INÉDITO NO BRASIL
Pesquisa da Ufal revela impacto da poluição plástica em tartarugas marinhas
Levantamento serve ainda como instrumento para implementação de políticas públicas

Pesquisa inédita no Brasil, realizada por professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), identificou a relação direta entre a quantidade de plástico presente nas praias e a ingestão desse material por tartarugas marinhas. Nesse contexto, foram analisados 120 desses animais aquáticos localizados mortos em 100 km da costa alagoana.
Ao avaliar a quantidade de plástico na praia e a quantidade ingerida pelas tartarugas-verde, os pesquisadores constataram que o aumento de apenas uma unidade de plástico flexível (como sacolas plásticas ou embalagens de biscoitos e salgadinho) por metro quadrado na praia, leva ao aumento em mais de cem vezes da quantidade de plástico ingerida pelas tartarugas
“A tartaruga-verde é um animal interessante para ser usado como bioindicadora, porque a área que ela usa para se alimentar, para dormir, é basicamente a mesma área que a gente usa aqui para turismo e para até pegar nosso alimento do pescado. Então é uma área que a gente tem uma forte interação”, afirma o professor Robson Santos, coordenador do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno da Universidade Federal de Alagoas (Ecoa Lab/Ufal).
Outro ponto importante, segundo o pesquisador, é que a tartaruga-verde é uma "espécie carismática", ou seja, que chama a atenção das pessoas. “É mais fácil você atrair a atenção do problema quando você mostra a perspectiva do animal como esse, que tem um papel ecológico grande, como megaherbívoro e tem um apelo para a população também grande”, acrescenta Robson Santos.
A pesquisa serve ainda como instrumento para implementação de políticas públicas, segundo análise do professor da Ufal.
“Por exemplo, vamos supor que a gente tem uma legislação que fala: a gente vai ter que vamos proibir sacolas plásticas, por exemplo. A gente vai conseguir ter uma ideia de quanto essa legislação pode estar impactando positivamente o ambiente. Então, se a gente começar a ver que na espécie de indicadora a ingestão de plástico está diminuindo, isso mostra uma eficácia da legislação também”, reforça Robson Santos.
Outras linhas de pesquisas estão em andamento na Ufal, que tratam do impacto do plástico no meio ambiente, e que podem levar a novas descobertas.
“A gente está avaliando como o plástico chega em locais remotos e trabalha em várias vertentes para entender como a poluição por plástico está no ambiente, trabalhando com animais distintos e ambientes distintos. Do ponto de vista da tartaruga, o que a gente está tentando entender agora é ver o tamanho do impacto para ela, porque às vezes pode não matar diretamente, mas reduz a saúde do animal”, finaliza o professor da Ufal.
Através do monitoramento da ingestão de plástico por esses animais os pesquisadores conseguirão entender como é grave a poluição por plástico nas regiões costeiras, ao mesmo tempo que será possível avaliar a efetividade de políticas públicas que visem a redução da poluição por plástico.