ACIMA DOS 35 ANOS
Maternidade após os 35 cresce mais de 40% em Alagoas
Pesquisa do Registro Civil mostra que mães de 30 a 39 anos já somam quase 30% no Estado


Cuidar, proteger e amar são verbos que não têm prazo de validade. Em Alagoas, a maternidade tardia, após os 35 anos, se tornou uma realidade cada vez mais comum. Dados da Pesquisa de Estatísticas do Registro Civil, divulgada pelo IBGE, mostram que o número de partos nessa faixa etária cresceu mais de 40% nas últimas duas décadas: passou de 4,3 mil em 2003 para 6,1 mil em 2023.
O estudo também revela que mulheres entre 30 e 39 anos já representam quase 30% das mães alagoanas, sinalizando uma mudança no perfil das gestações. O fenômeno acompanha uma tendência nacional, impulsionada por fatores como o aumento da escolaridade, a inserção no mercado de trabalho e as transformações nos arranjos familiares.
A servidora pública Neide Brandão, de 48 anos, é mãe de Sophia Victoria, de 12, e de Ayla Celina, de 3. A primeira gravidez foi aos 37, a segunda, aos 45. “A chegada da Ayla foi inesperada, mas veio no tempo de Deus. Ambas nasceram com o mesmo obstetra, em contextos diferentes, mas com muito amor e cuidado”, afirma.

Já Lívia Cristina da Silva Aguiar, gerente de controladoria, teve Arthur aos 38 anos. “Foi um privilégio poder acompanhar de perto todo o processo: a amamentação, a introdução alimentar, as primeiras palavras. Só vejo vantagens. A maturidade ajuda a enfrentar os desafios com mais serenidade”, diz.

Milena da Silva Santos, autônoma de 47 anos, teve a filha Myrella aos 39. “Esperei mais de 20 anos e engravidei do nada. Minha filha é meu maior presente. Hoje, não teria energia física ou mental para mais filhos, mas ela me transformou na minha melhor versão”, relata.
TENDÊNCIA
De acordo com o superintendente do IBGE em Alagoas, Alcides Tenório Júnior, o estado ainda mantém um perfil demográfico jovem, mas a mudança é perceptível. “A proporção de mães entre 35 e 39 anos saltou de 6,24% em 2021 para 10,32% em 2022. Os dados de 2023 mostram que quase 30% dos nascimentos já são de mulheres entre 30 e 39 anos”, detalha.
Para ele, a tendência reflete escolhas pessoais e sociais. “A maternidade está sendo adiada por questões profissionais, financeiras ou por prioridades de vida. Com os avanços da medicina reprodutiva, essa decisão se tornou mais viável”, conclui.
CUIDADOS NECESSÁRIOS
A médica ginecologista Karine Lucena alerta para os cuidados necessários. “A partir dos 35 anos, aumentam os riscos de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e síndromes genéticas. Por isso, é essencial o acompanhamento médico e o planejamento adequado”.
Ela recomenda que, ao considerar uma gravidez mais tarde, a mulher converse com o ginecologista sobre exames que avaliam a fertilidade, como o hormônio antimülleriano (AMH), e considere, se for o caso, a preservação dos óvulos.
O médico Rogério Rocha, especialista em ginecologia e obstetrícia, destaca que, embora os riscos existam, os avanços médicos e o acompanhamento adequado têm permitido gestações saudáveis mesmo após os 40 anos. “A última paciente que acompanhei tinha 42 anos e teve uma gestação tranquila”, relata.
MAIS PREPARO
Para Neide Brandão, a principal vantagem de ser mãe depois dos 35 é a maturidade emocional. “Já tinha acompanhado muitas gestações na família, sabia dos desafios. Também já estava estruturada financeiramente, o que faz diferença. Claro que o corpo sente mais, porém, em todos os outros aspectos foi o momento ideal”.
Lívia compartilha da mesma visão. “Curti a vida, trabalhei muito, viajei. Quando chegou o Arthur, pude viver esse novo tempo com mais entrega. Ele é meu maior aprendizado diário e tem o olhar mais apaixonante que já vi”.