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Contaminação por mercúrio ameaça comunidade que vive da Lagoa Mundaú

Estudo revela níveis alarmantes do metal pesado no sangue e na urina de pescadores e marisqueiras

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Metal pesado foi encontrado em comunidade que vive da lagoa
Metal pesado foi encontrado em comunidade que vive da lagoa | Foto: Ailton Cruz

Comunidades às margens da Lagoa Mundaú, em Maceió, que sobrevivem da pesca e da coleta de mariscos, enfrentam uma ameaça silenciosa: a contaminação por mercúrio. Um estudo recente, apoiado pela Fapesp e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), revelou níveis alarmantes do metal pesado no sangue e na urina de pescadores e marisqueiras. Os impactos vão além da intoxicação, incluem alterações metabólicas e risco de doenças graves.

Publicado no Journal of Hazardous Materials, o estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A pesquisa escancara uma crise de saúde pública que exige resposta imediata das autoridades.

Ao todo, 125 pessoas foram analisadas, 60 delas moradoras de comunidades ribeirinhas da lagoa, com consumo frequente de peixes e sururu, molusco típico da região. Os resultados mais críticos indicaram que essas pessoas apresentavam até quatro vezes mais mercúrio no sangue e 2,5 vezes mais na urina em comparação com o grupo-controle.

Em um dos casos, a concentração registrada foi de 19 microgramas por litro de sangue — próxima ao limite máximo previsto pela legislação brasileira, de 20 microgramas. O valor, no entanto, é muito superior ao considerado seguro pela EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA), que recomenda até 6 microgramas por litro para consumidores regulares de peixe.

CONSUMO DE PEIXES E SURURU É SEGURO

Professor da Ufal e coordenador do estudo, Josué Carinhanha Caldas Santos diz que os níveis elevados foram detectados apenas entre os moradores da região, e não em amostras de sururu, água ou lama da lagoa. “Como trabalham há anos no local, acabam se expondo continuamente ao mercúrio e acumulando maiores quantidades no organismo”, explica.

Ele ressalta que a contaminação só foi identificada por meio de exames mais complexos. “O mais preocupante é que em testes simples essa quantidade de mercúrio não aparece. Por isso, voltamos ao local com um profissional de saúde para explicar os resultados e orientar sobre os cuidados necessários”.

Além da presença do mercúrio, a equipe identificou alterações na estrutura e função das hemácias, o que pode levar à anemia, e níveis elevados de triglicérides, creatinina e ureia — marcadores de risco cardiovascular e disfunção renal. “Detectamos alterações preocupantes no metabolismo, com impacto direto no transporte de oxigênio pelo sangue. Isso pode comprometer o funcionamento celular em diversos tecidos”, afirma Ana Catarina Rezende Leite, professora do Instituto de Química e Biotecnologia da Ufal e também coordenadora da pesquisa.

A principal fonte de contaminação, segundo o estudo, são os efluentes domésticos e industriais despejados na lagoa, oriundos de Maceió e cidades vizinhas.

Em pesquisas anteriores com animais, os mesmos cientistas já haviam demonstrado que até doses moderadas de mercúrio inorgânico podem causar danos significativos a órgãos como cérebro, fígado e vasos sanguíneos.

“É fundamental monitorar essas populações por mais tempo, compreender os efeitos da exposição crônica ao mercúrio e buscar estratégias para mitigar os danos”, alerta Josué Carinhanha.

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