Artigo
SOLIDÃO E DESPREZO
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Certo dia, conversando com uma jovem, cujo pai estava muito doente, eu perguntei: qual é a doença do seu pai? Ela me respondeu de imediato: a doença do meu pai é solidão e desprezo. Insisti: como pode ser isto? Ela, então, me explicou que a família não cuidava dele em quase nada. Ele, assim, sente-se só e sem poder se tratar. Fiquei penalizado, mas depois me consolei um pouco quando soube que uma filha desse senhor, que mora em Maceió, na folga do seu emprego, vai ao interior do Estado, à casa do pai, e faz o que pode, levando-o ao médico.
Esse fato me fez lembrar, mais uma vez, o livro sagrado do Eclesiástico, que no capítulo terceiro, insiste no relacionamento entre pais e filhos: “Deus honra os pais nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe. Quem honra seu pai intercederá pelos pecados, evitará cair neles e será ouvido na oração cotidiana. Quem respeita sua mãe é como alguém que junta tesouros. Quem honra seu pai terá alegria em seus próprios filhos; e no dia em que orar, será atendido. Quem honra seu pai terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da mãe. Quem teme o Senhor honra seus pais e como a senhores servirá aos que o geraram. Com obras e palavras honra teu pai, para que dele venha sobre ti a bênção. A bênção do pai consolida a casa dos filhos, mas a maldição da mãe destrói até os alicerces. Filho, ama a velhice do teu pai e não lhe causes desgosto enquanto vive. Mesmo que esteja perdendo a lucidez, sê tolerante com ele e não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida. A ajuda prestada a teu pai não será esquecida, mas será plantada em lugar dos teu pecados e contada como justiça para ti; no dia da aflição serás lembrado e teus pecados se dissolverão, como o gelo no dia de sol. Como é infame, quem desampara seu pai, e é amaldiçoado por Deus, quem exaspera sua mãe” (Eclo 3,3-18).
Estas palavras são fortes e merecem uma reflexão profunda. Podem parecer, à primeira vista, um sermão comum e simples, mas na verdade são muitíssimos os casos aqui relacionados. É triste ver não só desprezo dos filhos pelos pais, mas até raiva, maltrato, quando não ódio. Muitos filhos se esquecem do trabalho e dos sacrifícios que seus pais tiveram com eles, quando eram pequenos. Esquecem-se de que, mesmo que os pais não sejam ideais, foram eles que lhes deram a vida; que lhe deram alimento quando eram criancinhas; que os ajudaram a crescer na vida.
Os casos de filhos maus são inúmeros, a tal ponto que já houve fatos de morte entre pais e filhos, por falta de entendimento e de amor. Aproveitemos nossos pais, enquanto vivem, porque são nossa alegria; nos dão, malgrado a velhice e doença, conselhos, força, amizade verdadeira.
