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DIA DAS MÃES

Entre gerações

A rotina desafiadora de uma mãe que cuida da filha de 6 anos e da mãe de 80

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Conciliar os cuidados com uma filha pequena e uma mãe idosa não é tarefa das mais simples. Aos 41 anos, a psicóloga e funcionária pública Isabelle Costa vive diariamente o desafio de equilibrar os papéis de filha, mãe, profissional e mulher. Entre consultas médicas, reuniões de trabalho, vida pessoal e os deveres da maternidade, ela se desdobra para atender às necessidades de quem mais ama e, o mais importante, sem esquecer de si.

“Minha rotina hoje é bem corrida. Eu costumo dizer que conciliar essas gerações extremas, uma filha com 6 anos e uma mãe com 80 é bem complicado”, conta Isabelle que se vê, de um lado, com uma criança cheia de energia e, do outro, uma idosa com costumes tradicionais. “Minha mãe vem de costumes bem antigos e minha filha de uma geração bem atual, ligada no 220, que não para. É complicado, mas a gente tem que tirar de letra”, completa.

Além do trabalho fora de casa, na coordenação de uma unidade de assistência à saúde de Maceió, Isabelle comanda uma loja online de moda infantil. A filha, Maria Luísa, estuda à tarde. Já a mãe, Margarida, apesar da idade, mantém uma rotina ativa: faz hidroginástica, vai à feira, visita amigos e não abre mão das saídas. “Graças a Deus, minha mãe tem uma saúde muito boa e vai para todo canto sozinha. Ela tá sempre me pedindo para chamar um Uber”, relata.

Mesmo com a vitalidade da mãe, a sobrecarga é inevitável. Isabelle é quem organiza a logística da casa, os compromissos de todos e ainda precisa gerenciar o trabalho. “A principal dificuldade é o volume de atividades, tanto grandes quanto pequenas. São coisas minhas, da loja, do trabalho, da Maria Luísa, da minha mãe… médico para lembrar e autorização de consultas para pegar”, enumera.

Para ela, uma das maiores dificuldades está na hora de saber para quem priorizar a atenção, de forma que nem mãe e nem filha se sintam excluídas ou prejudicadas.

“É difícil saber o momento de priorizar a minha mãe ou a minha filha. Uma criança bastante ativa, que fala demais, e uma idosa de 80 anos, com costumes enraizados, muito calma, tranquila, que gosta de tudo no seu lugar e que passou muitos anos morando sozinha e hoje mora comigo. Eu tento ao máximo priorizar a minha mãe. Quando ela dá uma ordem para a minha filha, é a palavra dela que vale. Eu sempre digo que, quando eu não estou, o que ela disser, está dito. Ao mesmo tempo, eu busco priorizar a minha filha nos momentos em que acho que não precisa de tanta rigidez. Quando ela faz alguma atividade que minha mãe não gosta, mas que eu não vejo problema, eu vou lá e digo para deixar ela fazer um pouco, que depois eu limpo ou até compro outro”, conta Isabelle.

Apesar de cansativa, ela descreve a oportunidade de poder estar junto da mãe e da filha, ao mesmo tempo, como feliz e gratificante. “É muito cansativo cuidar, mas me sinto muito feliz de ter as duas comigo e bem, principalmente a minha mãe, que está lúcida”, reflete.

A sobrecarga, algo quase natural quando o assunto é maternidade, é uma companheira constante de Isabelle, mas ela sabe que não consegue dar conta de tudo, e tá tudo bem. “Eu me sinto sobrecarregada todo dia e toda hora, mas é isso. Eu não dou conta de tudo, não dá, mas também não me sinto culpada por isso. Eu esqueço muita coisa e já aceitei que esqueço justamente por ter muita coisa na cabeça. Então, quando não dá pra fazer algo, eu simplesmente digo: ‘não deu, fica pra depois’”, assume.

A convivência entre avó e neta, segundo Isabelle, é cheia de amor e algumas “arengas” típicas do conflito de gerações. “A Maria Luísa lida muito bem com o fato de morar com a avó, que precisa de cuidados, e ela entende isso. Elas têm uma relação muito boa, apesar de às vezes parecerem duas crianças. No geral, é tranquilo. Ela tem muito cuidado com a avó”, conta a mãe orgulhosa.

Mesmo com tantas responsabilidades, Isabelle busca reservar momentos para si. “Eu consigo fazer muitas coisas. Sou bem multifacetada. Não é sempre que eu encontro tempo para mim, mas como preciso resolver muita coisa na rua, às vezes paro em uma cafeteria e tomo um cafezinho sozinha. Também vou à academia e faço meu treino enquanto penso na vida”, revela.

Ela também cultiva os momentos a dois com o marido. “Tenho meu marido, e os momentos com ele também são importantes para mim. Gosto muito de sair, de ir a um barzinho, uma festa, estar com amigos. E, quando quero fazer isso, aviso e minha mãe fica com a minha filha”, diz.

O estado de saúde da mãe, que hoje encontra-se bem, é um alívio, mas nem sempre foi assim. Há alguns anos, antes de morarem juntas, dona Margarida passou mais de um ano adoentada, sentindo muitas dores no corpo. Elas residiam no mesmo condomínio, mas em apartamentos diferentes, o que fez com que Isabelle precisasse se dividir entre as duas casas. Foi nesse período que ela percebeu que havia chegado a hora de voltar a morar junto da mãe.

“Ela sempre foi de pegar ônibus, fazer excursão sozinha, mas passou esse tempo bem doente, de cama, enquanto morávamos no mesmo condomínio, mas em apartamentos diferentes. A dependência dela de mim ficou muito grande e eu não conseguia dar conta. Não conseguia, inclusive, ajudar Maria Luísa nas atividades da escola. Cheguei a conversar com a professora e chorei porque não estava conseguindo. Foi muito pesado. Foi nessa época que começamos a conversar que estava chegando a hora de morarmos juntas. Nem eu queria, nem ela, porque estávamos acostumadas com nossa rotina e cada um tem o seu próprio jeito. Com o tempo, ela foi melhorando e voltando a fazer as atividades dela, mas aí surgiu a oportunidade de nos mudarmos para uma casa e isso antecipou um pouco as coisas”, fala.

Apesar de todos os desafios, Isabelle fala do privilégio de ter a mãe e a filha por perto todos os dias e, em especial, neste Dia das Mães. “O Dia das Mães é um dia muito feliz por ter a minha mãe e a minha filha perto de mim, por estarmos as três bem de saúde e juntas”, afirma.

Às outras mães, Isabelle deixa uma mensagem de força. “Que vocês possam se amar e se curtir, não só no Dia das Mães, mas todos os dias. Nós, mães de hoje em dia, somos de uma geração que não consegue ficar em casa, que não se contenta com pouco, que quer ganhar o mundo, quer ter seu trabalho e as suas coisas, quer progredir. No dia a dia isso é muito difícil, mas não só pelo fato de sermos mães, mas de sermos mulheres, temos uma capacidade diferente de lidar e fazer as coisas, e nós conseguimos. Desejo que todas tenham não só um dia do ano, mas todos os dias muito bem aproveitados. E falando do caso das mães que cuidam tanto dos filhos, quanto dos pais, que elas possam ter o seu momento. Não abram mão do seu momento, de fazer o que gosta”, afirma.

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