NO REINO UNIDO
Estudante alagoana leva canção de Chico Buarque a debate internacional
Íris Ramalho foi contemplada pelo programa Daqui pra o Mundo, do governo do Estado, e está na Inglaterra


Em meio a uma discussão sobre liberdade e censura, a sala de aula da Bayswater College, em Bournemouth, transformou-se em um espaço de troca cultural. Íris Ramalho, 16 anos, aluna da Escola Estadual Djalma Barros Siqueira, de Coruripe — vinculada à 2ª Gerência Especial de Educação (GEE) —, usou a canção “Cálice” para conectar a história do regime de exceção brasileiro a um público global, formado por colegas de diversas nacionalidades, como árabes, colombianos, mexicanos, coreanos e italianos. A jovem é uma das 100 estudantes alagoanas contempladas pelo programa Daqui pra o Mundo, da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), que viajaram para o exterior para aprimorar o inglês.
A cena, não planejada, surgiu durante um debate sobre o livro A Revolta dos Bichos, de de Mykola Kostomarov. O tema da censura abriu um diálogo sobre o poder da música como forma de protesto. Foi nesse momento que Íris, apaixonada por história, viu a oportunidade de compartilhar uma parte fundamental da identidade brasileira.
“Eu amo essa música e acho ela muito tocante, tanto pela história quanto pelo significado”, conta a jovem.
Íris, a professora e os colegas traduziram verso a verso, desvendando as metáforas e referências utilizadas pelos compositores. “Nós fomos explicando o que cada coisa significava e como isso se conectava, tanto com as alusões religiosas que Chico Buarque fez parecer, quanto com as referências que estavam escondidas”, relata.
O resultado foi surpreendente. Os alunos se mostraram fascinados, e a sala de aula se tornou um espaço de trocas. Os colegas começaram a compartilhar suas próprias histórias de resistência em seus países, criando um laço cultural que a distância não apaga.
Para Íris, a experiência reforçou a crença de que o intercâmbio não é apenas sobre o que se aprende, mas também sobre o que se ensina. “Eu já tinha a noção de que seria uma imersão cultural. Iria aprender a língua sim, mas iria aprender a cultura de outro país também”, explica. No entanto, ela confessa que a liberdade de discutir abertamente sua cultura e história com colegas de diferentes partes do mundo foi uma grata surpresa.
Tanto estudantes quanto professores apontaram que a atitude espontânea da jovem mostra o verdadeiro valor de um programa como o Daqui pra o Mundo: não se trata apenas de fornecer passagens e bolsas de estudo, mas de capacitar jovens para serem embaixadores da cultura brasileira. Em vez de apenas aprender inglês, a aluna de Alagoas deixou uma marca, provando que nossa história e nossa arte são universais e capazes de derrubar barreiras