CIVISMO
Escolas em Alagoas mantêm tradição de cantar o Hino Nacional
Prática, que já foi obrigatória em instituições públicas e privadas, segue despertando sentimentos de civismo e identidade


Uma vez na semana, o dia começa com os alunos perfilados no pátio. Ao som do Hino Nacional, crianças e adolescentes ouvem e muitos acompanham a letra cantando. Também é executado o hino de Alagoas.
“Tenho um sentimento de nacionalismo e de união, por ficarmos todos juntos nesse momento na escola. Paramos todas as atividades que estamos fazendo e descemos para a quadra ou pátio para dedicarmos um pouco do nosso tempo”, ressaltou Pedro Sena, estudante da escola SEB Maceió.
Na unidade de ensino onde o Pedro estuda, todas as turmas, desde a educação infantil ao ensino médio, participam. O diretor Ricardo Andrade explica que a atividade está diretamente relacionada às orientações pedagógicas nacionais.
“Essa prática está alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece, entre as competências gerais da educação básica, a importância de desenvolver nos estudantes o senso de cidadania, a valorização das instituições democráticas e o respeito aos símbolos nacionais e regionais”, destacou.
Segundo ele, mais do que um ritual, o momento representa um aprendizado que vai além do ambiente escolar. “Entendemos que esses momentos contribuem para a formação integral de nossos alunos, fortalecendo o reconhecimento e o respeito pelas instituições de Estado, pelos direitos e deveres da vida em sociedade e pelo sentimento de pertencimento à sua comunidade e ao país. É uma experiência que transcende o ambiente escolar e prepara cada estudante para exercer, de forma consciente, seu papel como cidadão.”
O diretor ressalta que a recepção entre os estudantes pode variar, mas que cabe à escola reforçar o significado da prática. “Alguns já demonstram engajamento espontâneo, outros podem perceber como uma obrigação. Mas é justamente aí que entra o nosso papel como educadores. A escola, ao lado das famílias, tem a responsabilidade de mostrar o significado maior por trás desse gesto, que vai além de uma simples cerimônia.”

De acordo com Andrade, a execução dos hinos deve ser entendida como um espaço de aprendizado cívico. “É a partir dessa missão que entendemos a execução dos hinos como muito mais do que um ato formal: é uma oportunidade de fortalecer valores coletivos e contribuir para que nossos estudantes se desenvolvam como cidadãos conscientes de seu papel na sociedade.”
Executar o Hino Nacional é uma obrigação para todas as escolas públicas e privadas do Brasil. Essa exigência está prevista na Lei 5.700/1971, que dispõe sobre a forma de apresentação dos símbolos nacionais. O artigo 39 da norma determina que é obrigatório o ensino do canto e da interpretação da letra do Hino Nacional em todas as unidades de ensino de primeiro e segundo graus. Em 2009, foi acrescentada a obrigatoriedade da execução do hino uma vez por semana nessas instituições. Na prática, porém, a ação depende da iniciativa de cada escola.
O sociólogo e historiador Marcos Victor observa que a lei raramente é cumprida. “Poucas instituições seguem essa prática, muitas vezes apenas por tradição. Falta fiscalização, e até mesmo diretores desconhecem a obrigação. Mesmo que houvesse sanções, seriam questionáveis, já que poderiam ser contestadas com base na liberdade de expressão e na filosofia de cada escola”, afirma.
Tradição preservada em outras escolas
Mesmo em tempos de mudanças nos métodos de ensino, algumas escolas ainda preservam a tradição de executar e cantar o Hino Nacional Brasileiro. A prática, que já foi obrigatória em instituições públicas e privadas, hoje depende da iniciativa de cada unidade e segue despertando sentimentos de civismo e identidade entre os estudantes.
Em Alagoas, colégios como o Maria Montessori e o Santíssima Trindade, ambos em Maceió, também mantêm a atividade.
A orientadora educacional do Colégio Maria Montessori, Marizaura Caraviello, explica que a escola busca trabalhar a cidadania de forma prática.
“O colégio desenvolve o trabalho com princípios educacionais que abordam e enfatizam o respeito, a responsabilidade e a cidadania dos alunos por meio da educação cívica. Nesse contexto, dinamizamos projetos com os estudantes através de exercícios que estimulam habilidades e a capacitação para o protagonismo, dando autonomia e valorizando os símbolos nacionais, as letras e melodias dos hinos e as datas comemorativas de acordo com cada calendário cívico”, afirmou.
Segundo ela, a proposta pedagógica vai além da execução dos hinos. “Em nossa metodologia está inserida a cultura de vivenciar valores e princípios significativos, que promovam à comunidade escolar uma educação de qualidade e uma educação para a paz, primordiais e fundamentais ao nosso processo educativo.”
Já a coordenadora do Colégio Santíssima Trindade, Andréia Amâncio, afirmou que a escola mantém a tradição por entender que ela cumpre um papel formativo.
“A escola decidiu manter a prática de cantar o Hino Nacional por entender que esse momento contribui para fortalecer o sentimento de pertencimento, respeito e valorização do nosso país. Além disso, cultiva disciplina e identidade cultural”, explicou.
Segundo ela, a reação dos alunos varia. “A princípio, os novatos encaram como uma obrigação. Mas, com o tempo, passam a compreender o real significado. Nunca houve resistência por parte de pais ou estudantes. Pelo contrário, principalmente os pais consideram a prática um diferencial do colégio.”
A orientadora destacou que até os menores participam da experiência. “Nossas crianças da Educação Infantil assistiram a vídeos infantis, músicas e coletivamente estão preparando cartazes para exposição.”
Resultado na sala de aula
Andréia fala que a escola aproveita a execução dos hinos também como recurso pedagógico. “Sempre no início do ano informamos que o hino é cantado nas segundas e sextas, em respeito ao nosso País. Inclusive, na Semana da Pátria, desenvolvemos um mini projeto. Na culminância, todos os alunos se vestem de verde e amarelo para cantar os hinos e apresentar um jogral sobre a Independência”, diz.
Os próprios estudantes entendem a importância do ato. “Nas salas, geralmente, falam conosco em datas comemorativas, como o 7 de Setembro e o que representa o hino e os outros símbolos nacionais. Sempre na primeira execução do ano há uma explicação sobre a importância desse momento”, contou Pedro Sena.
O estudante admite que nem sempre o conteúdo da letra é de fácil entendimento. “Confesso que tem muitas palavras que não usamos mais hoje e fica um pouco difícil de entender. Mas, no geral, mostra a garra de um povo que lutou pela liberdade do nosso País. Pra mim, representa isso”, comenta.