OPERAÇÃO
Empresário alagoano é preso pela PF acusado de chefiar esquema bilionário de mineração
Alan Cavalcante do Nascimento morava em Belo Horizonte, onde foi preso. Ele é dono de uma mansão em Marechal Deodoro, onde mantinha uma adega de vinhos


A Polícia Federal cumpriu ontem dois mandados de prisão preventiva e três de busca e apreensão em Alagoas como parte de uma operação que investiga crimes ambientais, corrupção e lavagem de dinheiro. Entre os presos está o empresário alagoano Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como chefe da organização criminosa.
Alan é de Junqueiro, interior de Alagoas, chegou a morar em Arapiraca. No Estado, ele foi professor de Matemática. Atualmente, vivia em Belo Horizonte, em Minas Gerais, cidade onde foi preso. O acusado é dono de uma mansão em um condomínio de Marechal Deodoro, onde mantinha uma adega de vinhos. Nesse imóvel a PF cumpriu mandados no Estado.
No total, a ação policial mirou 79 mandados de busca e apreensão e 22 de prisão preventiva em vários estados, além do afastamento de servidores públicos, bloqueio e sequestro de bens avaliados em R$ 1,5 bilhão e da suspensão de atividades empresariais ligadas ao esquema. A determinação partiu do colegiado de juízes da Justiça Federal em Minas Gerais, que ficará responsável pelos julgamentos.
Segundo a PF, o grupo corrompia servidores de órgãos federais e estaduais, como a Agência Nacional de Mineração (ANM), para liberar licenças ambientais fraudulentas que permitiam a exploração irregular de minério de ferro em áreas protegidas, com risco de desastres ambientais e sociais. A estimativa é de que a organização tenha movimentado R$ 1,5 bilhão e possuísse projetos em andamento com potencial de gerar até R$ 18 bilhões.
Entre os presos também estão Caio Mário Seabra, diretor da ANM, e Rodrigo de Melo Teixeira, ex-chefe da Polícia Administrativa da PF e, até o fim do ano passado, diretor de Administração e Finanças do Serviço Geológico do Brasil. De acordo com a investigação, servidores recebiam pagamentos mensais para favorecer empresas ligadas ao grupo.
A apuração começou em 2020 e identificou um conglomerado de mais de 40 empresas, a principal delas a Minerar S/A, usada para fraudar licenciamentos. Em outro caso, a mineradora Gute Sicht obteve autorização para explorar minério usando uma certidão de dispensa de licenciamento ambiental em nome de outra empresa. A liberação ocorreu em pleno Natal, em tempo recorde, e foi assinada pelo então diretor da ANM Guilherme Santan Lopes Gomes, que também foi alvo de mandado de prisão.
As investigações apontam ainda que a mineradora Aiga Mineração S.A. se apropriou indevidamente de uma pilha de rejeitos da Vale avaliada em mais de R$ 200 milhões. No núcleo administrativo-financeiro do esquema, segundo a PF, atuavam Noêmia dos Santos – sócia de Alan e responsável por abrir e operar empresas com falsificação de assinaturas – e outros dois acusados, Felipe Lombardi Martins e Jamis Prado de Oliveira Júnior, encarregados de movimentar e distribuir valores.
O levantamento também revelou tentativas de interferência em projetos de lei da Assembleia Legislativa de Minas Gerais que criariam unidades de conservação na Serra do Curral, região de interesse da quadrilha. Em diálogos interceptados, integrantes do grupo tratavam de pagamentos para barrar propostas ambientais que inviabilizariam seus empreendimentos.
Segundo a PF, os investigados poderão responder por crimes ambientais, corrupção ativa e passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro, usurpação de bens da União e obstrução de investigação. Até o momento, 14 pessoas foram presas em diferentes estados.