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Imigração

Mais que triplica o número de estrangeiros que buscam Alagoas para morar

A maioria dos estrangeiros residentes no estado é formada por colombianos (200), estadunidenses (164), argentinos (134) e portugueses (122)

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Neozelandesa Briar Rosalie Leith veio passar seis meses em Maceió e acabou ficando para morar
Neozelandesa Briar Rosalie Leith veio passar seis meses em Maceió e acabou ficando para morar | Foto: Acervo pessoal

“Maceió é o segredo mais bem guardado do Brasil. Um paraíso não só para brasileiros, mas para qualquer um que tenha a sorte de encontrá-lo.” É assim que a neozelandesa Briar Rosalie Leith, de 25 anos, descreve a capital alagoana.

Ela desembarcou na cidade em setembro de 2024 para trabalhar como voluntária em um projeto social em uma creche e aprender português durante seis meses. A princípio, retornaria em março de 2025 — mas decidiu permanecer. “Quando cheguei a Maceió, eu não fazia ideia do que esperar. O que encontrei foi um lugar que literalmente roubou meu coração”, afirmou.

Segundo dados do Censo de 2022, divulgados neste mês de julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de estrangeiros residentes em Alagoas mais que triplicou: passou de 577, em 2000, para 1.736. O número de naturalizados brasileiros também subiu, de 298 para 565 no mesmo período.

Briar procurava um destino com clima quente, menor movimentação e que fosse à beira-mar — e encontrou tudo isso em Maceió. Para ela, a cultura local é vibrante. “O calor das pessoas e a beleza da costa despertaram uma conexão imediata com a cidade”, disse.

“O que mais me surpreendeu foi o quanto aqui parece casa — mesmo tão longe de onde cresci. A vida segue um ritmo diferente: mais lento, mais presente. Adoro ir a pé a qualquer lugar”, comentou a professora de inglês, uma das nove neozelandesas residentes em Alagoas, segundo o IBGE.

Entre os costumes que mais a encantaram estão jogar altinha e vôlei de praia com amigos, além de relaxar com um coco gelado à beira-mar. “É esse tipo de magia cotidiana que não existe de onde eu venho.” Ela também se rendeu à culinária alagoana, destacando a tapioca, o cuscuz, o acarajé, a peixada e o bolo de macaxeira.

Foi durante o período junino, em uma viagem a Piranhas, que Briar diz ter descoberto um “Brasil revelador”. “Como muitos estrangeiros, minha imagem do Brasil se resumia ao Rio de Janeiro e São Paulo. Mas Alagoas abriu meus olhos para um país diferente, cheio de profundidade, cor, beleza e histórias que eu nunca imaginei.”

De acordo com o IBGE, os principais países de origem dos estrangeiros que vieram morar em Alagoas em 2022 são Colômbia (200), Estados Unidos (164), Argentina (134) e Portugal (122). Também há registros de imigrantes oriundos de Espanha, Irlanda, Itália, Chile, Angola, Suíça, Luxemburgo, Bolívia, França, Líbano, Rússia, México, Reino Unido, Senegal, Alemanha, República Centro-Africana, Polônia, Cuba, Paraguai, Peru, Nova Zelândia e Venezuela.

Italiano Nicola Stendardo está há 13 anos morando em Maceió
Italiano Nicola Stendardo está há 13 anos morando em Maceió | Foto: Acervo pessoal

Um desses imigrantes é o italiano Nicola Stendardo, de 56 anos. Sua história no Brasil começou no Rio de Janeiro, em 1992. Casado desde 2000, ele e a esposa buscaram um local mais tranquilo para viver e viajaram por todo o Nordeste até escolherem Maceió como lar.

Atualmente, Nicola trabalha como professor de idiomas e, após 13 anos na capital alagoana, nota mudanças positivas na cidade. “Maceió mudou muito, e para melhor. Está cada vez mais atrativa para turistas e melhor para quem vive nela”, afirmou.

Ele diz se sentir plenamente integrado à cidade, tanto no trabalho quanto entre os amigos. O que mais sente falta da Itália é da culinária e dos laços afetivos. “Para nós, italianos, comer é um dos maiores prazeres da vida. Mas nisso, Maceió evoluiu muito e hoje tem ótimos restaurantes”, destacou.

Segundo o Censo de 2022, cerca de 80 italianos vivem em Alagoas. “Depois de tantos anos, não consigo me imaginar deixando para trás tudo o que construí aqui. Meu ideal seria dividir o tempo entre os dois países e aproveitar o melhor de cada um.”

Refúgio e reconstrução

A advogada Beatriz Pradines, especialista em Direito Migratório e doutoranda em Sociedade, Tecnologia e Políticas Públicas, destaca que Alagoas também tem sido refúgio para estrangeiros que fogem de crises políticas, econômicas ou sociais.

Um desses casos é o de Juana (nome fictício), cubana de 55 anos que mora no estado há três anos e solicitou refúgio após deixar Cuba. “Depois da pandemia, a situação no país piorou muito. Faltam alimentos, energia, gás, água, transporte e a educação está precária. Só há energia elétrica por quatro horas ao dia em todo o país — com exceção de Havana, onde estão as embaixadas e o governo. A situação é crítica”, relatou.

Ela conta que muitos cubanos entram no Brasil pela Guiana Inglesa ou pelo Suriname, com apoio de coiotes na travessia. “Quando chegamos ao Brasil, a vida muda. Fomos bem acolhidos. Solicitamos refúgio à Polícia Federal, e o processo pode levar anos. Mas com ele, temos direito a trabalhar, estudar, usar o sistema de saúde — quase tudo o que um brasileiro tem. Estamos trabalhando, estudando, meu esposo está recebendo o tratamento que precisa. Damos graças a Deus e ao Brasil por morar aqui.”

O que explica esse movimento?

Segundo Pradines, diversos fatores explicam o crescimento da presença estrangeira em estados como Alagoas. Entre eles, estão questões sociais, econômicas e demográficas — tanto no Brasil quanto no cenário internacional — e o processo de interiorização que leva imigrantes dos grandes centros a regiões com menor fluxo migratório.

“O Brasil tem se tornado destino de diferentes fluxos migratórios, forçados e voluntários, especialmente de haitianos, venezuelanos, sírios, colombianos, cubanos e, mais recentemente, afegãos. Muitos entram em situação de vulnerabilidade e precisam de políticas públicas de acolhimento e regularização”, afirmou a advogada.

Segundo ela, o processo de interiorização é incentivado por programas oficiais e redes informais de apoio, e tende a crescer quando pequenos grupos de imigrantes criam raízes e passam a facilitar a chegada de familiares e amigos.

Além disso, fatores como o custo de vida mais baixo, oportunidades acadêmicas e profissionais, e a busca por qualidade de vida fazem de Alagoas um destino cada vez mais atrativo.

“Trata-se de um processo dinâmico, que impõe novos desafios e oportunidades ao estado no campo da cidadania e dos direitos humanos”, concluiu Beatriz Pradines.

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