loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
sábado, 02/08/2025 | Ano | Nº 6024
Maceió, AL
22° Tempo
Home > Cidades

MEIO AMBIENTE

Onde a flora vira história

Guardião da biodiversidade alagoana, o Herbário MAC preserva, estuda e compartilha a história das plantas, unindo ciência, memória e descobertas em prol do conhecimento botânico

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp
Herbário MAC guarda rico acervo da flora alagoana
Herbário MAC guarda rico acervo da flora alagoana | Foto: Ailton Cruz

Num espaço discreto, dentro da estrutura do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), está resguardado um verdadeiro tesouro científico: o Herbário MAC. Muito além de uma coleção de plantas prensadas, o local é um centro estratégico de pesquisa sobre a diversidade florística, com forte atuação na taxonomia e no estudo da flora alagoana.

Cada exemplar preservado no Herbário MAC guarda uma história. Muitas delas com mais de um século. Isso faz do local uma fonte de informação essencial para cientistas não apenas de Alagoas, mas de todo o Brasil e do exterior. Lá, são registradas pelo menos 80 espécies de plantas ameaçadas, além de mais de 30 endêmicas, ou seja, exclusivas de Alagoas, ausentes em qualquer outra coleção.

O acervo completo conta, atualmente, com cerca de 76 mil plantas catalogadas, representando a riqueza da vegetação alagoana e registros de outras regiões do País. Espécies ameaçadas, exemplares de alto valor ecológico e plantas com relevância cultural integram a coleção, que é disponibilizada online para ampliar o alcance das informações, fazendo com que o herbário cumpra um papel fundamental na democratização do conhecimento e no fortalecimento da pesquisa botânica.

Coleção conta com cerca de 76 mil exemplares de plantas catalogadas

Herbário MAC, espaço do IMA que reúne uma coleção com milhares de exemplares de plantas prensadas para estudiosos da flora alagoana e brasileira. Alagoas - Brasil.

Foto:@Ailton Cruz
Coleção conta com cerca de 76 mil exemplares de plantas catalogadas Herbário MAC, espaço do IMA que reúne uma coleção com milhares de exemplares de plantas prensadas para estudiosos da flora alagoana e brasileira. Alagoas - Brasil. Foto:@Ailton Cruz | Foto: Ailton Cruz

Com uma coleção que reúne amostras recentes e outras coletadas há mais de 100 anos, obtidas por meio de intercâmbio com outras unidades no Brasil, o Herbário MAC possui relevância histórica e científica inquestionável. Esses registros preservam a memória da biodiversidade, mas oferecem também dados valiosos para estudos comparativos e de monitoramento ambiental. Cada exsicata — como são denominados os exemplares prensados — traz informações cruciais sobre o local, data, condições ambientais e status de conservação.

As coleções de herbários têm papel essencial nos estudos de referência sobre mudanças climáticas, fornecendo subsídios indispensáveis para diversas áreas da ciência, a fim de compreender como as plantas se adaptam e como os ecossistemas respondem às alterações ambientais.

“Auxiliam também no entendimento sobre interações entre planta e inseto, entre outras áreas de estudo. As espécies catalogadas em um herbário indicam a data e o ambiente em que foram coletadas, bem como o status de conservação, entre outros aspectos”, afirma a curadora do acervo, Rosângela Lemos.

A preservação desse valioso acervo exige um trabalho técnico contínuo e criterioso, com ações diárias de controle de pragas, temperatura e umidade, conduzidas por profissionais especializados, além de medidas preventivas anuais para assegurar a durabilidade e a integridade das amostras. O objetivo é garantir que esse patrimônio natural permaneça acessível para consulta e pesquisa pelas futuras gerações.

Curadora do acervo, Rosângela Lemos fala da importância do Herbário MAC para a ciência
Curadora do acervo, Rosângela Lemos fala da importância do Herbário MAC para a ciência | Foto: Ailton Cruz

“Todo o acervo é preservado e está disponível para pesquisa no Brasil e no exterior, e o processo de conservação da coleção do Herbário MAC do IMA visa assegurar a durabilidade com qualidade de todos os registros para uso permanente”, destaca Rosângela.

Nos últimos anos, o herbário também passou a investir na digitalização em alta resolução. As imagens das exsicatas estão sendo armazenadas em nuvem e integradas a plataformas digitais que facilitam o acesso de pesquisadores de diversas áreas. Além de preservar a coleção física, essa estratégia amplia seu alcance e permite que a informação circule com mais rapidez e segurança — um avanço relevante no contexto da ciência aberta.

O Herbário MAC é uma ferramenta essencial para compreender o presente e o futuro da vegetação brasileira. Ali, a ciência floresce em cada detalhe cuidadosamente preservado entre folhas, etiquetas e memórias vivas da nossa biodiversidade. É isso que aponta a bióloga e professora de Botânica e Ecologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Flávia Moura, ao ressaltar que o Herbário MAC é um dos principais centros de documentação da flora alagoana, representando muito mais que um depósito de amostras botânicas — é um centro vivo de pesquisa, ensino, orientação e resistência científica.

