivo é progredir”, disse a costureira e mais nova cooperativada Cícera Corina da Silva Matos. Ela conta que trabalhando em casa consegue apurar durante um mês entre R$ 250 e R$ 300. “Mas esse valor depende muito. Na cooperativa é um dinheiro mais certo e seguro. Trabalhando em casa a gente recebe por época”, diz Cícera. Mercado A Cooferve ainda não tem encomendas, mas já alimenta um grande sonho, que é abastecer Maceió com os produtos fabricados na cooperativa. “Queremos isso no menor prazo possível. A gente já perdeu muito tempo. Embora não tenhamos encomendas, já existem empresários interessados no nosso produto”, confirma o presidente da cooperativa, Fábio Assis de Farias. Otimista, ele reforça que a meta é que cada cooperativado receba três salários mínimos, quando a Cooferve estiver fortalecida. “Quanto mais a gente produzir, mais vai ganhar. E a nossa expectativa é de que até o final do ano estaremos com 50 trabalhadores aqui”, reforçou o presidente da Cooferve. O objetivo da cooperativa é produzir todo tipo de peça. A partir do jeans, moda praia e camisas. “O que imaginar em tecido nós vamos fazer. Os cooperativados passaram por treinamento de 20 dias. Estamos prontos”, disse Farias. Desafio Fábio Assis lembra que a meta é conscientizar os homens que residem na região de Fernão Velho sobre a importância deles na cooperativa. “Esse também é um dos nossos objetivos. Temos o desafio de conscientizar os homens sobre a importância de eles serem inseridos nesse mercado”, acrescentou o presidente da Cooferve. A inauguração da semana passada foi resultado de muitos meses de articulação. “Há oito meses estamos nos articulando. Começamos a pensar numa cooperativa quando a fábrica Carmen fechou. Nosso sonho é manter a tradição de trabalhar com tecido, transformando em confecção”, lembrou o presidente. Atualmente, dez máquinas industriais estão funcionando a todo vapor. A cooperativa foi viabilizada pelo Fundo de Microcrédito de Alagoas, o Funcred, em parceria com o Instituto de Inclusão Social pelo Crédito (Cred-social). O projeto está orçado em cerca de R$ 300 mil, que foram divididos em dez parcelas, a serem pagas pelo governo do Estado, segundo o responsável pela Cooferve. O espaço alugado provisoriamente por R$ 3 mil é uma das preocupações da cooperativa. “É muito caro para uma cooperativa que está iniciando agora pagar um aluguel como esse. Mas já estamos adquirindo um terreno; aguardamos agora a liberação”, completou o presidente da cooperativa. A formação de parcerias é fundamental nesse estágio para fortalecer a cooperativa, segundo admitem os cooperativados. Uma delas já está em fase avançada e surgiu com aquela que virou uma das maiores referências em Alagoas nesse ramo: a Fábrica Carmen, que deve vender tecidos por consignação à Cooferve. “Estamos articulando para que ela seja nossa parceira”, acrescentou Farias. ### Antigas tecelãs relembram tempo áureo Durante a inauguração da Cooferve, mulheres que trabalharam como tecelãs na Fábrica Carmen prestigiaram o evento, no intuito de dar apoio àqueles que vão compor a “nova porta” que se abre como oportunidade de emprego para as comunidades que vivem em Fernão Velho e localidades próximas. A aposentada Maria do Carmo Borges da Silva, 62 anos, era uma das mais animadas. Hoje, ela pinta panos de prato e começou a trabalhar na Fábrica Carmen quando tinha apenas 16 anos. Aposentou-se ao sair da indústria, em 1970. “Trabalhei 12 anos na fábrica. Era muito bom. Assim como eu, quase 6 mil operários trabalhavam lá. Tenho muita saudade. Cheguei a operar seis máquinas ao mesmo tempo”, disse. Mais tímida, Maria dos Santos, de 68 anos, trabalhou por 27 anos na Fábrica Carmen. Aposentada desde 1985, ela resolveu prestigiar a inauguração. “Era ótimo, mesmo ganhando pouco como a gente ganhava. Nessa época morava no Tabuleiro do Martins e vinha para Fernão Velho todo dia trabalhar”, relembrou. de mãe para filha Renilda Américo Coutinho é uma das cooperativadas. Filha de Maria de Lourdes Leite, que trabalhou na fábrica por 33 anos, a costureira também é ex-funcionária da fábrica e acredita que a cooperativa será um sucesso. “Minha mãe sustentou os seis filhos tecendo na fábrica. Também trabalhei no controle de qualidade. Todos os meus irmãos trabalharam na fábrica. Todo mundo aqui tem um parente que já foi de lá. Faz parte da vida de quem mora aqui. Sobre o nosso trabalho agora, tenho certeza de que seremos a cooperativa mais importante de Alagoas”, reforça Renilda Américo.