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Borracheiro � exemplo de supera��o

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FÁTIMA ALMEIDA Rogério Barros tem 26 anos. Filho mais velho de uma grande família composta de nove irmãos, pai e mãe desempregados, ele começou a trabalhar aos 13 numa borracharia em Matriz do Camaragibe, onde morava, e logo tornou-se arrimo da família, que até hoje ajuda a sustentar. A história seria parecida com a de milhares de brasileiros que integram os bolsões de miséria sobretudo na região nordestina, se não tivesse um ingrediente a mais (ou a menos): faltam a Rogério as duas pernas, decepadas num acidente com um trator, quando tinha apenas 1 ano e 5 meses. A tragédia abalou, com certeza, a vida da família. Rogério nem se lembra como tudo aconteceu. Sabe que estava na calçada da casa onde morava, numa fazenda, e o trator passou por cima de suas pernas. O que veio depois foi a adaptação do corpo e da mente para conviver com a deficiência que o acompanhará para o resto da vida e a luta para ser uma criança “quase” igual às outras. Ele decidiu, desde garoto, que não se acomodaria à situação. Os braços passaram a ser também as pernas de Rogério e, do seu jeito, ele acompanhava os muitos amigos nas brincadeiras ao redor de casa. Com a mesma determinação de quem sonhava um dia trabalhar para se manter, Rogério decidiu, por conta própria, freqüentar a escola. Começou aos 8 anos e cursou até a 8ª série. Um dia recebeu um convite do pai de um de seus amigos: “Vou lhe ensinar a ser borracheiro”. Tinha 13 anos e aceitou aprender. Não ganhava nada, mas ganhou a experiência que lhe permitiu, meses depois, conseguir seu primeiro emprego de verdade. Capacidade “Não foi tão difícil. Pedi emprego numa borracharia, o dono me olhou e perguntou se eu tinha capacidade de fazer o serviço pesado. Pedi para mostrar e comecei imediatamente, ele gostou e eu fiquei trabalhando” – relata. Serviço pesado realmente não é problema para Rogério. Com desenvoltura ele troca até pneu de carreta e dá conta de todo o serviço – leve ou pesado – numa borracharia , nas proximidades do Aeroporto. Tanto que é o único funcionário, e com a confiança plena do proprietário para que toque o negócio. Observar Rogério trabalhando é um alento para quem vive reclamando dos problemas da vida. “É um exemplo de pessoa. Às vezes estou mergulhado em meus próprios problemas e paro um pouco, vou olhar o Rogério trabalhando. Ele me dá inspiração para a vida”- testemunha seu Araújo, que trabalha há seis meses numa serralharia ao lado da borracharia. Ele qualifica Rogério como uma pessoa muito comunicativa, de bem com a vida e com seu trabalho. Rompendo barreiras Na borracharia, Rogério se movimenta de um lado para outro com desenvoltura impressionante. Troca o pneu da motocicleta, remenda, mergulha na água, volta, pega a jante da carreta, sai rolando com uma mão e se apóia na outra para se movimentar. Com a habilidade de quem se acostumou muito cedo a usar os braços no lugar das pernas, ele busca rapidamente a chave de boca em cima da mesa. Como? Uma roda é o degrau do chão para o banco, e do banco ele sobe rapidamente para a mesa. Volta num segundo. No chão, uma jante se transforma num banco improvisado e o próprio pneu lhe dá apoio para os ajustes. Difícil mesmo é rolar o pneu da carreta... difícil nada – Rogério encara o desafio e dá conta, sem esquecer o sorriso que traz sempre no rosto. Não é à toa que ele é considerado um fenômeno; admirado por todos e um exemplo para quem o conhece. Para quem acha que a deficiência é uma limitação intransponível para a vida, ele tem um recado: “Todo mundo é capaz de superar, basta ter vontade, e eu tive. Acho que muita gente com problemas menores pensa que não pode trabalhar. Eu digo que pode. Se essa pessoa quiser, consegue. Pra mim foi mais fácil encontrar coragem de ir à luta do que ter de sair pedindo esmolas de um e de outro”, ensina Rogério.

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