CLIMA
Alagoas vive transição climática e enfrenta risco de agravamento da seca
Com o fim do El Niño e a chegada gradual do La Niña, Estado registra baixa umidade e calor extremo


Alagoas enfrenta período de forte instabilidade climática que preocupa autoridades municipais, ambientais e de saúde. O Estado, que nos últimos meses sofre com os efeitos do El Niño, responsável por reduzir drasticamente o volume de chuvas no Nordeste, começa a dar sinais de transição para o fenômeno La Niña. Essa mudança, que costuma trazer precipitações intensas e maior umidade para o semiárido, ainda não se consolidou e deixa o território alagoano em uma fase de neutralidade climática, marcada por temperaturas elevadas, baixa umidade e risco de agravamento da crise hídrica.
De acordo com a Superintendência de Prevenção em Desastres Naturais da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), cerca de 40 municípios das regiões do Sertão, Sertão do São Francisco e Agreste registram umidade relativa do ar abaixo de 30%, índice considerado perigoso para a saúde humana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o índice fique entre 40% e 70%, faixa em que o corpo mantém o equilíbrio fisiológico e reduz o risco de doenças respiratórias.
A previsão indica que as temperaturas podem chegar a 40°C nesta semana e ultrapassar esse limite no Alto Sertão, caso as condições atuais persistam.
O meteorologista Vinícius Pinho, superintendente da Semarh, explicou que o semiárido alagoano — assim como o de outros estados do Nordeste — vive uma fase de neutralidade, com tendência de entrada em um La Niña de nível fraco entre dezembro e janeiro. “Os mapas meteorológicos apontam pouca chuva na região nas próximas semanas, o que reforça o alerta de baixa umidade. As Defesas Civis estadual e municipais devem disseminar essas informações às prefeituras, às Câmaras e à população, orientando medidas preventivas”, destacou o especialista.
Entre as principais recomendações estão a hidratação constante, a redução da exposição solar entre 10h e 16h, o uso de proteção solar e o consumo de água tratada. Pinho alerta ainda para o risco de desidratação, complicações respiratórias e agravamento de doenças crônicas devido ao calor extremo.
Apesar das altas temperaturas, a Semarh e a Defesa Civil mantêm a expectativa de que o La Niña traga chuvas no início de 2026. O fenômeno, causado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, tende a aumentar a umidade e provocar precipitações, o que pode aliviar a seca, mas também ampliar o risco de desastres naturais, como alagamentos e deslizamentos de encostas. “A intensificação dos ventos equatoriais favorece a formação de chuvas, mas o desequilíbrio climático global pode alterar esse comportamento”, alertou Pinho.
O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Moisés Melo, confirmou que o órgão monitora de perto as condições climáticas no semiárido. Ele reconhece a elevação das temperaturas, mas se mostra otimista com a chegada das chuvas. “Estamos aguardando a entrada do La Niña, que deve favorecer o retorno das pancadas de chuva, inclusive nas áreas mais quentes do Sertão”, afirmou o coronel, ressaltando que o monitoramento é contínuo para garantir respostas rápidas em caso de emergências.
A Semarh também recomenda que as prefeituras comecem a planejar políticas hídricas de armazenamento e abastecimento de água, uma vez que o cenário de transição climática pode gerar escassez temporária seguida por chuvas intensas. A ideia é antecipar estratégias de mitigação tanto para períodos de estiagem quanto para possíveis eventos extremos. “A adaptação às variações do clima é essencial para reduzir os impactos econômicos e sociais”, reforçou o meteorologista.
Na esfera institucional, a Associação dos Municípios Alagoanos (AMA) informou que, até o momento, não recebeu pedidos de socorro emergencial das prefeituras, mas destacou que os municípios podem acessar linhas de crédito com juros reduzidos por meio do Fundo de Investimento em Infraestrutura Social (FIIS). O programa, que prevê investimento de R$ 20 bilhões em todo o país, permitirá financiar obras de abastecimento, saúde e educação, auxiliando as administrações locais a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas e preparar suas redes de serviços públicos para os desafios ambientais que se intensificam em Alagoas.
