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DESENVOLVIMENTO

Entre o crescimento e o desafio do planejamento: os novos rumos de Arapiraca

Município vive um processo de verticalização, com novos empreendimentos residenciais e comerciais

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Transformação de Arapiraca se reflete na paisagem urbana
Transformação de Arapiraca se reflete na paisagem urbana | Foto: — Foto: Ailton Cruz

Ao completar 101 anos, o município de Arapiraca, no Agreste de Alagoas, reafirma sua posição como um dos principais polos de desenvolvimento do estado. O município, que nasceu do trabalho agrícola e ganhou fama nacional como a “Capital do Fumo”, vive hoje uma nova fase marcada pela diversificação econômica, pelo avanço do comércio e pela consolidação como centro regional de serviços, educação e saúde. O que antes era uma cidade de vocação essencialmente rural, tornou-se um polo urbano dinâmico e estratégico.

Ao longo das últimas décadas, Arapiraca soube reinventar-se. A dependência da monocultura do fumo deu lugar a uma economia plural, que envolve desde o fortalecimento do setor varejista até o crescimento das indústrias de alimentos, materiais de construção e confecções. Essa transformação também se reflete na paisagem urbana: o município vive um processo de verticalização, com novos empreendimentos residenciais e comerciais mudando o perfil da cidade e acompanhando tendências observadas em grandes centros brasileiros.

Esse movimento de expansão tem atraído cada vez mais pessoas de outras regiões do país. Dados do último Censo do IBGE revelam um crescimento no número de moradores vindos de estados como São Paulo e Rio de Janeiro, que enxergam em Arapiraca uma cidade de oportunidades. A infraestrutura em constante aprimoramento, aliada à hospitalidade e ao custo de vida acessível, tem feito do município um destino promissor tanto para novos empreendedores quanto para famílias em busca de recomeços.

De acordo com o Censo de 2022, o número de pessoas naturais do SP morando em Arapiraca atualmente é de 5.381. No censo anterior, de 2020, era de 2.881. É grande também o quantitativo de baianos que escolheram a cidade do Agreste alagoano para morar: 1.533. Há ainda muitos sergipanos (1.672), pernambucanos (9.688) e pessoas naturais de vários outros estados brasileiros.

Arquiteta e urbanista Rosângela Carvalho fala sobre os desafios que Arapiraca precisa enfrentar para um desenvolvimento sustentável
Arquiteta e urbanista Rosângela Carvalho fala sobre os desafios que Arapiraca precisa enfrentar para um desenvolvimento sustentável | Foto: Divulgação/Assessoria

A arquiteta e urbanista Rosângela Carvalho, especialista em Planos Diretores e planejamento urbano, e conselheira federal suplente por Alagoas do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), avalia que Arapiraca chegou aos 101 anos com um grande potencial de transformação.

“Arapiraca é uma cidade que possui um potencial transformador muito grande, que se refez ao longo dos 100 anos. O município tem hoje eixos urbanísticos estratégicos, como o Bosque das Arapiracas e o Parque Ceci Cunha, que são referências e possibilitaram muitas transformações ao longo dos últimos 20 anos”, afirmou.

Segundo a arquiteta, esses equipamentos públicos ajudaram a reorganizar o sistema viário e melhoraram a mobilidade urbana, além de impulsionar o desenvolvimento de novas áreas da cidade. Ela também cita a duplicação de rodovias próximas e a localização geográfica de Arapiraca, que fica situada no centro do estado e com ligações diretas para vários municípios do entorno, como fatores que fortalecem a economia local e estimulam o crescimento regional.

“Essa inter-relação com outros municípios é muito produtiva e criativa. Ela gera uma economia mais fortalecida em função do número de negócios, bancos e feiras que se expandem no município”, explica.

Rosângela chama atenção para problemas que ainda afetam o visual urbano e a identidade arquitetônica da cidade. Segundo ela, Arapiraca precisa evoluir na gestão de sua paisagem, atuando, entre outras coisas, no controle da publicidade e das fachadas comerciais.

“Ainda precisamos avançar muito na questão visual da cidade. Temos muitos outdoors fora das normas, distribuídos de forma irregular e muitas vezes em desacordo com a legislação. Há dois anos, houve uma ação importante da prefeitura para regularizar e limpar esses espaços, mas esse tipo de ação precisa ser constante, porque as pessoas voltam a atuar na irregularidade”, afirma.

VERTICALIZAÇÃO E MOBILIDADE

Outro tema que preocupa Rosângela Carvalho é o processo de verticalização. Ela explica que o assunto ainda não foi amplamente debatido em Arapiraca e que o crescimento vertical deve ser planejado para não comprometer o meio ambiente e a convivência urbana.

“Os grandes edifícios, se não estiverem em harmonia com o território, podem sobrecarregar os sistemas de transporte e de infraestrutura. Cada cidade precisa encontrar a sua própria fórmula de crescer sem perder a escala humana”, defende.

Rosângela acredita que a verticalização pode ser benéfica se for acompanhada de zoneamento adequado e respeito às áreas consolidadas. “É possível crescer, verticalizar e gerar mais eficiência sem perder as características arquitetônicas da cidade, desde que sejam respeitados os zoneamentos específicos e que as novas construções não prejudiquem o modo de viver dos bairros tradicionais. Entre os principais desafios que temos agora está promover um incentivo a uma verticalização que não seja exacerbada, que respeite os limites do meio ambiente de absorver os impactos da ação humana e que gere uma cidade que esteja em consonância, em harmonia com o meio ambiente e com seus munícipes. Esse eu acho que é o nosso principal desafio”, fala.

A arquiteta também reforça a importância de investir em um sistema de mobilidade mais amplo e diversificado. “Precisamos incrementar o sistema viário, não apenas para automóveis, mas também implantar mais ciclovias e fortalecer o transporte público. O VLT, por exemplo, deve se interligar com os ônibus e outras modalidades para que funcione de forma eficiente”, pontua.

Para Rosângela, o desafio de Arapiraca no novo século é construir uma cidade que uma crescimento, sustentabilidade e justiça social. “O planejamento pode contribuir de forma decisiva para a qualidade de vida. Uma cidade mais verde e inclusiva só será possível com decisões políticas e coletivas, a partir de um Plano Diretor participativo”, defende.

Ela conclui destacando que o futuro de Arapiraca deve ser pensado e planejado.

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