Economia
Mercado se distancia da economia real

São Paulo - O País parece estar passando por um surto de esquizofrenia econômica. No mercado financeiro, as boas notícias dominam, enquanto no mundo real os indicadores continuam decepcionando. Segundo Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco, um dos principais canais de comunicação entre o mercado financeiro e o mundo real são as taxas de juros futuros. Com o dólar em baixa e a inflação recuando, as pessoas começaram a acreditar que o Banco Central (BC) poderá reduzir a taxa básica de juros, a Selic. Por isso, os juros futuros já estão caindo. ?Os juros futuros de 6 meses ou 1 ano, muito mais do que a Selic, balizam o custo de crédito?, explica Schwartsman. Com crédito mais barato, cresce a possibilidade de retomada dos investimentos. Além disso, a queda dos juros futuros também age sobre as decisões de poupança ou consumo. ?A pessoa vai pesar se compra um papel prefixado de um ano, com rendimento de 24%, ou se está mais atraente investir ou consumir?, explica Schwartsman. O grande porém é a defasagem entre a redução dos juros e a reativação da economia. ?Os juros futuros já caíram, mas isso ainda não se refletiu nas decisões das pessoas.? Economistas acreditam que haja uma defasagem de seis meses para a política monetária ter efeito sobre a atividade econômica. Mas, na prática, é difícil determinar. José Augusto Savasini, sócio da Rosenberg & Associados, diz que, para que haja retorno ao crescimento, é preciso atingir uma estabilidade de preços que não dependa de taxas de juros tão altas. ?Com juros reais na casa de 10%, é muito mais vantagem ficar emprestando dinheiro para o governo do que investir ou consumir.? Na opinião de Octavio de Barros, do BBV Banco, uma queda de juros, por mais modesta que seja, será o gatilho para que a bonança do mercado contamine a economia real. Segundo ele, essa redução também vai agir nas expectativas externas. ?Analistas podem estar pensando - se tudo vai bem no Brasil, por que os juros estão tão altos?? A resposta pode sair na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).