Maceió testa aplicativo municipal de mobilidade e motoristas projetam ganhos mais justos

Maceió iniciou a fase de testes do seu novo aplicativo municipal de mobilidade, iniciativa pioneira em Alagoas que promete transformar a forma como motoristas e passageiros se relacionam com o transporte por aplicativo. A proposta é oferecer corridas com taxas mais justas e, ao mesmo tempo, investir em mecanismos de segurança inexistentes nas plataformas tradicionais.

Atualmente, mais de 50 motoristas participam da chamada Prova Objetiva de Conceito (POC), um período de 30 dias em que a plataforma precisa demonstrar, na prática, que atende aos requisitos de funcionamento definidos pelo Departamento Municipal de Transportes e Trânsito (DMTT).

Nesse perío |do, as corridas já são reais e remuneradas: os motoristas recebem chamadas, fazem cobranças e utilizam o sistema em condições equivalentes às que terão no futuro. Ao final, será produzido um relatório técnico que avaliará se os critérios foram cumpridos e, em seguida, haverá um debate com os motoristas para consolidar os ajustes necessários.

A expectativa é que, caso o resultado seja positivo, o serviço passe a funcionar ainda este ano.

Um dos pontos destacados pelo município é que o projeto não gera despesas para os cofres públicos. Segundo o DMTT, a iniciativa é resultado de parcerias com empresas especializadas em mobilidade e tecnologia, que desenvolvem e testam o aplicativo sem repasses financeiros da Prefeitura. O aplicativo surge como uma forma de atender os pleitos da categoria.

"Nossa intenção com esse aplicativo é atender os dois principais pleitos da categoria: rendimentos e segurança. Segundo os motoristas relatam, as plataformas atuais ficam com mais de 50% do valor da corrida. A ideia é que sendo feito através da prefeitura, seja um valor mínimo e dessa forma tem a capacidade de baixar preço também para os passageiros. E a outra situação é a segurança. Eles têm sido recorrentes vítimas de crimes violentos. Uma dificuldade das plataformas é que elas não divulgam dados da corrida e isso fica limitado para dar mais segurança aos motoristas. Está sendo testado que a gente tenha acesso durante a corrida, caso ele (motorista) acione o botão de emergência pelo celular ou no botão físico e a gente já passa o alerta no DMTT, Guarda Municipal e depois, quem sabe, disponibilizar para a PM e abordar o veículo e verificar se está tudo bem.”

André ainda destacou o exemplo de Sorocaba (SP), cidade que já implantou um modelo semelhante e que serviu de inspiração para Maceió.

“Lá, o aplicativo municipal tem ganhado amplo espaço e forçado as grandes plataformas a reduzirem os preços. Os motoristas compraram a ideia, fazem campanha e, nos horários de pico, chegam a desligar as grandes plataformas para utilizar apenas o aplicativo municipal.”

Segurança como diferencial

A criação de um botão de emergência acessível pelo celular ou em dispositivo físico é considerada um dos principais diferenciais do novo sistema. A proposta é que, ao acioná-lo, o alerta chegue imediatamente ao DMTT e à Guarda Municipal, e futuramente possa ser integrado à Polícia Militar.

A medida busca oferecer um nível de proteção inédito, já que motoristas de aplicativos em Maceió relatam casos recorrentes de assaltos, sequestros e até violência física.

Entre os que acompanham de perto o projeto está Elvis Silva, motorista por aplicativo e líder do movimento dos Motoristas de Aplicativo (MDA), que mantém uma página no Instagram voltada à categoria. Para ele, a fase de testes tem trazido otimismo.

“O prefeito e a equipe dele estão pagando R$ 3,00 por quilômetro. Isso é um sonho para qualquer motorista, porque resgata uma realidade de nove anos atrás, quando ainda era possível ter uma boa renda nos aplicativos. Hoje recebemos em torno de R$ 0,96 a R$ 1,10 por km, e ainda temos que arcar com taxas altíssimas. Se o valor se mantiver como está sendo pago nos testes, será uma conquista histórica para a categoria”, afirmou.

A comparação com plataformas já consolidadas, como Uber e 99, é inevitável. Segundo Elvis, a diferença na forma de remuneração é o que mais atrai os motoristas

“Hoje, nessas empresas, eles ficam com até metade do que o passageiro paga. Já no aplicativo municipal, a taxa é de apenas 10%. Isso muda tudo. Além disso, as corridas são pagas na hora, em dinheiro ou cartão, o que já está sendo testado para ver se funciona perfeitamente.”

Outro ponto destacado pelo líder do MDA é a segurança, tanto para quem dirige quanto para quem utiliza o serviço.

“Nas plataformas privadas, é comum encontrar motoristas sem antecedentes checados, contas falsas e até pessoas com histórico criminal. Isso coloca em risco, principalmente, os turistas que chegam à cidade. A promessa do aplicativo municipal é de ter um rastreio mais rigoroso, evitando que pessoas com passagens pela polícia atuem como motoristas”, explicou.

Conforme explicou, a plataforma prevê ainda um botão de pânico integrado ao sistema de segurança da cidade, recurso inexistente nos aplicativos mais populares. A medida, segundo os motoristas, traz maior sensação de proteção, especialmente em um contexto em que a categoria relata frequentes casos de assaltos e sequestros.

Benefícios para passageiros

Para os usuários, a promessa é de tarifas competitivas e maior confiabilidade. A lógica é que, ao pagar melhor ao motorista, o serviço se torne mais atrativo para os condutores, que estarão mais motivados a oferecer qualidade no atendimento.

“Vai ser uma missão dura da prefeitura competir com a Uber e a 99, porque a população já se acostumou a usar esses aplicativos. Mas se for bem divulgado e mostrar as vantagens, os passageiros também vão perceber os benefícios. Segurança e qualidade de atendimento fazem toda a diferença.”

Apesar do entusiasmo, os motoristas reconhecem que a consolidação da plataforma dependerá de investimento em divulgação e da adesão dos usuários.

“Se for um aplicativo amplo, bem divulgado, com benefícios e até promoções, com certeza ele viraliza em Maceió. Nós motoristas estamos prontos para abraçar a ideia, mas a população precisa conhecer e confiar na novidade”, acrescentou Elvis.

Enquanto a fase de testes avança, os motoristas seguem atentos. Eles lembram que ainda enfrentam um cenário de insegurança no dia a dia, sem uma parceria estruturada com as polícias, o que os obriga a recorrer a grupos de mensagens para monitorar uns aos outros em caso de risco.

“Infelizmente, ainda nos sentimos inseguros. A gente depende da solidariedade entre colegas. Recentemente tivemos um caso de sequestro de um motorista em Maceió, que só foi resolvido porque o grupo se mobilizou. Por isso, acreditamos que esse aplicativo pode trazer um avanço, não só no faturamento, mas também em proteção para todos”, relatou.

Próximos passos

A previsão é que, após a implantação, o número de usuários e motoristas parceiros seja ampliado gradualmente, sempre com base nos resultados coletados. Para os motoristas, a esperança é que essa seja a oportunidade de recuperar renda e dignidade na profissão.

“Se o projeto seguir com os valores e benefícios que estão sendo testados, será uma virada de página para quem vive do volante em Maceió. Nós queremos muito que dê certo”, concluiu Elvis.