Cidades
Ad�o e Eva vivem inferno no Para�so

ROBERTO VILANOVA Canapi - Adão e Eva trabalham e moram no Paraíso, a 252 quilômetros de Maceió, mas vivem com medo da violência, afinal estão bem no meio do trecho da BR-423, onde ônibus e caminhões só trafegam à noite escoltados pela polícia. O Adão e a Eva alagoanos moram no Carié, povoado no entroncamento da BR-316, e são testemunhas de relatos sobre a violência de quem se atreve a dirigir à noite pela rodovia os ônibus da São Geraldo só circulam em dupla, os da Itapemirim e Progresso, escoltados. Adão e Eva são proprietários da única churrascaria (Paraíso) do local e viram o povoado, que até o começo da década de 1980 tinha apenas dez casas, crescer. O milagre é o setor de serviços posto de revenda de combustíveis, o posto da Polícia Rodoviária Federal e a localização, próxima de Paulo Afonso, na Bahia, e Garanhuns, em Pernambuco. Adão, 60, é natural de Mata Grande e descende dos fundadores de Água Branca (os Sandes); Eva, 57, mistura de índio e branco, nasceu em Ouro Branco. Os dois se conheceram durante uma festa em Canapi, em 1981; acharam graça pela coincidência bíblica e decidiram cometer um pecado Adão era casado, mas foi tentado por Eva, que disse não se importar com o estado civil. Empecilho E o que poderia ser empecilho, esvaiu-se como por milagre a primeira esposa de Adão, que se chama Elzair, sofre de problemas mentais; Eva cuida dela, como se fosse irmã vivem na mesma casa, a diferença é que Eva assumiu o lugar principal; ela comanda a cozinha da Churrascaria Paraíso, ponte de apoio para os passageiros da São Geraldo e Itapemirim. Eva não gosta de falar sobre a vida pessoal, mas admite, os três vivem bem. Devotos O Adão e a Eva alagoanos são devotos do padre Cícero Romão Baptista. Apesar dos cuidados que têm de adotar para não ser surpreendidos pela violência, o casal se sente bem no Carié são conhecidos, respeitados e, sobretudo, oferecem alimento para o corpo e a alma, para os que chegam à churrascaria atraídos pela coincidência do nome bíblico. Mas ao contrário das personagens do Gênesis, o casal tem cinco filhos, nenhum se chama Caim ou Abel e todos se dão bem. Um deles, Eanes, é uma espécie de relações públicas dos negócios do pai ele abre as portas do Paraíso aos visitantes, faz amizade com os motoristas de ônibus e atrai a clientela. Se não fosse a tentação externa, com a violência, o Adão e a Eva alagoanos poderiam dizer que viviam no paraíso completo.