TRAGÉDIA NO SUL
Um ano depois, alagoanos relembram missão no resgate às vítimas no RS
Corpo de Bombeiros de Alagoas e Defesa Civil de Maceió cruzaram o país para atuar na linha de frente nas áreas devastadas pelas chuvas


Há um ano, o Rio Grande do Sul enfrentava uma das maiores tragédias climáticas de sua história. Os temporais entre abril e maio de 2024 deixaram 184 mortos, 25 desaparecidos e mais de 2,4 milhões de pessoas afetadas. Em meio à destruição de cidades, casas e vidas, equipes de Alagoas — incluindo o Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBMAL) e a Defesa Civil de Maceió — cruzaram o país para atuar nos resgates e na reconstrução das áreas atingidas.
O primeiro grupo alagoano chegou ao estado gaúcho no início de maio, formado por oito militares especializados em resgate aéreo e atendimento médico. Dias depois, mais 12 bombeiros foram enviados para reforçar as operações. A atuação inicial foi na cidade de Montenegro (RS), onde o nível do Rio Caí voltou a subir, deixando bairros inteiros submersos.
“Muitos moradores ainda tentavam organizar suas casas após inundações anteriores e precisavam de ajuda para sair. Auxiliamos na retirada de pessoas e animais, transporte de cestas básicas e no atendimento a enfermos em locais de difícil acesso”, relatou o tenente Jefferson, do CBMAL.
Após quatro dias, a tropa foi deslocada para São Leopoldo (RS), onde a situação era ainda mais crítica. Com 180 mil pessoas atingidas e 34 mil casas debaixo d’água, os resgates exigiram esforços extremos.
“Realizamos retiradas de moradores e resgates de animais em apoio a ONGs, além de distribuir alimentos e água potável. O ambiente era insalubre, com risco de doenças e frio intenso. Enfrentar a água gelada nas primeiras horas do dia era um desafio físico e psicológico”, lembrou o militar.

RECONSTRUÇÃO E APOIO TÉCNICO
Enquanto os bombeiros focavam nos salvamentos, a Defesa Civil de Maceió atuava na reconstrução das cidades. A equipe contribuiu na captação de recursos junto ao Governo Federal, realizou vistorias em imóveis públicos e residências, além de mapear áreas afetadas com drones.
“Nosso trabalho era avaliar se os imóveis podiam ser recuperados ou deveriam ser reconstruídos do zero. Também analisamos escolas e hospitais para garantir segurança à população”, explicou Matheus Montenegro, diretor de operações da Defesa Civil de Maceió.

RESILIÊNCIA E SOLIDARIEDADE
Os alagoanos que participaram da missão relembram o espírito de união entre os moradores.
“Mesmo diante da perda de tudo, muitos ajudavam uns aos outros. Recebíamos agradecimentos diários, e a admiração aumentava ainda mais quando descobriam que viemos do Nordeste, de Alagoas”, contou Jefferson, que considera essa uma das experiências mais marcantes de sua carreira militar.
“Entrei na corporação em 1998 e participei das maiores enchentes em Alagoas, como as de 2000 e 2010. Nenhuma delas se compara ao que vivenciamos no Rio Grande do Sul”, afirmou.
Ao retornarem, os profissionais foram homenageados pelo Governo de Alagoas com medalhas de honra, reconhecendo a bravura e o compromisso de quem deixou o próprio lar para salvar vidas no Sul do país.
“Foi impressionante ver a gratidão das pessoas ao perceberem que viemos de tão longe. Em meio ao sofrimento, conseguimos levar esperança e colaborar para que todos pudessem reconstruir suas vidas com dignidade”, concluiu Montenegro.