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MEIO AMBIENTE

Desmatamento recua 48% em Alagoas, mas Caatinga segue sob ameaça

Relatório do MapBiomas revela que avanço da agropecuária é responsável por 96% da área desmatada; pesquisador da Embrapa mostra caminhos para recuperação do bioma

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Imagem ilustrativa da imagem Desmatamento recua 48% em Alagoas, mas Caatinga 
segue sob ameaça
| Foto: Ascom/IMA

O desmatamento caiu 48,6% em Alagoas em 2024, de acordo com dados divulgados pelo MapBiomas, que é uma rede formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia. Foram desmatados 2.763 hectares no ano passado ante 5.355 em 2023. Para se ter uma ideia, um campo de futebol tem pouco mais de um hectare. A caatinga é o bioma mais afetado em Alagoas, com 2.728 hectares derrubados no ano passado. Na Mata Atlântica foram 35 hectares.

De acordo com o relatório, o principal motivo para o desmatamento em Alagoas é o avanço da agropecuária, respondendo por 96% do que foi derrubado. Em segundo lugar aparece a expansão urbana, com 2,5% e, por fim, empreendimentos de energia renovável com 1,5%.

Os municípios alagoanos onde mais foi registrado desmatamento em 2024 foram: Traipu (812 ha), Jaramataia (291 ha), Batalha (275 ha), Belo Monte (154), Girau do Ponciano (124 ha), Delmiro Gouveia (99 ha), Craíbas (94 ha), Major Isidoro (94 ha), Santana do Ipanema (70 ha) e Arapiraca (67 ha).

Doutor em Geoprocessamento e pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Iêdo Bezerra Sá
Doutor em Geoprocessamento e pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Iêdo Bezerra Sá | Foto: — Foto: Arquivo Pessoal

O doutor em Geoprocessamento e pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Iêdo Bezerra Sá, contextualiza o desmatamento na Caatinga de Alagoas. “A população vem crescendo gradativamente, as estradas vêm sendo abertas, as pequenas cidades estão crescendo também. Então, isso tudo é em detrimento da Caatinga”, elenca.

Sá conta que a Embrapa, numa parceria com a Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) e com o financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), toca um projeto no qual busca mostrar à população local o valor que tem a Caatinga em pé. “As pessoas não se dão conta de que aquilo é um bem preciosíssimo que tem na sua propriedade. E eles não cuidam bem. Então, mostramos como recuperar uma nascente para que ela produza água o ano todo e de boa qualidade, que não seque”, exemplifica.

O pesquisador é categórico ao afirmar: “É possível reflorestar a Caatinga”
O pesquisador é categórico ao afirmar: “É possível reflorestar a Caatinga” | Foto: — Foto: Arquivo Pessoal

O pesquisador é categórico ao afirmar: “É possível reflorestar a Caatinga”. Ele conta como faz isso em seu projeto em comunidades sertanejas de Alagoas, nas cidades de Piranhas e Delmiro Gouveia. “A gente não chega plantando qualquer coisa. A gente faz uma análise do ambiente da propriedade e verifica o que tem de vegetação nativa no presente. Também conversamos com o pessoal mais idoso para saber o que tinha no passado que eles conheciam e que agora não tem mais”.

Iêdo Sá explica que, a partir dessas informações, tenta “imitar a natureza”, ajudando a recuperar regiões estratégicas. Ele pega as espécies nativas daquele ambiente e as planta em uma área cercada. “Se deixar numa área que não tem acesso de animais, pessoas ou caçadores, a natureza se recupera, ela tem uma resiliência muito boa. Mas isso leva um determinado tempo”, frisa.

Nesse processo, o pesquisador ressalta a importância do conhecimento das pessoas mais antigas e nativas. “Eu conheço regiões onde o produtor dizia: ‘ah, nessa região aqui tinha muito mulungu e agora a gente não vê mais nenhum’. Pelo projeto, eles fazem a fundação e levam adubo também, como fósforo, potássio e esterco de curral. “Isso é uma ajuda muito grande para a recuperação desse ambiente, porque as mudas têm muito mais probabilidade de crescer”, pontua.

Iêdo Sá explica que, após um ano desde a implementação do projeto em uma determinada área, a comunidade é chamada.
Iêdo Sá explica que, após um ano desde a implementação do projeto em uma determinada área, a comunidade é chamada. | Foto: — Foto: Arquivo Pessoal

Iêdo Sá explica que, após um ano desde a implementação do projeto em uma determinada área, a comunidade é chamada. O trabalho que vem sendo feito, além dos resultados que já podem ser observados são apresentados aos moradores, que podem dar continuidade. “Fazemos dia de campo, palestras, minicursos, principalmente com a criançada e também com os produtores, mostrando o quanto é viável, o quanto é vantajoso. Você recupera a água, a vegetação, a fauna volta a aparecer”, elenca.

O maior custo do projeto é o isolamento da área. “Você tem que fazer cerca que impeça a entrada de animais. Então, precisa de oito, nove fios de arame, que é a parte mais cara do processo”.

Três décadas após a Eco-92, desmatamento impacta o presente

O debate ambiental ganhou força global há 33 anos, durante a Eco-92, conferência realizada no Brasil e liderada pelo então Presidente Fernando Collor de Mello. Na ocasião, cerca de 200 líderes mundiais participaram do encontro, que pautou, pela primeira vez em escala internacional, a urgência da preservação ambiental. O evento deixou um legado que ecoa até hoje nas normas ambientais e na consciência coletiva.

No presente, quem não está atento à importância da preservação corre o risco, inclusive, de ter financiamentos bancários negados. De acordo com o BNDES, foram evitados R$ 1,2 milhão em empréstimos a produtores rurais que tinham propriedades com indícios de desmatamento ilegal entre fevereiro de 2023 e abril de 2025. Alagoas foi o décimo quinto do Brasil em percentual de financiamento evitado, com 0,8% de crédito não concedido dos R$ 149,7 milhões solicitados. Do total de solicitações feitas para Alagoas desde fevereiro de 2023, em 3,1% foram registrados alertas de indícios de desmatamento ilegal.

O BNDES tem por norma não contratar operações de crédito rural cujo beneficiário final tenha embargos vigentes listados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em qualquer propriedade, mesmo que não seja a beneficiada pelo financiamento, sem adoção de medidas efetivas de regularização. Em caso de embargo vigente após a contratação, a liberação de recursos é suspensa até o protocolo de documentos para regularização perante o órgão ambiental. Se isso não ocorrer em até 12 meses, a operação é liquidada antecipadamente.

Tags:

Alagoas Caatinga desmatamento meio ambiente sustentabilidade

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