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RISCO

Mesmo sob ameaça, 30 famílias resistem a desocupação em Coqueiro Seco

Das 43 moradias, 13 estão vazias; parte das pessoas foi para casas de parentes, e seis recebem aluguel social da prefeitura

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Famílias resistem a desocupação em Coqueiro Seco
Famílias resistem a desocupação em Coqueiro Seco | Foto: Arnaldo Ferreira

A iminência de uma tragédia no povoado Cadoz, especificamente na comunidade Alto do Céu, expõe não apenas a força destrutiva das chuvas que castigam Alagoas, mas também a fragilidade da gestão pública no enfrentamento de emergências. Apesar do decreto de desocupação emitido pela prefeitura municipal e dos alertas da Defesa Civil, das 43 famílias de pescadores e marisqueiras que vivem no local, 30 — um total de 97 pessoas, incluindo crianças e adolescentes — ainda permanecem na área.

O prefeito Jadielson Nascimento (MDB) afirma que a medida foi tomada com base em laudos técnicos que apontam o deslizamento lento e constante da barreira onde estão construídas as casas. No entanto, após o temporal que destruiu oito residências e causou o colapso de cinco, a maioria das famílias resiste à evacuação. O gestor justifica que ainda está em busca de um terreno seguro para realocá-las — o que, segundo os moradores, agrava a insegurança e o sentimento de abandono.

A promessa de realocação, embora repetida em notas oficiais, não veio acompanhada de prazos concretos ou garantias reais de habitação. Das 43 famílias, apenas 13 deixaram suas casas; seis foram encaminhadas para imóveis alugados pelo município, mas em áreas planas do próprio povoado. As demais dependem da solidariedade de parentes e amigos.

A prefeitura diz que enfrenta entraves legais: a região cogitada para a construção de novas moradias é considerada Área de Preservação Ambiental (APA). O impasse evidencia a ausência de planejamento urbano de longo prazo e um histórico de omissão no controle de ocupações irregulares, que se perpetuam há mais de duas décadas no local.

A resistência dos moradores também tem base econômica. O sustento de muitas famílias depende da proximidade com a Lagoa Mundaú, onde atuam na pesca artesanal e na extração de mariscos. Maria das Neves, marisqueira da comunidade, resume a preocupação: “Querem tirar a gente da beira da lagoa para a cidade. E a pesca, como fica?”

O pescador Cícero da Silva reconhece o perigo, mas diz que não tem para onde ir: “Não tenho condições de pagar aluguel e não quero morar longe do trabalho.”

Desde 2009, quando um adolescente morreu soterrado na mesma comunidade, o risco é conhecido e documentado. Agora, a tentativa de retirar as famílias ocorre novamente, mas sem um projeto definitivo de relocação.

Ações emergenciais

A prefeitura deu início ontem a ações emergenciais como distribuição de cestas básicas e kits de higiene. A administração municipal afirma manter diálogo constante com o Ministério Público, secretarias estaduais e as Defesas Civis em diversas esferas.

As previsões meteorológicas para os meses de junho e julho indicam continuidade das chuvas, o que pode agravar ainda mais os deslizamentos, informou o coordenador da Defesa Civil Municipal, Edward Rocha. Mesmo com o município em situação de emergência, não há plano eficaz de evacuação para os que permanecem — seja por necessidade, seja por ausência de alternativa.

O prefeito Jadielson reconhece que a falha em retirar essas 30 famílias precisa ser superada com urgência e informa que busca recursos federais e estaduais para desapropriar uma área e iniciar a construção de casas populares. Com pouco mais de 5,6 mil habitantes, Coqueiro Seco tem mais de 60% da população afetada pelos temporais, que já somam mais de 560 milímetros de chuva acumulada.

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