Economia
Caf� da manh� fica mais caro por causa do d�lar

Enquanto vira, mais uma vez, tema de campanha eleitoral e é motivo para troca de acusações entre Serra e Lula, a política cambial está afetando, cada vez mais, o bolso do brasileiro. Nos últimos meses, a escalada da moeda norte-americana teve impacto em quase todos os preços e já começa a ser percebida até mesmo por quem nunca viu sequer uma cédula de dólar. O pão subiu porque o Trigo, seu principal componente, é importado. O óleo de soja está mais caro, porque o Brasil é grande importador de soja. São as contradições da globalização que podem ser sentidas na padaria da esquina, no mercadinho, nos supermercados e shoppings. Bolso O café da manhã está pesando mais no bolso do brasileiro em razão das pressões provocadas pela alta do dólar. Enquanto a renda média do trabalhador brasileiro fechou com queda de 4,2% no ano (de janeiro a julho), pão francês, manteiga, margarina e leite subiram de preço este ano. De acordo com dados apurados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o pão francês já aumentou 18,69% por conta do efeito do câmbio sobre o preço do trigo. Já a manteiga subiu 9,89% neste ano com o aumento do leite. A margarina, influenciada pelo aumento da soja, subiu 4,42% de janeiro a setembro. A soja é o principal insumo do óleo vegetal usado na margarina. O leite, devido a um ajuste para recompor a queda de preço no ano passado, registrou alta de 14,78% neste ano. Até o açúcar cristal, que embora acumule deflação de 1,80% no ano, apontou um aumento de 1,62% em setembro. E a tendência é que suba mais pois o preço no atacado já se elevou em 8,65% em setembro, segundo o IPA (Índice de Preços no Atacado), calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). O mesmo ocorre com o café. Embora ainda apresente deflação de 2,54% no ano, o produto em grão foi o segundo que mais causou pressão na inflação do atacado em setembro. A alta foi de 24,59% somente no mês passado. O café e o açúcar têm relação com o dólar pois são cotados internacionalmente. Pagando a conta A alta do dólar não se restringe a afetar o mercado financeiro. As sucessivas elevações da moeda norte-americana nos últimos meses causam um efeito forte no bolso do consumidor por conta da inflação que atinge os preços de diversos produtos e serviços. Antes apenas concentrado nos alimentos, o efeito da alta cambial para o cidadão comum agora se espalha para produtos e serviços que poucos imaginavam. Até o serviço funeral foi afetado. O preço médio do serviço no país subiu 1,97% em setembro e 10,71% no ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A razão é que a madeira utilizada no caixão subiu de preço pois o país exporta madeira. Com isso, o preço interno do produto acompanha o valor da madeira vendida no exterior. ?O dólar é muito importante na economia e está presente em quase todos os produtos?, observa a chefe do Departamento de Estudos de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. A técnica explica que inicialmente o efeito do câmbio se dá nos alimentos, especialmente naqueles cujo principal insumo é cotado no mercado internacional, como a soja e o trigo. Os alimentos subiram 1,96% no mês passado e 5,67% neste ano. Neste ano, até setembro, por exemplo, o pão francês (produto feito a partir da farinha de trigo, em sua grande parte importada) aumentou 18,89%. Já o óleo de soja registrou aumento de 37,06%. Eulina explica que o varejo não consegue mais segurar o aumento em seus custos por conta da alta do dólar depois de quatro meses da escalada cambial. Por isso, está repassando seus custos para outros produtos que não são alimentos. É o caso do papel higiênico, que devido à subida da celulose no atacado, aumentou 9,75% no ano. O sabão em pó, que tem alguns de seus ingredientes importados, subiu 2,44% em setembro e 12,84% no ano. Os óculos e lentes, em sua maioria importados, subiram 7,58% no ano. Já os artigos de TV, som e informática acumularam inflação de 4,23% neste ano. Neste grupo, o custo do câmbio está relacionado aos componentes eletro-eletrônicos, quase todos importados. Também subiram em 5,50% os artigos de cama, mesa e banho, porque o algodão tem cotação internacional. Além disso, materiais utilizados na fabricação desses produtos recebem alguma influência do dólar, como os tecidos sintéticos e os plásticos. ?A inflação está se espalhando. Isso ocorre devido à pressão dos custos sobre os produtos nos últimos meses. Muitas vezes essa pressão é absorvida mas o que ocorre agora é o repasse de custos para o consumidor?, afirma Eulina. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice de inflação oficial e utilizado no sistema de metas de inflação do governo foi de 0,72% em setembro e acumulou 5,60% no ano, ultrapassando já no nono mês do ano o teto da meta de inflação traçada pelo governo para todo o ano de 2002, que era de 5,5%.