MEIO AMBIENTE
Mata Atlântica perde espaço para agricultura e pecuária em Alagoas
MapBiomas mostra que nos últimos 40 anos a cobertura de vegetação nativa no Estado saiu de 26% para 19%


Com a COP30 reacendendo o debate global sobre a crise climática, um levantamento recente do MapBiomas revela a perda contínua da vegetação nativa no Brasil. Nos últimos 40 anos, com exceção do Rio de Janeiro e de São Paulo, nenhum estado conseguiu ampliar sua cobertura de Mata Atlântica. Em Alagoas, os dados acendem um alerta: a área de vegetação nativa caiu de 26%, em 1985, para apenas 19%, em 2024.
O analista ambiental, geógrafo e zoólogo Marco Freitas diz acreditar que a redução da floresta se dá principalmente por causa da influência da política “coronelista” nas medidas ambientais e que a situação é desesperadora.
Para ele, com a redução do território, espécies ameaçadas de extinção ficam ainda mais em risco, uma vez que elas não têm espaço para aumentar a população da espécie, o que causa um isolamento genético.
“Eu acredito que a política alagoana tem forte influência nessa diminuição de 7% da Mata Atlântica nos últimos 40 anos. O que é desesperador, porque a Mata Atlântica ao Norte de Alagoas está no Centro de Endemismo Pernambuco, que é um conjunto de espécies endêmicas ameaçadas de extinção, que só ocorre na Mata Atlântica ao Norte de Alagoas”, explica Marco.
Com a falta de árvores, o solo e a água são afetados diretamente devido à falta de uma “cobertura natural”. Devido aos raios ultravioletas do sol, o solo perde micro-organismos presentes, além do ressecamento do local.
“A cobertura florestal de uma mata faz com que as raízes protejam a camada do solo, faz com que o sombreamento mantenha a água na superfície do solo e subsolo, que mantenha o efeito esponja e a água, eliminada aos poucos, mantém a a vazão da nascente. Por isso, a floresta é de extrema importância para a conservação”, diz Marco Freitas.
Para ele, sempre que o desmatamento acontece, o ambiente absorve a poluição. E que não há um limite seguro para esse desmatamento. “Se a legislação fosse cumprida minimamente pelos fazendeiros, a gente não teria tanto problema ambiental. A gente teria APPs [Áreas de Preservação Permanente], além da garantia dos 20% de hectares de Mata Atlântica, caso haja na propriedade”.
A Gazeta entrou em contato com o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) para saber quais medidas são tomadas para diminuir o desmatamento da Mata Atlântica no estado, mas não obteve resposta.
AGRICULTURA
O MapBiomas aponta também que, nesses 40 anos, a agricultura, prática do cultivo do solo para a plantação de alimentos, aumentou sua área na Mata Atlântica,saindo de 24 para 28% de uso de área para essa finalidade. O analista ambiental disse que o aumento populacional, o “plantio empresarial” de cana-de-açúcar e, nos últimos 20 anos, do eucalipto.
explicam esse aumento. Ele ressaltou que muitos assentamentos de movimentos sem-terra em área de relevo acidentado também são responsáveis pelo desmatamento.
“O Assentamento Dom Helder, em Murici, é um típico assentamento que originalmente era uma Floresta Atlântica gigantesca. Como o fazendeiro não podia desmatar aquilo, ele teria mais dificuldade. Então, ele entrou no programa de Movimento Sem-Terra. A área dele foi ocupada, os lotes foram divididos e, em um efeito formiguinha, cada assentado foi derrubando os lotes”, comenta Marco.
PASTAGEM
Outro ponto importante apontado pelo MapBiomas é o aumento da área de Mata Atlântica usada para pastagem em Alagoas, que foi de 14% do território para 35% nas últimas quatro décadas. Marco Freitas utiliza a Aréa de Proteção Ambiental (APA) de Murici, que engloba 10 municípios alagoanos, com 133 mil hectares, como exemplo. O analista atua na região há nove anos.
“O que você percebe é a diminuição no plantio de cana-de-açúcar e no aumento de pastagens. Para o uso do solo, é preferível pastagens com um ambiente mais estável, menos uso de veneno e de fogo. A pastagem aumentou devido à diminuição da cultura da cana-de-açúcar”, diz Marco
Ele alerta que, apesar de satélites mostrarem áreas de matas, há um desmatamento discreto, onde fazendeiros e empresários fazem o “raleamento” da Mata Atlântica, transformando em áreas para pastagem. “O cara tem uma mata, o satélite vê, mas aí o cara vai por baixo e começa a limpar os arbustos da mata. Depois vai derrubando uma árvore de cada vez e, aos poucos, o capim vai tomando conta. Esse é um processo discreto que empresários e fazendeiros utilizam muito”, denuncia.
