GERAÇÃO SAÚDE EM ALTA
Número de academias mais que dobra no Estado em cinco anos
Salto acompanha o crescimento observado em todo o Brasil, impulsionado especialmente pela pandemia da Covid-19


A explosão da Educação Física em Alagoas reflete uma tendência nacional que tem se consolidado ano após ano. O estado registrou mais que o dobro de academias e centros de treinamento desde 2020, totalizando 900 estabelecimentos ativos, além de reunir 5.686 profissionais — marca que inclui desde jovens formados até veteranos com mais de 80 anos ainda em atuação. Esse salto acompanha o boom observado em todo o Brasil, impulsionado especialmente pela pandemia da Covid-19 e pela crescente valorização da saúde e do bem-estar.
A nível nacional, segundo o Conselho Federal de Educação Física (Confef), o país conta hoje com mais de 671 mil profissionais registrados e cerca de 83 mil estabelecimentos voltados à prática de atividades físicas. Se antes o exercício era associado principalmente à estética, hoje ele é visto como parte essencial de um estilo de vida saudável, e isso tem atraído cada vez mais gente — tanto para a prática quanto para a profissão.
O maior contingente de profissionais está em São Paulo (57.338), seguido do Rio de Janeiro (36.071) e de Brasília (19.233). No Nordeste, Fortaleza lidera o ranking de capitais, com 9.896 trabalhadores da área, seguida de Salvador (8.120) e Recife (7.031). Maceió aparece na última posição na região, com 3.301 profissionais.
Em relação aos municípios alagoanos, Arapiraca lidera com 490 profissionais, seguida por Palmeira dos Índios (144) e Marechal Deodoro (127).
O número de estabelecimentos também chama atenção. Em Alagoas, são 900 academias, estúdios e centros de treinamento registrados — mais do que o dobro do que havia em 2020, quando o número era de 443. Se voltarmos ainda mais no tempo, em 2010, o estado contava com apenas 53 estabelecimentos do tipo. Em Maceió, são 368 empresas ativas e o menor número de estabelecimentos por habitante entre as capitais nordestinas: apenas 0,38 empresa por mil habitantes.

Thalysson Marcus, de 29 anos, que atua há 4 anos na área, considera que a pandemia foi um divisor de águas para a profissão. Ele já cursava Educação Física quando o mundo se deparou com o vírus da Covid-19 e também percebeu o aumento do interesse tanto por parte de pessoas que querem atuar na área, quanto daqueles que decidiram levar uma vida mais saudável, tornando a prática de exercícios algo rotineiro.
Apaixonado por esportes, especialmente o futebol, Thalysson hoje atua em diversas frentes. É preparador físico da base do Clube de Regatas Brasil (CRB) e professor em um centro de cross training, além de dar aulas particulares, como personal.
Para se diferenciar no mercado, ele ressalta que procura se capacitar e participar de cursos de atualização e que explorem outras áreas da profissão. “É necessário se capacitar e procurar evoluir como profissional, com cursos e graduações. Eu estou sempre procurando me especializar na área, pois conhecimento nunca é demais. Já tenho alguns cursos de alta performance, ginástica e de psicomotricidade”, revela.
O Conselho Regional de Educação Física (Cref19/AL) atribui o aumento do interesse dos estudantes pela graduação em Educação Física, nos últimos anos, a três fatores principais: a maior valorização do papel social e da promoção da saúde; a inclusão do Profissional de Educação Física em equipes de saúde pública; e ao reconhecimento da Educação Física como componente fundamental da educação integral.

O Cref19 cita que, nos últimos anos, diversos ramos da Educação Física ganharam destaque, contribuindo significativamente para a ampliação das oportunidades de trabalho para os profissionais da área. Segundo a entidade de classe, essa diversificação decorre de mudanças nos hábitos da população, do fortalecimento da cultura do bem-estar e de políticas públicas voltadas à saúde e à qualidade de vida.
Entre os ramos em ascensão dentro da área, estão as assessorias esportivas para corridas de rua, triatlon e ciclismo, por exemplo; atividades físicas integrativas e de bem-estar, voltadas a práticas como pilates, yoga, treinamento funcional, etc; e atividades para grupos especiais, como idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas.
“Esses novos caminhos mostram que a atuação do profissional de Educação Física vai muito além do ambiente escolar e da academia tradicional, exigindo atualização constante, formação multidisciplinar e capacidade de empreender e inovar”, reforça o Conselho.
Em Alagoas, segundo o Cref19, quem mais emprega hoje os profissionais de Educação Física são as academias, inclusive com muitos deles em posições fixas e estáveis. A atividade de personal trainer autônomo é a segunda mais relevante. Já as consultorias online e assessorias especializadas também têm espaço crescente – sobretudo para quem atua em nichos voltados à saúde, performance ou populações específicas.

