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PSIQUIATRIA

Métodos de Nise da Silveira ainda impactam no tratamento de pacientes

Alagoana que revolucionou a psiquiatria no mundo completaria 120 anos neste sábado (15)

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Tela com o nome ‘Injustiça’ revela sentimento de paciente
Tela com o nome ‘Injustiça’ revela sentimento de paciente | Foto: Reprodução

A injustiça que Lycyanne Barros conta ter sofrido no trabalho, e que lhe custou a saúde mental, dá nome à tela que ilustra esta página. Ela diz que pinta os sentimentos que não consegue expressar em palavras. O que sente, segundo ela, por muito tempo habitou apenas o seu imaginário e a fez até pensar em desistir de viver. Isso mudou após a dona de casa descobrir, no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), em Maceió, que podia se expressar por meio da arte. A descoberta de Lycyanne e a prática do Caps são, na verdade, parte da revolução silenciosa que outra alagoana promoveu: Nise da Silveira.

A médica psiquiatra completaria 120 anos de nascimento neste sábado (15) e é considerada um dos maiores nomes da psiquiatria mundial. Para o médico Fernando Fidelis, ela é a maior psiquiatra da história, uma revolucionária. Ele atua no Hospital Escola Portugal Ramalho, a única unidade psiquiátrica pública de Alagoas que fica com as portas abertas ininterruptamente. Fidelis explica que a forma de enxergar o paciente é o ponto central da revolução iniciada por Nise.

O médico ressalta que ela foi uma das primeiras a usar a zooterapia e atividades artísticas como forma de tratamento, visando a recuperação de pessoas em sofrimento psíquico. Nise também foi líder na oposição ao eletrochoque punitivo e incentivou a valorização do profissional de saúde. “Ela acreditava que o cuidador deveria ser uma pessoa humana, compreendendo e respeitando o paciente”, explica.

Fidelis conta que Nise encampou a luta por um tratamento que envolvesse profissionais de diversas áreas, como médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistentes sociais, educadores físicos e outros. “Ela acreditava que o médico sozinho não era suficiente para tratar o paciente, pois era necessário um olhar mais amplo e qualificado”, explica.

Ele lembra também que ela não se concentrava apenas nos aspectos biológicos e genéticos da saúde mental, mas também considerava o contexto social. “Nise abriu uma nova possibilidade no tratamento da saúde mental”, crava.

Os resultados dos tratamentos propostos por Nise da Silveira são vistos até hoje. Como no caso de Lycyanne, que relata que, se pudesse, abraçaria e agradeceria à conterrânea por sua contribuição. A dona de casa conta que chegou ao Caps em 2016 após uma campanha do Setembro Amarelo. Ela diz que encontrou na arteterapia uma forma de administrar os sentimentos.

Lycyanne diz que se expressa através da pintura acessando sua criança interior, que desenha sua história ao pintar e consegue liberar emoções. Lycyanne relata que quando termina a obra tem um sentimento de satisfação, como se estivesse transformando suas experiências em arte. “Hoje sou uma pessoa mais forte, que encontrou as forças que achava que não tinha”, finaliza.

A diretora-geral do Hospital Escola Portugal Ramalho, Helcimara Martins, destaca que a influência de Nise da Silveira na unidade de saúde é evidente na abordagem de tratamento que vai além do modelo biomédico tradicional. Essa influência, diz a gestora, se manifesta nas diversas atividades terapêuticas oferecidas aos pacientes.

Ela cita que o hospital busca formas de intervenção que vão além da medicação e do eletrochoque, explorando a criatividade dos pacientes através da arte. Martins descreve que os usuários são encorajados a expressar seus sentimentos por meio de diversas atividades artísticas.

A diretora ressalta que o objetivo é que todos se sintam iguais e expressem sua alegria através da dança e da música. Essa abordagem busca humanizar o tratamento, valorizando a subjetividade e a experiência de cada paciente, alinhada com a filosofia de Nise da Silveira.

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