A TERRA ESTÁ VIVA
Barreira ameaça deslizar e comunidade pode desaparecer em Coqueiro Seco
Mais de 300 pessoas vivem sob risco iminente de soterramento


A comunidade do Alto do Céu, em Coqueiro Seco, na região Metropolitana de Maceió, enfrenta a ameaça iminente de desaparecer. A cada chuva intensa, a barreira do povoado Cadoz cede, destruindo casas e os sonhos de cerca de 300 moradores, em sua maioria pescadores e marisqueiros que habitam a encosta há duas décadas.
“A terra está viva, se movendo. Se a chuva persistir, tudo pode desmoronar”, alertou a marisqueira Maria do Carmo Soares, expressando o temor de quem vive no local.
Após mais de 560 milímetros de chuva acumulada em uma semana, o solo encharcado começou a deslizar, arrastando residências e aterrorizando famílias. Apesar do histórico de deslizamentos na região, as medidas preventivas adotadas foram insuficientes ou abandonadas após o inverno.
Seis casas já colapsaram. Moradores escaparam guiados apenas pelos ruídos do terreno em movimento, sem alertas oficiais. O pescador Heraldo da Silva, que teve parte de sua residência destruída, teme o pior: “A barreira pode desabar e atingir minha casa e outras cinco”. Cícero da Silva, também pescador, resume a impotência: “Não saio porque não tenho para onde ir.”
As escadarias e galerias construídas em 2023 se mostraram ineficazes. “Este ano, a chuva foi excessiva. Ninguém conseguiu descansar”, relatou o pescador Juvenal, cobrando esclarecimentos das autoridades. “Eles inspecionaram, mas só entregaram lonas.”
Vistorias
No último fim de semana, vistorias do Ministério Público, Judiciário e Defesa Civil confirmaram a instabilidade do terreno. “A comunidade precisa ser removida urgentemente, antes de um deslizamento em grande escala”, alertou o coordenador da Defesa Civil, Edwardo Rocha. Apesar disso, a medida imediata segue sendo a distribuição de lonas.
Com 5.581 habitantes, Coqueiro Seco depende da pesca artesanal e da cana-de-açúcar. O aumento do nível da Lagoa Mundaú ameaça a produção de mariscos, agravando a crise econômica local.
O governo estadual anunciou uma parceria para desapropriar a área e construir moradias seguras, mas sem prazo definido. Enquanto isso, os moradores do Alto do Céu permanecem sob risco constante.
Outros cinco municípios alagoanos — Marechal Deodoro, Passo do Camaragibe, Rio Largo, São Luís do Quitunde e Satuba — também enfrentam emergência devido às chuvas que caem desde a semana passada.