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Barragem causou parte da trag�dia em AL

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Bom Conselho, Pernambuco - Início da tarde do último dia 18 de junho. Dezenas de moradores observam aflitos a Barragem das Nações. Chove forte há cinco dias. O imenso açude construído há mais de 50 anos no leito do Rio Papacacinha, que corta a cidade, está saturado. Desde cedo o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil alertam os moradores do Centro da cidade. Um carro de som alardeia o perigo. Às 13h30, as águas começam a transpor o paredão de quase duzentos metros de comprimento por 12 metros de altura. Não demora muito e o que todos temiam acontece. A Barragem das Nações não suporta a pressão e rompe. Quarenta metros do paredão são arrastados aos poucos. Um volume imenso de água desce furioso o leito do Papacacinha, inunda parte do centro de Bom Conselho, invade casas e desabriga famílias. Pequenos açudes agravaram o problema Bom Conselho, Pernambuco ? Construído há mais de 50 anos sobre o leito do Rio Papacacinha, o Açude das Nações, ou o Açude da Nação, como é conhecido pelos moradores da cidade, é a salvação dos produtores rurais da região nos períodos de seca. É de lá que sai a água que vai irrigar a lavoura e matar a sede dos animais durante o verão. Porém, no inverno, a grande barragem sempre foi motivo de temor para a população, que nunca confiou no seu paredão de barro batido de quase 200 metros de comprimento por 12 metros de altura. A reportagem apurou que a última manutenção no local ocorreu há 20 anos. Segundo alguns moradores ouvidos pela reportagem da Gazeta, durante décadas a possibilidade de rompimento da barragem foi um fantasma a atormentar a população de Bom Conselho. No último dia 18, o que todos temiam aconteceu. A barragem ruiu. Testemunhas relatam momentos tensos Bom Conselho, Pernambuco -Nascido e criado às margens do Papacacinha, o agricultor Severino Ramos da Silva, 45 anos, viveu momentos de aflição. Durante todo o dia, ele sofreu ao acompanhar a subida do nível das águas do rio. ?Nunca tinha visto uma coisa daquela. Passei um sufoco danado. Só pensava na minha família?, conta Severino. Na manhã da última quinta-feira, quando a Gazeta esteve em Bom Conselho, ele trabalhava para tentar aumentar o nível da casa que mora desde que nasceu. No fatídico 18 de junho, o imóvel foi invadido pelas águas. Moradores culpam fábrica por cheia O rompimento do Açude das Nações atingiu diretamente a produção da Fábrica da Brasil Foods, antiga Perdigão, localizada em Bom Conselho. Desde março deste ano, a empresa conseguiu outorga do Governo de Pernambuco para usar a água do açude na produção da fábrica. A empresa utiliza 450 mil litros de água por dia. Na última quinta-feira, funcionários de um empresa terceirizada tentavam resolver o problema da Brasil Foods. Eles tentavam em vão represar parte da água que restou no açude e deixá-la em um nível que os motores pudessem puxar para a fábrica, que fica a pouco mais de um quilômetro local. Prefeita diz que barragem cedeu devagar A prefeita da cidade de Bom Conselho, Judith Alapenha, afirmou que o rompimento do Açude das Nações não pode ser responsabilizado pela enchente que devastou as cidades do Vale do Paraíba, na Zona da Mata de Alagoas. Por telefone, ela conversou com a reportagem da Gazeta, na noite da última sexta-feira. Alapenha disse que a barragem rompeu aos poucos, o que teria segurado a força das águas. ?A barragem foi rompendo aos poucos. Não houve um rompimento brusco que pudesse liberar uma quantidade grande de água para fazer aquele estrago que se viu?, explica a prefeita. Volume de água seria pequeno O secretário de Recursos Hídricos de Pernambuco, João Bosco de Almeida, também descarta a possibilidade de rompimento de barragens ou açudes, cujas águas tivessem descido diretamente para o Rio Mundaú e provocado a tragédia nos municípios de Santana do Mundaú, União dos Palmares, Branquinha, Rio Largo, além de outras cidades. Segundo ele, a grande barragem de Cajueiro, localizada na região de Garanhuns, suportou um volume de 12 milhões de metros cúbicos. ?Por isso digo que o volume de 600 mil metros cúbicos que desceu do Açude das Nações, em Bom Conselho, é muito pequeno?, compara Bosco. ?O que houve na verdade foi uma chuva forte, uma grande tormenta inesperada que nenhum instituto de meteorologia conseguiu prever. Para se ter uma ideia, choveu 450 