EDUCAÇÃO
Expansão de faculdades de medicina em Alagoas acende alerta entre entidades e profissionais
Crescimento no número de cursos preocupa conselhos e sindicatos, que apontam riscos à qualidade da formação


Novas faculdades de medicina vêm sendo abertas em Alagoas e em diversas regiões do Brasil. O que poderia parecer um avanço — o aumento no número de profissionais disponíveis — é visto com preocupação por entidades médicas, que alertam para os riscos relacionados à qualidade do ensino e à inserção desses profissionais no mercado.
Atualmente, existem duas universidades públicas com curso de medicina, sendo uma delas com opção na capital e interior, e três particulares, duas em Maceió e uma em Penedo. Segundo o Sindicato de Medicina de Alagoas (Sinmed/AL), estão previstas 11 novas instituições em diversas cidades do interior até o fim deste ano.
O Conselho Regional de Medicina de Alagoas (Cremal) defende critérios mais rigorosos para a autorização de novos cursos. Segundo Benício Bulhões, presidente do conselho, a presença de hospitais de ensino é essencial para garantir uma formação médica adequada.
“O Cremal, assim como o CFM [Conselho Federal de Medicina], se posiciona contra a abertura indiscriminada de novas escolas médicas, especialmente em municípios sem infraestrutura adequada para assegurar a qualidade do ensino”, afirma Benício.
Na mesma linha, o Sinmed/AL também se opõe à expansão desordenada. Para a presidente da entidade, Silvia Melo, a proliferação de cursos com baixa qualidade pode comprometer a segurança da prática médica.
“É preocupante, sobretudo porque a maioria desses cursos apresenta deficiências na formação. Infelizmente, ao observarmos a atuação de alguns recém-formados, percebemos um certo despreparo técnico, o que representa um risco para a população”, alerta.
Silvia também destaca os impactos econômicos da crescente formação de médicos. Segundo ela, o aumento da oferta de profissionais, sem o correspondente crescimento da demanda, pressiona os salários para baixo e intensifica a concorrência por vagas.
“A lei da oferta e da procura é implacável e afeta a medicina também. Com a enxurrada de formandos a cada semestre, enfrentamos dificuldades nas negociações salariais, especialmente no setor público. Onde há vagas com remuneração justa e boa estrutura de trabalho, a disputa é acirrada”, afirma.
Do ponto de vista dos recém-formados, o cenário também é desafiador. Muitos, diante da escassez de oportunidades, acabam aceitando vínculos informais e condições de trabalho precárias.
“Todo recém-formado sonha em exercer a medicina. Mas muitos se submetem a contratos informais, com remuneração aviltante e sem qualquer garantia trabalhista”, lamenta Silvia.
Para o coordenador do curso de medicina do CESMAC, André Falcão, a expansão dos cursos no estado parece desproporcional às necessidades da população. Ele ressalta que a qualidade da formação depende diretamente da infraestrutura disponível.
“O número de vagas é uma preocupação, pois quanto maior o número de alunos, maior a necessidade de estrutura para capacitação e treinamento. No CESMAC, contamos com a Santa Casa de Misericórdia de Maceió como hospital-escola, o que contribui significativamente para a formação dos nossos estudantes”, explica.
Recém-formado, David Pascoal vê a situação como uma faca de dois gumes. Embora o aumento de profissionais possa beneficiar a população, ele ressalta que o número de formandos em Alagoas é elevado em relação à população do Estado.
“Se considerarmos que entre 500 e 600 médicos se formam por ano em Alagoas, esse número, proporcionalmente, é muito superior ao de outros estados”, observa.
Rodrigo Tenório, estudante de medicina, compartilha uma visão semelhante. Para ele, a expansão é uma resposta natural à demanda, mas deve ser acompanhada de garantias de qualidade.
“Acredito que seja um movimento natural do mercado: quando há demanda, a oferta cresce. Mas é fundamental refletir se essa expansão está sendo feita com responsabilidade e com foco na qualidade da formação”, conclui.