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Nº 5822
Economia

Safra � boa, mas custo reduz lucro na agricultura

ROBERTO VILANOVA A safra agrícola este ano é a melhor do século, quem plantou colheu, mas só vai ganhar quem não depender da colheita manual. O custo com a mão-de-obra para colher e bater o feijão, por exemplo, consome o lucro porque o preço do saco de 6

Por | Edição do dia 01/09/2002 - Matéria atualizada em 01/09/2002 às 00h00

ROBERTO VILANOVA A safra agrícola este ano é a melhor do século, quem plantou colheu, mas só vai ganhar quem não depender da colheita manual. O custo com a mão-de-obra para colher e bater o feijão, por exemplo, consome o lucro porque o preço do saco de 60 quilos se mantém praticamente estável, oscilando entre 55 e 60 reais, desde o começo do ano – além disso, a lei da oferta e da procura é o regulador natural do mercado. No povoado Lagoa dos Ferros, em Igaci, os agricultores José Milton dos Santos, 35, e Manuel Nunes, 60, comparam o ano aos melhores vividos por seus antepassados – “Poucas vezes vi chover tanto e na época certa”, adiantou Nunes; mas ambos reclamam porque têm de pagar a diária de 5 reais para colher e bater o feijão. Cada um contratou cinco bóias-frias para ajudá-los, com gasto diário de 50 reais somando-se as despesas dos dois, parceiros na mesma roça. As perdas Milton e Nunes representam duas gerações de agricultores alagoanos que cresceram enfrentando dificuldades – ora a falta de chuva, ora a falta de crédito e, hoje, a falta de poder de competição no mercado. E não é só pela falta de acesso à tecnologia (máquinas), mas porque não dispõem de estrutura para armazenar a produção – os únicos armazéns existentes pertencem a particulares ou às cooperativas. “Temos de colher e vender”, disseram – eles plantaram cem tarefas de feijão e esperam colher cerca de 500 sacos. Também plantaram milho, consorciado, e o único recurso de que dispunham para desidratar mais rápido as espigas – a luz do sol – não se irradiou na intensidade que se esperava, pois ainda chove no agreste e sertão do Estado. “O certo é a gente deixar a espiga secar na roça, mas com as chuvas era prejuízo na certa. Tivemos de colher tudo e vender pelo preço que ofereceram, pior é perder”, sustentaram, mostrando os números: no fim da semana, para pagar a um trabalhador era preciso vender um saco e meio – o preço do saco de milho oscila entre 13 e 20 reais. Fumo é pior Até mesmo o comércio de castanha-de-caju sofreu retração na procura, devido à umidade. Com as chuvas, a colheita foi suspensa e os agricultores admitem as perdas resignados – não dá para lutar contra a natureza. Com as chuvas a castanha vira refugo, porque os compradores alegam que precisam da amêndoa e não da água. Os agricultores Milton e Nunes também colhem castanha através de pés que já encontraram na terra – foram os antepassados que plantaram – e não se arriscam a investir no plantio, apesar de o produto ser muito procurado. O preço do saco de 60 quilos de castanha chegou a ser vendido a 42 reais este ano. O algodão também registrou perdas para os agricultores e, desta vez, a causa não é a praga do bicudo, mas a umidade causada pelas chuvas. Com as chuvas o preço do quilo de algodão despencou para 50 centavos e muitos pés ficaram na roça.

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