“É graças a esse acervo que hoje podemos afirmar, com base em evidências sólidas, que Alagoas abriga pelo menos 80 espécies de plantas ameaçadas e oficialmente reconhecidas, e que temos 33 espécies endêmicas, portanto exclusivas do nosso estado, que ainda não constam em nenhuma lista de conservação”, afirma a especialista, que conhece de perto a história da coleção, iniciada na segunda metade da década de 1970, ainda sem nome, mas com o objetivo claro de documentar a flora alagoana.

Exemplares de plantas ficam armazenados em locais adequados para posterior consulta e pesquisa
Exemplares de plantas ficam armazenados em locais adequados para posterior consulta e pesquisa | Foto: Ailton Cruz

“O herbário do IMA é uma jóia da ciência”, diz biólogo

O biólogo Iremar Bayma, mestre em Agronomia e atuante em estudos de licenciamento ambiental, foi estagiário e bolsista do IMA entre 1992 e 2010, e considera o herbário uma referência em pesquisa e acervo científico.

“Não tem preço. Uma parte da flora de Alagoas e do Nordeste está depositada naquela coleção científica. Meu trabalho, na época em que estive no herbário, ia desde as coletas de campo dessas plantas até a preparação das exsicatas, passando pela identificação botânica”, recorda o biólogo.

Iremar Bayma conta que, quando não conseguiam identificar completamente uma planta, enviavam um exemplar a outros herbários espalhados pelo mundo para análise de especialistas. Após algum tempo, a planta era devidamente identificada.

“O herbário do IMA é uma joia da ciência. Seu acervo é inestimável. Fruto do trabalho de dezenas de biólogos e estudantes que amam a natureza. Se não fosse o Herbário MAC, eu não seria a metade do profissional que sou hoje”, afirma.

Bayma destaca cada etapa desse processo meticuloso e valioso. Lembra que um herbário é uma coleção de plantas desidratadas, servindo como referência para pesquisadores sobre a flora de uma região, além de ser o local onde os botânicos armazenam o acervo vegetal para estudos científicos.

“Como é difícil — ou quase impossível — manter milhares de plantas vivas para pesquisa, desidratamos e guardamos as partes mais importantes na forma de exsicatas, que são plantas secas com folhas, flores e frutos costuradas em uma cartolina. Em cada exsicata também vai um rótulo com o nome da planta, o local de coleta e o nome do técnico coletor”, explica.

Depois disso, relata Bayma, a exsicata é armazenada em armários de aço, em ambiente refrigerado com repelentes para insetos. “Quando algum botânico precisa estudar determinada planta, pode visitar o herbário, solicitar a exsicata e fazer as pesquisas necessárias”.

Herbário auxilia pesquisadores que estão em campo e precisam de uma referência sobre a flora alagoana
Herbário auxilia pesquisadores que estão em campo e precisam de uma referência sobre a flora alagoana | Foto: Ailton Cruz

Novas descobertas

No ano passado, pesquisas indicaram evidências da presença de até três novas espécies de plantas no interior de Alagoas, pertencentes ao gênero Ameroglossum (Linderniaceae, Lamiales). A descoberta animou os pesquisadores e, paralelamente aos trabalhos de campo, foram feitas consultas ao Herbário MAC para validar a hipótese.

As características singulares das plantas encontradas, como coloração das flores, tonalidade das folhas e formato de crescimento, foram os principais indícios para a possível identificação de novas espécies, e o apoio do Herbário MAC foi decisivo para essas descobertas.

A curadora do espaço reforça a relevância de uma coleção científica bem estruturada. “É só por meio de uma coleção como essa, bem referendada, bem cuidada e organizada, que podemos oferecer respaldo aos pesquisadores que, de alguma forma, descobrem novas espécies ou descrevem plantas que ocorrem no Nordeste, no Brasil, no mundo. Sabemos que podemos contribuir com a ciência alagoana”, pontua.

Herbário MAC funciona na sede do IMA, no bairro do Farol, em Maceió
Herbário MAC funciona na sede do IMA, no bairro do Farol, em Maceió | Foto: Ailton Cruz

A estudante de Engenharia Florestal da Ufal, Janayna Rodrigues Dantas, de 26 anos, destaca a importância do Herbário para os estudiosos da área. “Por meio dele, podemos realizar estudos sobre a biodiversidade das florestas, a importância da preservação, bem como obter informações valiosas sobre a nossa flora alagoana, integrando teoria, prática e pesquisa em um único local”, afirma a jovem, que atualmente desenvolve pesquisa sobre recuperação de áreas degradadas.

Segundo ela, no meio acadêmico, o Herbário MAC é amplamente valorizado e considerado uma preciosidade. “O espaço fornece conhecimento e material para pesquisas científicas, além de facilitar a identificação de espécies em campo, em estudos como inventários florestais e levantamentos fitossociológicos”, diz Janayna Rodrigues.

“Vale lembrar ainda que o herbário também é visto como uma extensão da sala de aula, onde temos a oportunidade de ampliar nossos conhecimentos práticos e teóricos em disciplinas como Ecologia, Dendrologia, Botânica, Anatomia Vegetal, entre outras”, conclui a estudante de Engenharia Florestal da Ufal.

Relacionadas