milímetros em dois dias, o equivalente a um terço do que choveria em toda a região durante o inverno?, explica João Bosco de Almeida. Cidades atingidas já passam por reconstrução | BLEINE OLIVEIRA - Repórter Na semana que se encerra, cerca de 15 dias após a tragédia, o clima nas 28 cidades alagoanas devastadas pela enchente dos rios Mundaú e Paraíba é de limpeza. De um lado a outro vê-se máquinas e equipamentos como retroescavadeiras, caçambas e caminhões sendo usados para tirar das ruas os destroços de casas, lojas e prédios públicos destruídos pela força das águas que deixaram, no Estado, 37 mortos, 69 desaparecidos e mais de 180 mil pessoas afetadas. Os dados oficiais, divulgados na última quinta-feira, 1º, pela Assessoria de Comunicação do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, revelam que 26.618 pessoas estão desabrigadas e 47.897 desalojadas. 20 mil imóveis devem ser construídos A reconstrução de prédios públicos e moradias vai manter o cenário de ?canteiro de obras? nas 28 cidades alagoanas parcial ou totalmente destroçadas pelas águas que lhes transformaram em leito do Rio Mundaú, arrastando tudo em seu caminho. O volume de dinheiro já liberado e anunciado pelo governo federal traz a expectativa real de muitas obras de construção civil na região. Serão construções em todas as áreas: habitação, saúde, educação, administração pública. Para que se tenha ideia das verbas que chegarão a Alagoas, vale informar que o governo do presidente Lula anunciou a liberação de mais de R$ 500 milhões, dinheiro que será dividido com o vizinho Estado de Pernambuco, também assolado pela enchente. O Ministério da Educação, por exemplo, já foi contemplado com R$ 200 milhões, que devem ser encaminhados aos municípios para reconstrução e reforma de escolas. Já o Ministério da Integração Nacional recebeu reforço de R$ 1 bilhão para atender vítimas de desastres naturais, especialmente em Alagoas e Pernambuco. BO Ferrovias foram destruídas por enchente | MARCOS RODRIGUES - Repórter Rio Largo e Quebrangulo ? No interior de Alagoas, o trem não apita mais. A fúria das enchentes, que se abateram sobre o Estado do último dia 18, deixou provisoriamente fora dos trilhos uma das alternativas para o desenvolvimento de Alagoas: as ferrovias. Nas cidades afetadas pela destruição das águas, vagões de carga, trilhos e pontes de ferro sucumbiram. O prejuízo das linhas do interior chega a R$ 50 milhões. A recuperação da parte urbana, que liga os 34 quilômetros de Maceió a Rio Largo, deve custar R$ 14 milhões. Isso porque 10 km foram danificados, prejudicando 4 mil usuários. O trem agora só chega até Satuba. Segundo o presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Elionaldo Magalhães, os estragos não afetaram as obras do Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT. As primeiras composições já estão sendo feitas e devem ser entregues em agosto. População tem dificuldade de se deslocar Rio Largo e Quebrangulo ? Em Rio Largo, o que se vê são ferros retorcidos, composições viradas e acessos arrancados. O valor para recuperar as linhas é alto, cerca de R$ 50 milhões, estima a empresa Transnordestina S.A. A imagem de destruição do pátio de manobras, em Lourenço de Albuquerque, onde fica o fim da linha do trem que sai de Maceió, é desoladora. Toneladas de ferro foram reviradas e arrancadas violentamente do lugar. Vagões foram virados como brinquedos. Um deles foi parar dentro do Rio Mundaú. A ponte de 110 anos, recentemente restaurada, foi arrastada por galhos e restos de construção. Nas duas cabeceiras, a prova da força da natureza. O concreto foi quebrado ?pela cepa?, como dizem os moradores vizinhos à estação. MR Recuperação deve ocorrer até dezembro Rio Largo e Quebrangulo ? Em Quebrangulo, o Rio Paraíba também deixou indícios de como suas águas subiram com violência. Linha e ponte foram arrancadas do lugar. Dentro do leito, os destroços são só mais um amontoado em meio ao lixo. Mesmo assim, o secretário de Desenvolvimento Econômico d Estado, Luiz Otávio Gomes, demonstra otimismo. Durante conversas mantidas com os representantes da Empresa Transnordestina, os técnicos garantiram que até dezembro é possível recuperar o que foi levado. A empresa é a responsável pelo tronco de trilhos que sai de Rio Largo e corta parte do interior. ?Esta semana, técnicos da empresa dedicaram-se a estudar o problema e fazer um diagnóstico?, revelou. MR

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