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Nº 5595
Coluna Religião

CONVERSEI COM UM SANTO

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Por Mons. Pedro Teixeira Cavalcante /Teólogo | Edição do dia 22/10/2022 - Matéria atualizada em 22/10/2022 às 04h00

Tive a grande graça de participar de uma audiência privada com o Papa João XXIII. Foi aí que conheci um Papa, santo e Pai. Estava em Roma, já alguns anos. Durante esses anos, não vim ao Brasil, porque naqueles tempos era muito difícil. A viagem era de navio, era cara e demorada.

No final do meu curso de teologia, ordenei-me sacerdote e, poucos dias após, recebi um telegrama de um dos meus irmãos, informando o falecimento do nosso querido pai. Para ajudar a superar minha tristeza, o reitor do Pio Brasileiro me ofereceu a oportunidade de acompanhar um bispo brasileiro em uma audiência privada com o Papa João XXIII. Fiquei feliz e peguei a oferta como uma oportunidade de ouro.

Passei alguns dias me preparando para a audiência e, no dia aprazado, lá estava eu no palácio apostólico. A um dado momento, o Bispo foi chamado para falar com o Papa. Um padre e eu ficamos esperando nossa vez e esta chegou logo.

Quando a porta da sala do Papa se abriu e eu entrei, deparei-me logo de frente do Papa: baixinho, gordinho e vestido de branco. Antes que eu fizesse qualquer gesto ou dissesse qualquer palavra, ele me disse: Meu filho, estou com fome! Fiquei estupefato e não sabia o que dizer. Passado o susto, eu perguntei: Com fome, Santidade? Com efeito, jamais teria pensado que o Papa fosse tão simples a ponto de me confiar sua fome! Para minha maior surpresa, ele me respondeu enquanto batia na barriga: Com fome, com fome e com uma dorzinha aqui! Meu Deus, tive pena do Papa, mas refeito de novo, disse-lhe que era recém ordenado padre e que recebera um telegrama de um irmão, comunicando a morte do nosso pai. Naquele momento, o Papa mudou, esqueceu sua fome, sua dor e começou a me abraçar, enquanto me dizia: Você não está órfão, você tem um novo pai, agora seu pai é o Papa! Passado mais algum tempo, ele me disse: Quer tirar uma foto com seu novo pai? E fomos tirar fotos juntos!

Depois da audiência, quando eu já estava uns dez metros da porta da sala do Papa, esta se abriu e o João XXIII apareceu de novo e disse: Meu filho, venha aqui! Gelei, pensando que receberia o primeiro carão do meu novo pai. Fui até ele e ele me disse: Você não quer uma frase marcante para orientar seu sacerdócio? Eu respondi: Eu ia lhe pedir isso. O Papa, então, disse uma frase lapidar, que até hoje nunca esqueci. Esse fato me confirmou ainda mais que eu tinha conversado com um santo de verdade. Um santo em carne e osso, cheio de amor e compreensão, que adivinhava até os desejos e pensamentos dos irmãos, para fazer-lhes o bem. Obrigado, meu Deus, porque conversei com um santo e ele se tornou meu segundo pai e que, no céu, está me protegendo todos os dias.

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