Maior conscientização
Também formada em Educação Física, Eliquiane Brandão, de 33 anos, está no mercado há sete anos, a maior parte deles dedicados exclusivamente ao trabalho como personal trainer em academia. Ela também cita a pandemia da Covid-19 como uma virada de chave para muitas pessoas, que antes não enxergavam a vida sedentária como um problema.
“Acredito que esse aumento vem da maior conscientização sobre os benefícios da atividade física para a saúde física e mental. A mudança de comportamento pós-pandemia fez muita gente buscar uma rotina mais ativa. Isso impulsionou tanto a procura pelo curso quanto a abertura de mais academias e estúdios. Hoje, as pessoas entendem melhor que se exercitar não é só questão estética, mas de qualidade de vida, e isso vale especialmente para quem lida com dores, transtornos ou limitações”, afirma.
Ela destaca que sempre teve uma ligação forte com o movimento e acredita no poder dele como ferramenta de transformação. “Escolhi essa profissão porque gosto de cuidar das pessoas e sei que, com o exercício certo e o acompanhamento adequado, é possível melhorar a vida de quem enfrenta dores, limitações motoras ou desafios como o TDAH e o autismo”, pontua.
Para se diferenciar no mercado, ela conta que, além do conhecimento técnico, é fundamental ter sensibilidade, paciência e a capacidade de escutar e observar com atenção. “Adaptar o treino à realidade de cada pessoa, individualizando ao máximo, faz toda a diferença, especialmente quando se trabalha com pessoas neurodivergentes ou com lesões, que exigem uma atenção ainda maior aos detalhes”, fala, pontuando que, para se manter atualizada, Eliquiane ressalta que sempre busca conhecimentos na área da reabilitação, neurodivergência e formas de adaptar o treino para diferentes perfis.

Desafio
Ao mesmo tempo em que os avanços quantitativos são de extrema relevância para o Brasil, também trazem consigo o desafio de manter elevados os padrões de qualidade e segurança nos serviços oferecidos.
“Para que esse crescimento não comprometa a integridade da profissão e a saúde da população atendida, é necessário adotar estratégias que assegurem a formação ética, técnica e científica dos profissionais. O primeiro aspecto fundamental é o fortalecimento da formação acadêmica. Diante da expansão do número de cursos superiores em Educação Física, é imprescindível que haja uma regulação rigorosa por parte do Ministério da Educação (MEC), com avaliações periódicas que garantam a qualidade curricular, o corpo docente qualificado e a oferta de estágios supervisionados adequados à realidade profissional. Outro ponto essencial diz respeito à valorização do registro profissional nos Conselhos Regionais de Educação Física (Crefs), vinculados ao Confef. O exercício legal da profissão depende do registro ativo, sendo fundamental combater a atuação de pessoas não habilitadas”, destaca o Conselho.
Além disso, o Cref19 ressalta que o incentivo à educação continuada deve ser uma diretriz permanente, assim como o compromisso com a saúde e a individualidade em cada atendimento realizado.
“A busca por especializações, capacitações, atualização científica e participação em eventos técnicos são atitudes que possibilitam ao profissional manter-se alinhado com os avanços do conhecimento e com as transformações do mercado. O compromisso com a formação contínua também favorece a atuação ética e responsável, ampliando a capacidade de intervenção qualificada. Por fim, é necessário combater a mercantilização excessiva dos serviços da área, que muitas vezes prioriza resultados imediatos em detrimento da saúde e da individualidade do praticante. A profissionalização do setor, o uso de metodologias baseadas em evidências e o foco na personalização do atendimento são estratégias que equilibram o crescimento do mercado com a responsabilidade social da profissão”, completa o Cref19.
Fiscalização
Para funcionar, todos os estabelecimentos que prestem serviços na área da Educação Física devem contar, durante todo o período de funcionamento, com a presença de profissionais da área, munido do Cref. É obrigatório pelo menos uma pessoa com formação na área para cada pavimento onde haja o funcionamento das atividades, dentro do seu campo de visão.
As fiscalizações realizadas pelo Conselho servem para que as regras possam ser cumpridas e, caso não sejam, as sanções sejam aplicadas. “A fiscalização ocorre de forma rotineira planejada pelo Departamento de Fiscalização e também acionada através de denúncias, que podem ser encaminhadas através do site www.cref19.org.br. As fiscalizações consistem em verificar o funcionamento dos estabelecimentos e das pessoas que atuam no local, tendo que seguir as leis que obrigam o registro de ambos para o funcionamento. Em caso de arbitrariedade, os estabelecimentos podem chegar a ser interditados e os falsos profissionais [pessoas atuando sem registro profissional] denunciadas ao MPAL e instituída multa pelo Conselho”, esclarece.
'Era do bem-estar'
Para a analista do Sebrae, Anisselia Nunes, o crescimento do número de estabelecimentos voltados à prática de atividades físicas é um reflexo da ‘era da saúde e do bem-estar’, uma tendência mundial de maior preocupação com a saúde, bem-estar e qualidade de vida. “Esse fenômeno está associado a vários fatores, como o aumento do interesse por hábitos saudáveis, o avanço das redes sociais na promoção de estilos de vida fitness, o crescimento da classe média e a maior conscientização sobre a prevenção de doenças. Além disso, a pandemia da Covid-19 reforçou a importância do autocuidado, incentivando a prática regular de atividades físicas”, destaca.
De acordo com ela, o perfil dos empreendedores desse setor em Alagoas é bastante diversificado. Em geral, são empreendedores jovens, conectados com as tendências de mercado e preocupados com a inovação, a experiência do cliente e as estratégias de fidelização. E para se destacar no mercado, alguns pontos são fundamentais.
“Para se destacar e concorrer com grandes redes, é fundamental que o negócio ofereça um serviço personalizado e um bom relacionamento com o cliente. Algumas estratégias incluem o foco no atendimento humanizado e na fidelização, como conhecer os clientes pelo nome, entender suas metas e acompanhar a evolução deles faz a diferença; o investimento em nichos, como idosos, gestantes, atletas ou pessoas em reabilitação física; a oferta de serviços complementares, como nutrição, fisioterapia, aulas de dança ou lutas; uso inteligente da tecnologia, parcerias locais e ter um ambiente acolhedor e bem estruturado”, complementa.