EDUCAÇÃO
Ranking do Enem divulgado pelo MEC destaca colégios militares de Alagoas
Escolas foram as mais bem colocadas entre as instituições públicas do estado


As duas escolas estaduais de Alagoas com melhor desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) entre as instituições públicas do Estado são geridas pela Polícia Militar: os Colégios Tiradentes, unidades de Arapiraca e Maceió. No setor privado, o Colégio Contato lidera o ranking geral com as maiores médias. Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e foram analisados e ranqueados pela empresa Evolucional, com divulgação em julho.
De acordo com o levantamento, o Colégio Contato, cuja mensalidade gira em torno de R$ 2 mil, obteve as melhores notas em quase todas as áreas avaliadas pelo Enem, alcançando uma média geral de 674,98 pontos. Até a 12ª posição do ranking, todas as escolas listadas são privadas.
Na rede pública, o melhor desempenho foi do Colégio da Polícia Militar Tiradentes, unidade Arapiraca, com média de 623,47, na 13ª posição. Em seguida, aparece a unidade de Maceió, que obteve 600,77 pontos, ocupando o 28º lugar. A terceira escola pública melhor colocada foi o Instituto Federal de Alagoas (IFAL), campus Arapiraca, com nota 598, na 32ª posição. A primeira escola estadual que não é vinculada à Polícia Militar foi a Edleuza Oliveira da Silva, de São Miguel dos Campos, na 112ª colocação.
A média das notas do Enem em Alagoas evidencia um abismo entre os desempenhos das redes pública e privada, revelando também um retrato socioeconômico que se repete em todo o Brasil, com impactos diretos na qualidade da educação pública.
Para o subcomandante do Colégio da Polícia Militar Tiradentes, major Anderson, os resultados das duas unidades não são “obra do acaso”, mas fruto de um projeto pedagógico focado na preparação integral dos estudantes. “Acreditamos que um aprendizado eficaz vai além da memorização. Por isso, nossas salas de aula são dinâmicas e estimulantes, pautadas por metodologias que promovem o pensamento crítico e a autonomia”, afirmou.
Ele destacou metodologias como projetos integradores, aulas práticas, debates e seminários, além do foco contínuo em leitura, interpretação de texto e simulados temáticos. A disciplina, segundo o major, também é um diferencial. “A rotina estruturada, o foco na execução de tarefas e a valorização do esforço contínuo se traduzem em hábitos de estudo mais eficazes e maior responsabilidade por parte dos alunos.”
No Colégio Contato, o diretor pedagógico do Ensino Médio, Ernesto Stadtler, atribui os resultados ao planejamento contínuo. “Desde o primeiro ano, trabalhamos o Enem com projetos específicos. No terceiro ano, aprofundamos os conteúdos, realizamos revisões finais e aplicamos oito simulados idênticos ao exame oficial.”
Stadtler também ressaltou o treinamento dos professores. “Eles são preparados continuamente para compreender o perfil do Enem, desenvolver questões semelhantes e orientar os alunos de forma eficaz. Trouxe o Contato para Alagoas para preencher uma lacuna: uma escola que buscasse resultados concretos”, disse.
O educador e doutor em Educação pela Ufal Aristóteles de Oliveira avaliou que os dados reforçam a desigualdade histórica entre as redes. “Isso evidencia um abismo estrutural no acesso à qualidade de ensino, recursos pedagógicos, infraestrutura e formação docente. A predominância das escolas privadas no topo reflete um sistema educacional ainda muito desigual.”
Ele observa que alunos da rede pública enfrentam desafios adicionais, como responsabilidades domésticas e necessidade de contribuir com a renda familiar. “Enquanto isso, os estudantes da rede privada, em geral, podem se dedicar exclusivamente aos estudos.”
Sobre o desempenho dos colégios militares, o professor destaca a gestão autônoma e a rigidez disciplinar como fatores positivos, mas com ressalvas: “Embora apresentem bons resultados, não devem ser vistas como modelo único, pois não são replicáveis em larga escala.”
Ele complementa: “As escolas militares cultivam uma cultura de alto desempenho e acompanhamento pedagógico constante — realidade mais difícil de implementar na maioria das escolas públicas. Simulados frequentes, aulas extras e orientação vocacional também são diferenciais.”
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) reafirmou o compromisso com a equidade social e a valorização da escola pública. Em nota, destacou programas como o Cartão Escola 10 — que inspirou a política nacional Pé de Meia —, o Programa Professor Mentor e o Foca Enem.
A Seduc lembrou ainda que, em 2023, o Ensino Médio estadual atingiu o Ideb histórico de 4,1, reflexo de políticas estruturantes e do engajamento crescente dos estudantes.
A secretária de Estado da Educação, Roseane Vasconcelos, expressou orgulho com os resultados dos Colégios Militares. “Parabenizo publicamente as unidades do Agreste e de Maceió por essas conquistas que, definitivamente, não são por acaso. Elas refletem o trabalho árduo de nossos professores e gestores, e a dedicação incansável de nossos alunos.”
Ela destacou ainda a importância de programas como o Foca Enem. “Vemos no desempenho dessas escolas a materialização do nosso esforço em oferecer uma educação pública de qualidade, que realmente prepare nossos jovens para o futuro e para os desafios do ensino superior. Parabéns a todos os envolvidos por essa grande vitória para a educação de Alagoas!”, concluiu.