AGRESTE
‘LADEIRA DOS JACARÉS’ vira ponto turístico em Arapiraca
Animais são atração em área alagada na Ladeira do Claudionor; prefeitura elaborou plano de manejo


Um fenômeno inusitado tem atraído curiosos e mobilizado autoridades ambientais em Arapiraca. Na Ladeira do Claudionor, região periférica da cidade, jacarés vêm sendo avistados com frequência em uma área alagada, transformando o local em ponto turístico improvisado. Moradores e visitantes fazem vídeos, postam nas redes e até batizaram o espaço de “Ladeira dos Jacarés”.
A cena desperta diferentes reações. “Eu vinha com minha neta para visitar uma parente e vimos um jacaré grande atravessando a estrada. Paramos o carro e ficamos olhando, gravando. Nunca pensei ver isso aqui”, contou Maria Lúcia, moradora da cidade.
A movimentação tem se tornado comum. De acordo com Angélica Souza, que reside próximo à região das aparições, muita gente tem ido ao local apenas para filmar. No intuito de atrair os bichos e conseguir o melhor registro, levam pedaços de carne e pão. “Eu nunca vi algo assim”, reitera.
O ajudante de pedreiro Elenilson Lima também testemunhou os animais e relata um misto de encantamento e receito. “Já parei moto, já corri… é bonito e assustador ao mesmo tempo. A gente não sabe se eles são perigosos. Tem criança passando aqui”, alertou.
Embora parte da população se declare preocupada com a situação, pessoas como o vigilante Cauã dos Santos vê potencial turístico: “Se a prefeitura cercar, organizar, der segurança, pode virar ponto de visita. Muita gente já vem pra cá só pra ver os jacarés”.
O pequeno João Cláudio, de 7 anos, ficou encantado: “Eu vi três! Um mergulhou quando viu a gente”.
Segundo a bióloga Jaqueline Tavares, os animais que aparecem na região são da espécie jacaré-de-papo-amarelo (nome científico: Caiman latirostris), ameaçada de extinção e protegida por lei federal. “Esse é um animal da nossa fauna que está cada vez mais ameaçado e, por isso, a observação sem interferência é fundamental. Alimentar os jacarés, além de crime (Lei nº 9.605/1998), pode comprometer o equilíbrio ecológico e tornar o animal dependente ou agressivo. O ideal é manter distância, não alimentar, não se aproximar e acionar os órgãos ambientais”, explicou.
A prefeitura de Arapiraca informou que já iniciou um plano de manejo para a área e avalia criar uma Unidade de Conservação para proteger o trecho e a fauna local.
“Nosso foco está no plano de manejo, mas a criação da unidade será um passo importante”, afirmou a diretora de Educação Socioambiental, Edione Araújo. Ela lembrou que a área já conta com sinalização e que a equipe de fiscalização ambiental está monitorando o local.
O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) também acompanha o caso. Em nota, o órgão informou que atua na proteção de áreas sensíveis e que, em situações como essa, cabe ao município estabelecer regras de uso e medidas de proteção da fauna. “A alimentação de animais silvestres é considerada crime ambiental, e essa prática deve ser coibida”, destacou o IMA.
Durante uma vistoria no local, técnicos do Instituto encontraram cerca de dez animais. “Esses animais podem ser agredidos pela população, podem sofrer acidentes ou se machucar, e, caso sejam alimentados indevidamente, irão continuar retornando à área. Além disso, também podem ocorrer acidentes com as pessoas, que podem ser mordidas”, explicou Rafael Cordeiro, técnico do IMA.
A situação levou a Defensoria Pública do Estado de Alagoas (DPE/AL) a cobrar providências para garantir a segurança da população. A defensora pública Brígida Barbosa enviou recomendação à prefeitura alertando para os riscos da alimentação dos animais e da circulação dos répteis às margens do rio.
Em resposta, a prefeitura apresentou um Plano de Manejo da Fauna Silvestre, prevendo ações de monitoramento, resgate e realocação segura dos jacarés, além da instalação de sinalização preventiva e campanhas educativas para conscientizar a população sobre como agir em caso de avistamento. A Defensoria afirmou que continuará acompanhando o caso para garantir a implementação das medidas e assegurar uma convivência segura e responsável com a fauna silvestre.
MARECHAL DEODORO
Casos semelhantes também têm sido registrados em outras regiões do estado. Em Marechal Deodoro, jacarés aparecem com frequência em áreas alagadas nos bairros da Poeira e Cabreiras, principalmente após chuvas. Moradores acionam o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) para o manejo seguro dos animais.
A influenciadora digital Roberta Ernesto, que mora em Marechal, relatou a situação nas redes sociais. “A gente sempre vê jacaré aqui, mas agora tem aparecido mais. O certo é não mexer e chamar o BPA. Eles vêm, pegam e soltam no habitat natural”, contou.
