VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO
Mortes por acidente de trânsito crescem 12,84% nas rodovias alagoanas
Em 2024, Alagoas registrou 457 mortes no trânsito, segundo o Ministério da Justiça, uma média de uma por dia


José Ronaldo de Araújo Souza era apaixonado por ciclismo e praticava o esporte diariamente há oito anos, sempre com três companheiros. No dia 18 de março de 2018, um domingo, ele pedalou pela última vez. O grupo saiu de Arapiraca às 4h da manhã e, às 13h23, passava por um trecho em construção próximo ao viaduto de São Miguel dos Campos. Mantinham um metro de distância entre si, com José Ronaldo na retaguarda. Foi então que um motorista embriagado o atingiu pelas costas. O impacto foi fatal.
A morte repentina de José Ronaldo, aos 57 anos, abalou sua família. Seus filhos, Mário Fernandes e a enfermeira Renata de Carvalho Menezes, mergulharam em profundo luto.
Mário, ciclista como o pai, iniciou no esporte incentivado por ele e chegou a vencer a competição Brasil Ride. No entanto, após o acidente, abandonou o ciclismo.
“No dia do pedal, meu irmão também iria, mas se atrasou. Graças a Deus, pois poderia ter sido ainda pior. O homem que matou meu pai estava bêbado, desceu do carro sem saber no que havia batido e só olhava o veículo”, relata Renata de Carvalho.

O motorista fugiu e não foi preso, pois não houve flagrante. Renata afirma não ter mais notícias sobre ele.
Renata recebeu a notícia da morte do pai por um amigo, que passava pelo local e viu o acidente. “Meu irmão ficou revoltado por muito tempo, entrou em depressão, bebidas, ficou obeso e só de dois anos para cá ele se encontrou novamente”, afirma a enfermeira.
Renata relata que sofreu muito e tentou escapar do luto mudando-se para outra cidade. “Sofremos por muito tempo, porque ele era um grande pai”, diz.
Ela encontrou motivação para seguir em frente ao realizar um sonho compartilhado com Ronaldo. Mudou-se de Alagoas para Pernambuco e ingressou na faculdade de medicina. “Fui estudar assim que ele morreu, precisava dar sentido à minha vida. Agora, estou prestes a me formar, no dia 4 de junho”, conta.
Em 2024, Alagoas registrou 457 mortes no trânsito, segundo o Ministério da Justiça, uma média de uma por dia. O número representa um aumento de 12,84% em relação a 2023, quando houve 405 vítimas.
Em janeiro de 2025, já são 42 mortes, superando o mesmo período de 2024, que teve 35 casos, mas mantendo a média diária.
O ano em que José Ronaldo morreu registrou o maior número de mortes nas ruas e estradas alagoanas em relação a toda série histórica iniciada em 2015. Em 2018 foram 674 mortes, sendo duas por dia, em média.
Em 2024, das 457 mortes registradas, 320 eram homens, 66 mulheres e 71 sem informação de sexo. Maceió e Arapiraca lideram as ocorrências, com 71 e 46 mortes, seguidas por Coruripe (16), Marechal Deodoro (12) e São Sebastião (12).

