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Adolescentes sustentam 6,5 mil fam�lias em Alagoas

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WELLINGTON SANTOS O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado recentemente, revela um dado preocupante em Alagoas. Cerca de 6,5 mil domicílios do Estado são chefiados por crianças e adolescentes na faixa dos 10 até 19 anos. Isso mostra que, em números absolutos, mais de 33 mil pessoas dependem diretamente da renda desses jovens para o sustento de casa. Outro dado importante e grave, segundo especialistas, é que aproximadamente a metade deles, cerca de 48,2%, tem uma renda mensal de até um salário mínimo, significando a reprodução do que alguns chamam de ?ciclo de pobreza? no qual a renda e a escolaridade são baixas. Domicílios São 649.365 domicílios existentes em Alagoas, dos quais 6.539 têm como responsáveis diretos jovens entre 10 e 19 anos. ?Em termos percentuais aparentemente isso parece ser pouco, mas em números absolutos representa muito. Seguramente o que eles ganham não dá para suprir as necessidades da família. E mais: se supormos que em cada domicílio morem 5 pessoas, multiplicados por 6,5 mil, teremos quase 33 mil pessoas dependendo diretamente desses jovens com renda de até um salário mínimo para sobreviver?, analisa Edmilson Veras, pesquisador do CNPq e ex-professor de Economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Daniel da Conceição, 13 anos, encaixa-se perfeitamente nesse perfil de adolescente que tem renda baixa e teve que abdicar da educação logo cedo para sobreviver e ainda sustentar a família. O pai se separou de sua mãe quando ele tinha apenas um ano e seis meses no interior de Alagoas. ?Até os dez anos eu não estudava, porque tive que ir para a rua e ajudar em casa?, revela o garoto de sorriso fácil e o mais velho dos homens da família de cinco filhos de Ilma da Conceição (34), que mora no Conjunto Carminha, no Tabuleiro do Martins, em Maceió, e que só agora começou a estudar. ?Ajudar em casa?, no seu caso, é força de expressão. Em verdade, Daniel assume a casa porque com a renda da lavagem de carros, na Praça dos Martírios, e uma complementação do programa de renda mínima Bolsa-Escola, ele sustenta a mãe (desempregada) e os pequenos Taciana (11 anos); Marcelo (10) ; Paulo (5) e Paula (4). A mãe recebe ainda uma pequena ajuda do genro, casado com sua irmã mais velha de Daniel. ?O Cacá não ajuda mais porque ele vive de aluguel?, faz questão de frisar, reconhecendo o esforço do cunhado, com quem trabalha na lavagem dos carros. A renda do pequeno trabalhador está entre R$ 40 e 60 por semana, da lavagem dos carros, e mais R$ 25 do programa de renda mínima. ?Fico só com uns dez reais e o dinheiro eu entrego todo a minha mãe para a manutenção da casa?, diz, convicto da dura realidade. ?Ele é meus pés e minhas mãos, se não fosse o ?Dani? não sei o que seria de nós e dos pequenos?, diz carinhosamente dona Ilma, que está grávida de sete meses. Seu companheiro atual está desempregado. Com 18 anos completados recentemente, a jovem Irismar Freire Torres pode servir como outro exemplo de adolescente que amadureceu antes do tempo e praticamente não viveu a sua adolescência para se dedicar a afazeres de gente grande. Seus pais se separaram quando tinha 2 anos de idade, em Pernambuco, mas teve que vir para Maceió com a irmã recém-nascida morar com a avó paterna. ?Nós nunca tivemos uma família com pai e mãe. Meus pais se separaram e cada um foi para seu lado. Só na doença de minha irmã é que eles apareciam para resolver alguma coisa?, emociona-se Irismar, ao lembrar do drama que culminou na morte da irmã recentemente, vítima de um câncer. Ela viveu o destino reservado aos arrimos de família: parar de estudar e trabalhar para ajudar no sustento da atual família e ainda cuidar da irmã doente. Irismar começou a trabalhar em casa de família quando tinha apenas 14 anos. A avó sofre de diabetes e hipertensão e é aposentada. Com isso teve de assumir definitivamente todos os afazeres e a renda. Além dela e da avó, a família tem ainda uma tia (hoje desempregada) e um primo, de 10 anos. ?Trabalho em casa de família e juntamente com a renda da minha avó procuro administrar os afazeres domésticos e financeiros?, conclui.

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