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NO PRIMEIRO TRIMESTRE

AL registra mais de 500 denúncias de crimes contra crianças em três meses

Em um ano, delegacia especializada instaurou 707 inquéritos; maioria dos casos envolve abuso, maus-tratos e agressores do próprio círculo familiar

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Em um ano, delegacia especializada instaurou 707 inquéritos
Em um ano, delegacia especializada instaurou 707 inquéritos | Foto: Vinícius Santa Rosa/Metrópoles

No primeiro trimestre de 2025, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania recebeu 522 denúncias de crimes contra crianças em Alagoas, uma média de seis por dia. A maioria envolve riscos à integridade física e emocional das vítimas, muitas vezes causados por pais, responsáveis ou pela violência das ruas. O número já supera o do mesmo período de 2024, quando foram contabilizadas 510 queixas.

Na Delegacia de Combate aos Crimes contra a Criança e o Adolescente (DCCCA), em Maceió, os tipos de violência mais recorrentes são o abuso sexual e os maus-tratos, desde agressões físicas até privação de alimentação adequada. Entre 2024 e 2025, a especializada instaurou 707 inquéritos na capital para investigar esses crimes.

O ano já é marcado por casos que abalaram o estado. Em abril, a recém-nascida Ana Beatriz foi morta pela própria mãe em Novo Lino. O corpo foi colocado em um saco plástico e escondido dentro de um armário. No mesmo mês, outro bebê foi encontrado morto próximo a um cemitério em São Luís do Quitunde. E, em Pão de Açúcar, um terceiro recém-nascido morreu em circunstâncias suspeitas, após a mãe apresentar versões conflitantes aos médicos, que constataram lesões no corpo da criança.

Em fevereiro, Alice Santos, de 1 ano e seis meses, morreu no Hospital de Emergência do Agreste após ser espancada com um pedaço de madeira durante uma briga entre os pais, em Santana do Ipanema. No mês anterior, a menina Anna Cecillya, de nove anos, foi estuprada e assassinada em Branquinha. Ainda em janeiro, Maria Alice, de apenas três anos, foi morta a tiros enquanto brincava na porta de casa, em Maceió.

DURA ROTINA

“Não é fácil ser conselheiro tutelar. A rotina vai dos atendimentos e denúncias às ações preventivas. O trabalho exige escuta, aconselhamento, encaminhamento e acompanhamento dos casos”, relata José Vitor da Silva, conselheiro tutelar de Viçosa, em seu quarto mandato.

Entre os casos mais marcantes, ele cita situações de abuso sexual praticado por pais contra bebês. “É lamentável saber que ainda temos responsáveis que espancam ou violentam nossas crianças”, afirma. Já Hemillyane Macena, conselheira de Novo Lino, destaca o impacto emocional de atuar no caso Ana Beatriz: “Marcou o Brasil inteiro. Nossa luta é diária. Nenhuma criança merece passar por isso”.

SENSIBILIDADE E RIGOR

Na 14ª Vara Criminal da Capital — especializada em crimes contra vulneráveis — tramitam cerca de 800 processos. A maioria envolve estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de prisão, podendo ultrapassar 70 anos em casos com múltiplas vítimas.

O juiz Caio Nunes de Barros destaca os desafios emocionais da função. “É necessário equilíbrio entre a objetividade jurídica e a sensibilidade humana”, afirma. Ele alerta para o risco de revitimização das crianças durante os processos e reforça a importância de proteger o desenvolvimento psicológico das vítimas.

DESAFIOS

Para a delegada Talita de Aquino, titular da DCCCA, o maior desafio é separar o lado pessoal do profissional. “É impossível não se sensibilizar com o sofrimento dessas crianças”, admite.

Ela aponta duas barreiras principais: denúncias falsas e, mais grave, o silêncio quando o agressor é alguém próximo. “Na maioria das vezes, os crimes são praticados por parentes, professores ou líderes religiosos — pessoas de confiança”, afirma.

Talita defende a conscientização como forma de prevenção: “É preciso ensinar às crianças que podem confiar em alguém. E, aos cuidadores, mostrar como identificar os sinais de abuso. Muitas vítimas sequer sabem que estão sendo violentadas”.

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