Geovane Ferreira, irmão da jogadora Geyse Ferreira, da seleção brasileira, foi uma das vítimas de trânsito em 2024. Ele dirigia na AL-101 Norte, em Japaratinga, quando colidiu com outro veículo.
Geovane foi encontrado inconsciente, sem sinais vitais, e morreu no dia do aniversário de 12 anos do filho, pouco após a comemoração.
Vitória Karyne da Silva, 19 anos, estudante de enfermagem, foi outra vítima do trânsito em 2024. Ela estava de moto com uma amiga perto do Lago do Perucaba, em Arapiraca, quando um carro modelo Saveiro invadiu a contramão e colidiu de frente com duas motocicletas, incluindo a dela.
Testemunhas relataram que o motorista, em alta velocidade, perdeu o controle e atingiu os veículos. Vitória morreu no local. Latas de cerveja foram encontradas no carro, e o condutor aparentava estar alcoolizado.
Anna Clara Soares Cavalcante, natural de Pilar, tinha 21 anos e era estudante de Direito, estagiando na Defensoria Pública de Alagoas. Ela faleceu após cair de moto no dia 7 de janeiro de 2021, segundo dia de estágio. O acidente ocorreu na BR-316, em Satuba, na Região Metropolitana de Maceió.
O comandante do BPRv de Alagoas, tenente-coronel Thalvannes, destaca que os trechos mais críticos para acidentes fatais são nas rodovias AL-220, AL-110, AL-115, AL-101 Norte e Sul.
“Essas vias têm alto fluxo de veículos, o que aumenta o número de sinistros graves. Para intensificar a fiscalização, temos um posto rodoviário fixo, garantindo policiamento constante e resposta rápida. Além disso, realizamos blitz educativas, trabalhos de conscientização e parcerias com órgãos locais para ações preventivas”, afirma o comandante.
Ele explica que diversos fatores contribuem para os acidentes nas rodovias, como a pavimentação inadequada e buracos, iluminação pública deficiente para condutores e pedestres, falta de sinalização viária, o crescimento da frota de veículos, e condições climáticas, como chuvas intensas que tornam a pista escorregadia e reduzem a visibilidade.
“O Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) tem intensificado o policiamento nas rodovias com maior fluxo de acidentes graves, visando coibir infrações e garantir a segurança viária. No entanto, a redução de acidentes não depende apenas da fiscalização, e o aumento das mortes no trânsito em Alagoas não pode ser atribuído exclusivamente à imprudência dos motoristas. Embora a conduta dos condutores seja um fator determinante, outros aspectos também influenciam esse cenário”, afirma o comandante do BPRv.
No entanto, o BPRv constatou que os acidentes mais graves são, na maioria das vezes, causados pela imprudência dos condutores, como: excesso de velocidade, que aumenta o risco e a gravidade das colisões; ultrapassagens em locais proibidos, comuns em colisões frontais; falta de atenção ao dirigir, frequentemente associada ao uso de celular; desrespeito à sinalização e regras de trânsito, como avanço de preferenciais e desobediência a placas de advertência; e o uso inadequado ou a ausência de equipamentos de segurança, como capacetes para motociclistas e cintos de segurança para motoristas e passageiros.
Conforme levantamento estatístico do setor de Autuações do BPRv, houve um crescimento na quantidade de infrações graves e gravíssimas lavradas por este batalhão quando comparado a anos anteriores.
Somente em 2024 foram autuados 3.251 condutores por dirigir sem possuir Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão Para Dirigr (PPD), número maior do que no ano anterior, quando o BPRv registrou 2900 condutores dirigindo na mesma situação; atinente às infrações de alcoolemia, no ano de 2024, foram 203 condutores autuados, contra 190 pessoas autuadas no ano de 2023. o batalhão atribui esse aumento à intensificação das fiscalizações de trânsito no ano de 2024.
“A solução para reduzir os sinistros de trânsito deve envolver um esforço conjunto entre fiscalização, melhorias na infraestrutura viária, investimentos em educação no trânsito e conscientização dos condutores”, complementou ele.
Para 2025, o tenente-coronel Thalvannes informou que o BPRv está intensificando as ações para minimizar o número de acidentes nas rodovias. “O Núcleo de Educação para o Trânsito (NETran) tem sido essencial na conscientização de condutores”, afirmou o comandante. O núcleo é formado por palestras em empresas e escolas sobre direção segura, blitz educativas para orientar motoristas e motociclistas, e campanhas de conscientização para prevenir comportamentos de risco.
“Além disso, utilizamos dados estatísticos para reforçar a fiscalização em áreas críticas e investimos na capacitação dos policiais com cursos e treinamentos. Também ampliamos a fiscalização da embriaguez ao volante com novos etilômetros, fortalecendo a segurança no trânsito”, finalizou ele.