MAIS ATENÇÃO ÀS CRIANÇAS
(fds) Vítimas encaram desafio após acidente por queimaduras
HGE realizou 460 atendimentos relacionados a queimaduras em 2024 e, este ano, de janeiro a maio, já foram realizadas 170 assistências


Anthony e Maria Nicole têm nove anos e algo mais em comum: foram vítimas de queimaduras, uma das lesões mais graves e dolorosas que existem. Superar o trauma exige, além de cuidados médicos, apoio da família e acompanhamento psicológico.
Na época das festas juninas de 2024, Anthony colocou fogos de artifício no bolso junto a uma caixa de fósforos e, ao subir uma escada na casa de um parente em Paripueira, o atrito provocou uma explosão. As chamas atingiram parte do corpo do menino, causando queimaduras graves. Ele ficou internado por dois meses no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, com ferimentos em uma das mãos e nas duas pernas.
Em maio de 2025, foi a vez de Maria Nicole. Distraída com o celular, ela saiu correndo do banheiro da casa da avó, no Conjunto João Sampaio, em Maceió, escorregou, bateu no fogão e derrubou uma panela com água fervente. As queimaduras exigiram internação no HGE por cerca de duas semanas. A menina ainda sente dores, está muito assustada e precisa de acompanhamento psicológico.
Anthony sofreu queimaduras de segundo grau em uma das mãos e de terceiro nas pernas, sendo submetido a enxerto de pele. Já Maria Nicole sofreu ferimentos de segundo grau e, apesar de não gostar muito de falar sobre o acidente, enfrenta dores e carrega as marcas da lesão no corpo.
De janeiro a maio deste ano, o HGE já atendeu 170 vítimas de queimaduras, uma média de 34 por mês. O número confirma que o problema persiste como questão de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 mil pessoas são atendidas anualmente no Brasil por queimaduras na rede pública.
As queimaduras, que na maioria das vezes acontecem dentro de casa, podem levar à morte, à internação prolongada, à desfiguração e a incapacidades permanentes. O risco aumenta no período junino, quando cresce a exposição a fogueiras e fogos de artifício, sobretudo entre crianças.

ALERTA
O cirurgião plástico e representante interinstitucional da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), José Adorno, alerta para a necessidade de mais investimentos na qualificação de profissionais. “É preciso investir mais em capacitação de profissionais para que possam atender não somente em centros especializados, mas também nas emergências. Também é preciso melhorar o monitoramento de indicadores, da qualidade do atendimento e configurar uma linha de cuidado”, pontua.
A médica Anna Lima, coordenadora do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do HGE, orienta sobre os primeiros socorros. “No caso de acidente que ocasione queimadura, deve-se irrigar a área afetada com água corrente em temperatura ambiente ou fria. Não se deve aplicar nenhuma substância, como pasta de dente, pó de café ou clara de ovo. Se a roupa estiver aderida à pele, ela não deve ser removida fora do ambiente hospitalar”, alerta.
Anna reforça que cabe aos pais redobrar a atenção com as crianças, especialmente dentro de casa, onde ocorrem muitos acidentes, principalmente as chamadas escaldaduras — queimaduras causadas por líquidos quentes, como água fervente.
“Deve-se orientar as crianças a não ficarem próximas ao fogão, ao forno ou a qualquer chama. No período junino, é fundamental alertar sobre os riscos de brinquedos que parecem inofensivos, como estrelinhas, estalos e bombinhas, mas que podem provocar queimaduras graves, com sequelas estéticas e funcionais importantes”, acrescenta.
Estrutura
O Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do HGE dispõe de 16 leitos - cinco infantis, quatro femininos, seis masculinos e um de isolamento. A unidade conta com sala de balneoterapia, sala de curativos, espaço para procedimentos cirúrgicos, posto de enfermagem, farmácia satélite e ambulatório.
O setor funciona 24 horas, com acesso restrito e medidas rigorosas de controle de infecção, oferecendo atendimento especializado e acompanhamento por equipe multidisciplinar