CRIME NA MADRUGADA
Terror no Pilar: Polícia tenta elucidar assassinato de pedreiro que envolveu 17 criminosos
Investigações apontam que vítima tinha relação com o tráfico e fazia parte de um grupo rival


Madrugada de 26 de junho de 2025. Por volta das 3h40, um jovem chamado Sávio Felipe chega ao Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp) do Pilar para pedir ajuda. Um homicídio acabara de acontecer perto de sua casa. A vítima era seu pai, o pedreiro José Sílvio Araújo da Silva, de 47 anos.
Ao serem informados da ocorrência, policiais militares seguiram até o local do crime, na Travessa São José, bairro Chã do Pilar, próximo ao próprio Cisp. Cada passo dos criminosos naquela rua foi registrado por câmeras de segurança. A cena, brutal, revela 17 homens armados com pistolas e revólveres que se espalham e invadem um imóvel. Oito deles entram na casa e executam José Sílvio no quarto.
Ver as imagens já é perturbador. Para os moradores que testemunharam o ataque, o trauma é profundo. Segundo a PM, o corpo foi encontrado próximo à cama.
A família morava na mesma travessa, em casas distintas. Em depoimento à polícia, o filho da vítima, que mora perto, contou que vários homens, todos armados, arrombaram a porta da residência dizendo que eram policiais, momento em que conseguiram entrar. Logo em seguida, os invasores abriram fogo contra José Sílvio.
Ainda segundo o filho da vítima, outra parte do grupo foi até sua casa e também efetuou disparos contra a porta. A esposa de Sílvio estava presente, mas não foi ferida.

Ainda não está claro se os criminosos tinham como único alvo o pedreiro ou também buscavam intimidar os filhos, ao atacarem outro imóvel. Para a polícia, José Sílvio tinha envolvimento com o tráfico e fazia parte de um grupo rival da organização criminosa que atua na cidade.
ALVO E MOTIVAÇÃO
O grupo que praticou o crime, formado em sua maioria por jovens do Pilar e de Maceió, procurava quem exatamente? Na residência, estavam apenas José Sílvio e sua esposa, cujo nome não foi divulgado. O pedreiro era pai de dois homens com passagens pela polícia por tráfico de drogas e pode ter sido executado por ordem de uma facção rival, o Comando Vermelho (CV).
Uma das hipóteses investigadas é que a motivação esteja ligada a uma tentativa da família de abrir um novo ponto de venda de drogas, o que teria desagradado o CV. O grupo teria sido enviado para cumprir a ordem de execução.
“A pessoa do atentado morava mais na área rural e tem dois filhos diretamente envolvidos com o tráfico. Ele também teria envolvimento, mas não como os filhos. Quando trabalhei no Pilar, cheguei a prender os dois. A informação é que ele, o Sílvio, teria tido um problema com o tráfico recentemente”, afirmou o delegado Sidney Tenório, diretor de Homicídios da Polícia Civil de Alagoas.
A polícia também apura se os 17 homens acreditavam que os filhos de Sílvio estivessem na casa naquela madrugada. Por isso, teriam formado um grupo tão numeroso para a ação. Segundo as investigações, os autores são, em sua maioria, do Pilar e da capital.
PILAR JÁ FOI MAIS VIOLENTA
A invasão à Travessa São José remete a um tempo sombrio da história local. De acordo com o Mapa da Violência 2011, do Ministério da Justiça, Pilar era o município mais violento de Alagoas e o quinto do país, com taxa de 110 homicídios por 100 mil habitantes — quatro vezes a média nacional na época.
A cidade liderou os índices de homicídio no estado em três edições do estudo: 2011, 2014 e 2015.
“Pilar já foi considerada uma das mais violentas do mundo. Em 2012, foram mais de 50 homicídios. Mas com nossa atuação em 2020, reduzimos para apenas três naquele ano e nove em 2021. Tornamos Pilar uma das cidades mais tranquilas da região metropolitana. Vamos trabalhar para manter essa média, com a prisão de todos os envolvidos”, afirmou o delegado Sidney Tenório.
Um oficial da Polícia Militar que atua na região reforça que o episódio foi atípico. Ele informou que a média atual é de um homicídio a cada dois meses. De janeiro a maio de 2025, cinco assassinatos foram registrados, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP).
REPRESSÃO ÀS FACÇÕES
Combater o avanço das facções criminosas é uma das prioridades da Polícia Civil de Alagoas. Um dos principais alvos das investigações é um suposto chefe do Comando Vermelho, acusado de liderar ações criminosas em diversos municípios e de ser o mandante do assassinato de José Sílvio.
“A maioria dos integrantes dessa facção é formada por jovens da periferia, especialmente da Rua do Forno, onde ocorreu o crime, mas também de outros bairros do Pilar e da Chã do Pilar”, explicou o delegado. O nome do suspeito não foi revelado. Segundo a polícia, ele possui ao menos cinco mandados de prisão em aberto e está foragido.
Embora não resida mais no Pilar, ele continua atuando como liderança em regiões como Campo Alegre e Teotônio Vilela.
Até a última sexta-feira (4), a polícia havia identificado 15 suspeitos de envolvimento na execução. Dez pessoas foram presas — três foram liberadas por falta de provas diretas, e sete seguem detidas. A investigação continua.