|RC ### Fábrica Carmen vai fornecer tecido para cooperativa No dia 7 de março deste ano a Fábrica Carmen completou 149 anos de existência. É atualmente a indústria têxtil mais antiga em atividade no Brasil. Durante todo esse tempo, a única vez que fechou foi em outubro de 1996, passando dez meses parada e desempregando cerca de 750 pessoas que lá trabalhavam nessa época. Número bem abaixo daquele alcançado no período áureo, quando chegou a ter entre quatro e cinco mil funcionários. Em julho de 1997, um pernambucano e um mineiro resolveram encarar o desafio de reativar a indústria. Paulo Vasconcelos e Adalberto Andrade chegaram a ser funcionários da Carmen. “Nunca pensamos em desistir. Nós somos homens de negócios, mas o fardo é pesado. Isso é”, conta Paulo Vasconcelos, um dos proprietários, que foi funcionário por 21 anos do grupo Othon Bezerra de Mello, que administrou a indústria. Dependência Sobre a cooperativa recém-inaugurada, Paulo Vasconcelos conta que será benéfica para os moradores de Fernão Velho e que pretende levar adiante a parceria com a Cooferve. “A cooperativa nasceu espontaneamente, para ver se o povo desperta. Fernão Velho sempre viveu na dependência da fábrica, que sempre bancou tudo”, diz Paulo Vasconcelos. Segundo ele, a fábrica deu apoio logístico e força para que a cooperativa fosse instalada. “Para que a comunidade tenha dias melhores; melhor qualidade de vida. A cooperativa vai precisar do tecido e isso nós temos. Entretanto, basta ainda saber como será essa parceria”, avaliou. Atualmente, a Fábrica Carmen atende 13 estados e cerca de 90% dos funcionários são moradores da região que compreende Fernão Velho e localidades próximas. De acordo com relato do proprietário Paulo Vasconcelos, o bairro sentiu diretamente os efeitos de quando a fábrica estava fechada. “Antes de a fábrica ser comprada, Fernão Velho quase se transformou em um gueto. É uma grande responsabilidade nossa, indireta e direta”, reforçou o empresário. Situação mudou Antes, a Fábrica Carmen arcava com grande parte das despesas dos seus funcionários e infra-estrutura do bairro. Hoje a situação é bem diferente. “A fábrica não tem como assumir a paternidade do bairro como antes. Hoje não temos mais condições”, ressaltou Paulo Vasconcelos. Quando assumiu os destinos da indústria, parte dos antigos funcionários foi demitida, segundo o empresário. A maioria dos funcionários tem baixo nível de escolaridade. RC ### Fábrica resiste e faz história em Alagoas Em 7 de março de 1857, José Antonio de Mendonça, o Barão de Jaraguá, e o comerciante Tibúrcio Alves de Carvalho resolveram instalar a primeira fábrica de tecidos de Alagoas. Em março de 1942, a Companhia União Mercantil foi adquirida pela família Bezerra de Mello, proprietária da Organização Othon Bezerra de Mello, e a unidade fabril batizada com o nome de Fábrica Carmen. Fechada em 1996 e reaberta dez meses depois, em julho de 97, mudou de dono novamente e passou a se chamar Fábrica Carmen Fiação e Tecelagem S/A. Até a década de 60 ela foi a indústria manufatora mais importante de Alagoas, fazendo parte da história das comunidades de Fernão Velho, Goiabeiras, ABC e Rio Novo. A coordenadora do Fundo de Microcrédito de Alagoas (Funcred) Genilda Leão, reforçou que o apoio da entidade à Cooferve pode ser justificado pela importância histórica de Fernão Velho como área de vocação nesse ramo, que já chegou a empregar 5 mil operários. |RC

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